Capítulo 1
OS ANJOS proporcionaram-me a visão d'Ele, e deles é
que eu aprendi tudo; por meio deles também me foi dado compreender as coisas
que pude ver, mas não em relação à geração presente, mas sim em relação a uma
geração futura.
2 Dos eleitos eu falo, e sobre eles dou início às
minhas alegorias: Eis que o Santo desce da sua morada. O Deus Eterno caminha
sobre a terra no alto do monte Sinai (Ele desce da sua posição, Ele se mostra)
e, em seu imenso poder, revela a glória do mais alto do céu.
3 E todos os seres existentes são tomados pelo temor;
os Guardiões tremem, possuídos de grande angústia e medo, até os confins da
terra.
4 As mais altas montanhas hão de tremer e os picos
mais elevados desabarão, derretendo-se como cera ao fogo. A terra será
desmantelada e tudo que sobre ela existe será supresso; e tudo será submetido a
julgamento.
5 Mas com os justos Ele firma a paz, protege os
eleitos e concede-lhes sua graça. Eles constituirão a propriedade de Deus e estarão
na beatitude e na bênção. Ele mesmo a todos protegerá, e a luz divina brilhará
sobre eles. Ele mesmo firmará com eles o pacto da paz.
6 Em verdade! Ele virá com milhares de Santos, para
exercer o julgamento sobre o mundo inteiro e aniquilar todos os malfeitores,
reprimir toda carne pelas más ações tão iniquamente perpetradas e pelas
palavras arrogantes que os pecadores insolentemente proferiram contra Ele.
Capítulo 2
1 Observai com atenção como no céu nenhum dos corpos
altera o seu curso e como as luzes todas do firmamento nascem e se põem, cada
uma no seu tempo preestabelecido, e como jamais transgridem a sua ordem!
2 Considerai a terra! Vede os eventos que do princípio
ao fim sobre ela acontecem, e como nela nada se modifica e como todas as obras
de Deus se manifestam aos nossos olhos! Contemplai o verão e o inverno, e como
a terra toda está repleta de água e como sobre ela se expandem as nuvens, o
orvalho e a chuva!
Capítulo 3
1 Observai e vede a natureza de todas as árvores, que
parecem secas, despojadas de todas as suas folhas, à exceção de quatorze
espécies que não se despem da sua folhagem mas que conservam a antiga por dois
ou três anos, até que brote a nova!
Capítulo 4
1 Observai como no verão o sol se encontra por sobre a
terra, perpendicular a ela! Então procurais lugares frescos e sombra; a terra
está constantemente abrasada, de tal sorte que não podeis pisar no solo ou numa
pedra, por causa do seu calor.
Capítulo 5
1 Observai como as árvores se cobrem de folhas verdes,
e como todos os seus frutos proclamam a honra e a glória de Deus! Prestai
atenção e vede todas as suas obras! Então reconhecereis que foi Aquele que é o
Vivo que assim as fez.
2 Todas as obras por Ele criadas comportam-se de ano
para ano de forma constante; e todas as funções que elas cumprem para Ele não
se modificam de forma alguma; ao contrário, tudo se realiza como Deus ordenou.
Vede como o mar e os rios igual-mente cumprem a sua função!
3 Mas e vós? Não tivestes perseverança e não
cumpristes a Lei do Senhor. Vós caístes, e com as palavras obstinadas e
arrogantes proferidas por vossa boca ultrajastes a Sua Majestade. O duros de
coração! Não haverá paz para vós.
4 Com isso estais a amaldiçoar os vossos dias e pondo
a perder os anos da vossa vida; e os anos da vossa maldição serão avolumados
por uma condenação eterna. Nenhum perdão estará reservado para vós.
5 Então emprestareis o vosso nome aos justos para que
estes o utilizem constantemente para amaldiçoar. Por vosso intermédio, ó vós
todos malditos, eles rogarão pragas; por vosso intermédio, ó vós todos
pecadores e pérfidos, eles esconjurarão.
6 Os eleitos, porém, serão contemplados com a paz, a
luz e a alegria; mas vós, sacrílegos, sereis alvo da renegação. Os eleitos
serão agraciados com a sabedoria; eles viverão e não pecarão nunca mais, nem
por ignorância nem por atrevimento; ao iluminado será concedida mais luz e ao
inteligente mais entendimento.
7 Não pecarão nunca mais nem mais serão julgados por
todos os dias da sua vida, e não haverão de perecer pela ira de Deus; ao contrário,
o número dos seus dias será completado serenamente. A sua vida crescerá na paz,
e muitos serão os anos das suas delícias em que viverão jubilosos e em paz por
toda a sua vida.
Primeira Parte O livro dos Anjos
Capítulo 6
A queda dos Anjos
1 Quando outrora aumentou o número dos filhos dos
homens, nasceram-lhes filhas bonitas e amoráveis. Os Anjos, filhos do céu, ao
verem-nas, desejaram-nas e disseram entre si: "Vamos tomar mulheres dentre
as filhas dos homens e gerar filhos!"
2 Disse-lhes então o seu chefe Semjaza: "Eu
receio não queirais realizar isso, deixando-me no dever de pagar sozinho o
castigo de um grande pecado". Eles responderam-lhe em coro: "Nós
todos estamos dispostos a fazer um juramento, comprometendo-nos a uma maldição
comum mas não abrir mão do plano, e sim executá-lo".
3 Então eles juraram conjuntamente, obrigando-se a
maldições que a todos atingiriam. Eram ao todo duzentos os que, nos dias de
Jared, haviam descido sobre o cume do monte Hermon. Chamaram-no Hermon porque
sobre ele juraram e se comprometeram a maldições comuns.
4 Assim se chamavam os seus chefes: Semjaza, o
superior de todos eles, Arakiba, Rameel, Kokabiel, Tamiel, Ramiel, Danei,
Ezekeel, Narakijal, Azael, Armaros, Batarel, Ananel, Sakeil, Samsapeel,
Satarel, Turel, Jomjael e Sariel. Eram esses os chefes de cada grupo de dez.
Capítulo 7
1 Todos os demais que estavam com eles tomaram
mulheres, e cada um escolheu uma para si. Então começaram a freqüentá-las e a
profanar-se com elas. E eles ensinavam-lhes bruxarias, exorcismos e feitiços, e
familiarizavam-nas com ervas e raízes.
2 Entrementes elas engravidaram e deram à luz a
gigantes de 3.000 côvados de altura. Estes consumiram todas as provisões de
alimentos dos demais homens. E quando as pessoas nada mais tinham para dar-lhes
os gigantes voltaram-se contra elas e começaram a devorá-las.
3 Também começaram a atacar os pássaros, os animais
selvagens, os répteis e os peixes, rasgando com os dentes as suas carnes e
bebendo o seu sangue. Então a terra clamou contra os monstros.
Capítulo 8
1 Azazel ensinou aos homens a confecção de espadas,
facas, escudos e armaduras, abrindo os seus olhos para os metais e para a
maneira de trabalhá-los. Vieram depois os braceletes, os adornos diversos, o
uso dos cosméticos, o embelezamento das pálpebras, toda sorte de pedras
preciosas e a arte das tintas.
2 E assim grassava uma grande impiedade; eles
promoviam a prostituição, conduziam aos excessos e eram corruptos em todos os
sentidos. Semjaza ensinava os esconjuros e as poções de feitiços, Armaros a
dissipação dos esconjuros, Barakijal a astrologia, Kokabel a ciência das
constelações, Ezekeel a observação das nuvens, Arakiel os sinais da terra,
Samsiel os sinais do sol e Sariel as fases da lua.
3 Quando os homens se sentiram prestes a serem aniquilados
levantaram um grande clamor, e seus gritos chegaram ao céu.
Capítulo 9
1 Então Miguel, Uriel, Raphael e Gabriel olharam do
alto do céu e viram a quantidade de sangue derramado sobre a terra e todas as
desgraças que sobrevieram. Eles então falaram entre si: "O clamor da terra
deserta de homens bate mais uma vez às portas do céu. Avós, ó Santos do céu,
invocam assim desoladas as almas humanas: Levai o nosso lamento à presença do
Altíssimo!"
2 Então eles falaram ao Senhor dos mundos: "Tu és
o Senhor dos Senhores, o Deus dos Deuses, o Rei dos Reis. O trono da tua
Majestade permanece ao longo de todas as gerações do mundo; o teu Nome é santo,
glorioso e louvado em todo o universo.
3 "Tudo foi por Ti criado e conservas o domínio
sobre todas as coisas. Tudo é claro e manifestado diante dos teus olhos. Tu vês
tudo e nada pode ocultar-se na tua presença.
4 "Tu vês o que foi perpetrado por Azazel, como
ele ensinou sobre a terra toda espécie de transgressões, revelando os segredos
eternos do céu, forçando os homens ao seu conhecimento; assim procedeu Semjaza,
a quem conferiste o comando sobre os seus subalternos.
5 "Eles procuraram as filhas dos homens sobre a
terra, deitaram-se com elas e tornaram-se impuros; familiarizaram-nas com toda
sorte de pecados. As mulheres pariram gigantes e, em conseqüência, toda a terra
encheu-se de sangue e de calamidades.
6 "Agora clamam as almas dos que morreram, e o
seu lamento chega às portas do céu. Os seus clamores se levantam ao alto, e em
face de toda a impiedade que se espalhou sobre a terra não podem cessar os seus
queixumes.
7 "E Tu sabes de tudo, antes mesmo que aconteça.
Tu vês tudo isso e consentes. Não nos dizes o que devemos fazer."
Capítulo 10
1 Então o Altíssimo, o Santo, o Grande, tomou a
palavra e enviou Uriel ao filho de Lamech, com a ordem seguinte:
"Dize-lhe, em meu nome: 'Esconde-te!', e anuncia-lhe o fim próximo! Pois o
mundo inteiro será destruído; um dilúvio cobrirá toda a terra e aniquilará tudo
o que sobre ela existe.
2 "Comunica-lhe que ele poderá salvar-se, e que
seus descendentes serão mantidos por todas as gerações do mundo!"
3 E a Raphael disse o Senhor: "Amarra Azazel de
mãos e pés e lança-o nas trevas! Cava um buraco no deserto de Dudael e atira-o
ao fundo! Deposita pedras ásperas e pontiagudas por baixo dele e cobre-o de
escuridão! Deixa-o permanecer lá para sempre e veda-lhe o rosto, para que não
veja a luz!
4 "No dia do grande Juízo ele deverá ser
arremessado ao arremedo de fogo! Purifica a terra, corrompida pelos Anjos, e
anuncia-lhe a Salvação, para que terminem os seus sofrimentos e não se percam
todos os filhos dos homens, em virtude das coisas secretas que os Guardiões
revelaram e ensinaram aos seus filhos! Toda a terra está corrompida por causa
das obras transmitidas por Azazel. A ele atribui todos os pecados!"
5 E a Gabriel disse o Senhor: "Levanta a guerra
entre os bastardos, os monstros, os filhos das prostituídas e extirpa-os do
meio dos homens, juntamente com todos os filhos dos Guardiões! Instiga-os uns
contra os outros, para que na batalha se eliminem mutuamente! Não se prolongue
por mais tempo a sua vida! Nenhum rogo dos pais em favor dos seus filhos deverá
ser atendido; eles esperam ter vida para sempre, e que cada um viva quinhentos
anos".
6 A Miguel disse o Senhor: "Vai e põe a ferros
Semjaza e os seus sequazes, que se misturaram com as mulheres e com elas se
contaminaram de todas as suas impurezas!
7 "Quando os seus filhos se tiverem eliminado
mutuamente, e quando os pais tiverem presenciado o extermínio dos seus amados
filhos, amarra-os por sete gerações nos vales da terra, até o dia do seu
julgamento, até o dia do Juízo Final!
8 "Nesse dia, eles serão atirados ao abismo de
fogo, na reclusão e no tormento, onde ficarão encerrados para todo o sempre. E
todo aquele que for sentenciado à condenação eterna seja juntado a eles, e seja
com eles mantido em correntes, até o fim de todas as gerações.
9 "Extermina os espíritos de todos os monstros,
junta-mente com todos os filhos dos Guardiões, porque eles maltrataram os
homens! Purga a terra de todo ato de violência! Toda obra má deve ser
eliminada! Que floresça a árvore da Verdade e da Justiça. O sinal da bênção
será o seguinte: as obras da Verdade e da Justiça sempre serão semeadas na
alegria verdadeira.
10 "Então florescerão os justos e haverão de
viver até gerarem mil filhos, e completarão em paz todos os dias da sua
juventude e da sua velhice. Então toda a terra será cultivada com a Justiça,
inteiramente plantada de árvores, e cheia de bênção.
11 "Toda espécie de árvore boa será plantada sobre
ela, igualmente videiras; e as videiras produzirão uvas em abundância. De todas
as sementes que forem semeadas uma medida produzirá mil outras; e uma medida de
olivas dará dez cubas de óleo.
12 "Purifica a terra de todo ato de violência, de
toda injustiça, de todo pecado e impiedade; elimina toda a impudicícia que
sobre ela se pratica! Todos os homens serão justos, todos os povos me prestarão
honra e glória, e todos me adorarão.
13 "A terra então ficará expurgada de toda
maldade, de todo pecado, de toda praga, de todo tormento; e nunca mais mandarei
sobre ela um dilúvio, ao longo de todas as gerações, por toda a eternidade.
Capítulo 11
1 "Naqueles dias eu abrirei as câmaras dos
depósitos da bênção do céu e deixa-las-ei derramar-se sobre a terra, sobre as obras
e os trabalhos dos filhos dos homens.
2 "Então a Verdade e a Paz juntar-se-ão por todos
os dias da terra e por todas as gerações dos homens."
Capítulo 12
1 Enoque havia desaparecido, e nenhum dos filhos dos
homens sabia onde ele se encontrava, onde se ocultava e o que era feito dele. O
que ocorrera é que ele havia estado junto dos Guardiões e transcorreu os seus
dias na companhia dos Santos.
2 Eu, Enoque, ergui-me e louvei o Senhor da Majestade
e Rei do mundo. Então os Guardiões me chamaram, a mim Enoque, o Escriba, e
disseram-me: "Enoque, tu, o Escriba da Justiça, vai e anuncia aos
Guardiões do céu que perderam as alturas do paraíso e os lugares santos e
eternos, que se corromperam com mulheres à moda dos homens, que se casaram com
elas, produzindo assim grande desgraça sobre a terra; anuncia-lhes: `Não
encontrareis nem paz nem perdão'. Da mesma forma como se alegram com seus
filhos, presenciarão também o massacre dos seus queridos, e suspirarão com a
sua desgraça. Eles suplicarão sem cessar, mas não obterão nem clemência nem
paz!"
Capítulo 13
1 Então Enoque encaminhou-se até eles e assim falou a
Azazel: "Tu não terás a paz. Uma sentença severa recaiu sobre ti: deverás
ser acorrentado. Não alcançarás indulgência nem será aceita a intercessão, por
causa dos atos violadores que ensinaste a praticar, e por causa de todas as
obras blasfemas, da violência e dos pecados que mostraste aos homens".
2 Então eu dirigi a palavra a todos eles. Todos
encheram-se de grande medo e foram tomados de pavor e tremor. Suplicaram-me que
lhes escrevesse um rogo intercessório, para que pudessem obter o perdão, e que
eu lesse o seu pedido na presença do Senhor dos céus.
3 Pois a partir de então não lhes era mais permitido
falar com Ele, nem levantar os seus olhos para o céu, de vergonha pelos seus
delitos, pelos quais foram castigados.
4 Assim, eu redigi o seu rogo de súplica, falando da
sua condição de espíritos e dos seus atos individualmente praticados, e
contendo o seu pedido especial de clemência e perdão. Então pus-me a caminho e
assentei-me junto às águas do Dan, na terra de Dan, que se situa a sudoeste do
Hermon; proferi em voz alta o seu pedido, depois adormeci.
5 Tive sonhos e sobrevieram-me visões; vi imagens de
julgamentos e uma voz falou dentro de mim, dizendo-me que fosse anunciar isso
aos filhos do céu e adverti-los.
6 Quando acordei, encaminhei-me até eles. Encontrei-os
todos sentados a chorar, no Jail de Abel, entre o Líbano e o Senir.
Relatei-lhes todas as visões que tivera durante o sono; comecei a pronunciar as
palavras da Justiça e a advertir os Guardiões celestes.
Capítulo 14
1 Este é o livro das palavras da Justiça e da
advertência aos Guardiões eternos, segundo o que o grande Santo ordenara
naquela visão. Eu vi durante o meu sono tudo o que agora vou narrar com a minha
língua carnal e com o sopro da minha boca; Deus concedeu os mesmos aos homens
para que possam pronunciar as palavras e entendê-las com o coração.
2 Da mesma forma como Ele criou os homens e deu-lhes o
dom de entender palavras de sabedoria, assim também criou a mim e transmitiu-me
a incumbência de advertir os Guardiões, os filhos do céu.
3 Eu havia redigido o vosso pedido, mas na visão que
tive foi-me revelado que o vosso rogo jamais será atendido, mas, ao contrário,
que a sentença que sobre vós recaiu é definitiva e nada vos será concedido.
4 Daqui por diante nunca mais havereis de subir ao
céu; mas foi determinado que sejais acorrentados aqui na terra por todos os
tempos. Antes disso, porém, devereis presenciar o extermínio dos vossos amados
filhos. Nenhum deles restará; todos sucumbirão pela espada, aos vossos olhos.
5 Vosso pedido em favor deles não será aceito, como
não o foi o vosso próprio, a despeito de vosso choro e súplicas, e não o seria
mesmo que pronunciásseis todas as palavras do escrito por mim redigido.
6 Na visão foi-me dado presenciar o quadro seguinte:
nuvens levaram-me ao interior da imagem, e uma névoa arrebatou-me ao alto; o
curso das estrelas e dos raios conduzia-me e me impelia, e ventos
transportando-me ao alto daquele panorama. Eles conduziram-me ao céu.
7 Eu entrei por ele, até defrontar-me com um muro,
todo feito de cristal e circundado de línguas de fogo. Isso começou a
inspirar-me grande medo. Todavia, eu entrei pelas línguas de fogo adentro e
aproximei-me de uma grande casa, toda construída de cristal. As paredes da casa
assemelhavam-se a um assoalho assentado em cristal; e de cristal eram também os
fundamentos da casa.
8 Seu teto era como o curso das estrelas e dos raios;
e de permeio havia querubins; seu céu era límpido como a água. Mas um mar de
fogo circundava as suas paredes, e suas portas flamejavam.
9 E eu entrei naquela casa, que era quente como o fogo
e fria como a neve; dentro dela não existia acomodação alguma; fiquei prostrado
de medo e tomado pelo tremor. Caí com a face por terra; e na visão que tive
observei o seguinte:
10 Havia lá uma outra casa, maior ainda do que a
primeira; todas as suas portas estavam abertas diante de mim; era feita de
línguas de fogo. Em todos os seus aspectos ela revelava brilho, fausto e
grandeza, de tal sorte que eu não saberia como descrever-vos sua magnificência
e tamanho.
11 Seu chão era de fogo; suas partes superiores
representavam raios e órbitas estelares, e sua cobertura era de fogo
flamejante. Olhei, e vi dentro dela um trono muito alto. Sua aparência era como
que circular, e as rodas que possuí apareciam-se com o sol brilhante; era a
visão do querubim.
12 Por baixo do trono saíam jatos de fogo flamejante.
A grande Majestade assentava-se sobre ele; suas vestes eram mais brilhantes do
que o sol e mais brancas do que a neve. Nenhum dos Anjos podia aproximar-se;
nem conseguiam encarar sua face por causa do seu esplendor e majestade. Nenhuma
carne podia ousar olhá-lo.
13 Ao redor dele havia fogo flamejante; na frente
dele, um fogo poderoso, e ninguém por perto podia aproximar-se. A volta, em
círculo, postavam-se dez mil vezes dez mil em sua presença; Ele, porém, não
necessitava de conselheiro algum.
14 Os Seres mais santos, que se encontravam na sua
proximidade, d'Ele não se afastavam nem de dia nem de noite; de forma alguma o
abandonavam. Até esse momento, eu jazia com a face por terra, a tremer. Então o
Senhor por sua própria boca dirigiu-se a mim e disse: "Aproxima-te,
Enoque! Escuta a minha palavra!"
15 Então um dos Santos chegou até onde eu estava e
despertou-me do meu torpor; fez-me levantar e conduziu-me até o vestíbulo; eu
porém deixei pender minha cabeça.
Capítulo 15
1 Ele tomou a palavra, e falou comigo; e eu prestei
atenção à sua voz: "Não temas, Enoque, homem honesto e Escriba da Justiça!
Vem até aqui e escuta as minhas palavras. Vai e dize aos Guardiões do céu que
te enviaram como seu intercessor: Sois vós que devíeis interceder pelos homens,
não os homens por vós!
2 "Por que motivo abandonastes o alto do céu,
santo e eterno, dormistes com mulheres, vos contaminastes com as filhas dos
homens, tomastes a elas por esposas, comportando-vos como os filhos da terra e
gerando filhos gigantes?
3 "'Vós éreis santos, seres espirituais,
detentores de uma vida eterna, mas depois vos deixastes corromper pelo sangue
das mulheres e gerastes filhos com o sangue carnal, e com isso, desejando o
sangue humano, e produzindo carne e sangue, vos igualastes àqueles que são
mortais e transitórios.
4 "`Por isso, eu concedi a essas mulheres, que
com eles coabitaram, e que com eles geraram filhos, que nada lhes falte sobre a
terra. Vós, porém, fostes anteriormente espíritos eternos, destinados a serdes
imortais ao longo de todas as gerações do mundo. Por isso eu não criei para vós
mulheres, pois os espíritos do céu possuem no céu a sua morada.
5 Os gigantes, porém, que foram gerados do espírito e
da carne, serão chamados na terra de espíritos maus; eles também terão a sua
morada na terra. Do corpo delas procederam espíritos maus; pois, embora
nascidos de humanos, é dos Guardiões santos o seu princípio e origem primeira.
Eles serão espíritos corruptos sobre a terra. e assim chamar-se-ão.
6 Os espíritos do céu, no céu têm a sua morada; mas os
espíritos da terra, que na terra foram nascidos, nesta terão a sua morada. Os
espíritos dos gigantes são cheios de maldade, cometem atos de violência,
destroem, agridem, brigam, promovem a devastação sobre a terra e instauram por
toda parte a confusão. Pois, embora famintos, não comem; bebem, e continuam a
ter sede. E esses espíritos levantam-se contra os filhos dos homens e contra as
mulheres, pois destas procederam.
Capítulo 16
1 A partir dos dias da matança, do extermínio e da
morte dos gigantes, quando os Espíritos abandonarem seu corpo carnal sem
sofrerem julgamento e condenação, eles continuarão a agir daquela maneira
perversa, até o dia do grande Juízo Final, quando então o mundo acabará
completamente para os Guardiões e para todos os ímpios.
2 "Dize agora aos Guardiões, que outrora moravam
no céu, e que te enviaram como seu intercessor: 'Vós estáveis no céu. Nem todos
os segredos vos foram revelados; contudo conhecíeis um segredo que não convinha
passar, e na vossa imprudência o transmitistes às mulheres. Através da
revelação desse segredo, homens e mulheres praticam muitas desgraças sobre a
terra'. Portanto dize-lhes: 'Vós não tereis nenhuma paz'!"
As viagens de Enoque
Relato da primeira viagem:
Capítulo 17
1 Tomaram-me então e transportaram-me a um lugar onde
as coisas se apresentavam como chamas de fogo, e, quando queriam, podiam
transformar-se em formas humanas. Depois levaram-me ao lugar das trevas e sobre
uma montanha cujo cume alcançava o céu.
2 Eu vi o lugar das luminárias, os reservatórios das
estrelas e dos trovões e, nas profundidades mais distantes, um arco de fogo com
setas e sua alijava, uma espada de fogo e todos os relâmpagos.
3 Depois transportaram-me ao lugar das águas vivas e
do fogo ocidental, que recebe o sol da tarde. Então cheguei a uma torrente de
fogo, cuja incandescência fluía como a água, e que se derramava num grande
oceano.
4 Então eu vi as grandes correntes de água, e cheguei
até o grande rio e a grande escuridão; depois cheguei aos lugares para onde se
encaminha toda a carne. Eu vi as montanhas da escuridão do inverno e os lugares
para onde fluem todas as águas das profundezas.
5 Então eu vi a foz de todos os rios da terra e a
desembocadura das águas profundas.
Capítulo 18
1 Eu vi as câmaras de todos os ventos; eu vi como Ele
adornava toda a terra por meio deles; eu vi também os alicerces da terra. Eu vi
a cumeeira da terra; eu vi os quatro ventos que suportam (a terra e) o
firmamento. Eu vi como os ventos expandiam a abóbada celeste, e como a sua
posição se situava entre o céu e a terra; eles constituem as colunas do céu.
2 Eu vi os ventos que fazem girar o céu e movimentam o
disco solar e as estrelas, até o seu ocaso. Eu vi os ventos que sobre a terra
transportam as nuvens; eu vi os caminhos dos Anjos; eu vi, nos confins da
terra, o firmamento que se sustenta nas alturas.
3 Depois eu
fui em direção ao sul e vi um lugar que ardia todo o tempo; ali encontram-se
sete montanhas de pedras preciosas, três delas do lado leste e três do lado
sul. Das do lado leste, uma é de pedras coloridas, outra de pérolas e outra de
topázio; as do lado sul são formadas de pedras vermelhas.
4 A montanha do meio alcança o céu; assemelha-se ao
trono de Deus, e é feita de alabastro; o ápice do trono é de safira. Vi então
um fogo flamejante. Para além daquelas montanhas existe um lugar que representa
o fim da grande terra; lá o próprio céu chega ao seu fim.
5 Então eu vi um abismo com colunas de fogo da altura
do céu, e vi depois essas mesmas colunas ruindo; elas são incomensuráveis,
tanto em altura como em profundidade. Atrás desse abismo eu vi uma região que por
cima não tinha firmamento e por baixo não tinha bases terrestres firmes; sobre
ela não havia nem água nem pássaros; era um lugar deserto e horrível.
6 Lá eu vi sete estrelas, como montanhas grandes e
ardentes. Quando perguntei sobre elas, disse o Anjo: "Este é o lugar em
que o céu e a terra acabam; esta é a prisão das estrelas e das legiões dos
corpos celestes.
7 "E as estrelas que circulam sobre o fogo são
aquelas que no início do seu curso transgrediram as ordens de Deus, não
aparecendo no seu devido tempo. Assim, Ele encolerizou-se com elas e prendeu-as
por dez mil anos, até o tempo em que estiver expiado o seu pecado."
Capítulo 19
1 Então disse-me Uriel "Aqui é o lugar onde
ficarão os Anjos que se misturaram com as mulheres, como também os seus Espíritos,
que assumem formas variadas e que corrompem os homens. Também seduzem a estes,
fazendo-os prestar culto aos demônios como se fossem deuses. Aqui eles ficarão
até o grande dia do Juízo, quando serão sentenciados à aniquilação completa. As
mulheres seduzidas pelos Anjos, serão transformadas em sereias".
2 Eu, Enoque, vi sozinho essa visão do fim de todas as
coisas, e ninguém a verá como eu vi.
Relato da segunda viagem
Capítulo 20
1 As funções dos Anjos vigias são as seguintes:
2 Uriel, um dos santos Anjos, preside ao mundo e ao
tártaro;
3 Raphael, um dos santos Anjos, dirige os espíritos
dos homens;
4 Raguel, um dos santos Anjos, exerce a vingança no
mundo das Luzes;
5 Miguel, um dos santos Anjos, foi estabelecido sobre
a parte melhor dos homens, sobre o povo de Israel e sobre o Caos;
6 Sarakael, um dos santos Anjos, foi estabelecido como
o vigia dos Espíritos que induzem os outros espíritos ao pecado;
7 Gabriel, um dos santos: Anjos, preside ao Paraíso,
às Serpentes e aos Querubins;
8 Remiel, um dos santos, Anjos, foi por Deus incumbido
de presidir aos ressuscitados.
Capítulo 21
1 Fui levado em frente até a região onde as coisas
constituíam um caos. Lá eu vi algo de espantoso; não se via nem um céu por cima
nem uma terra firme por baixo, mas tão somente um lugar desolado horrível. Lá
eu vi sete Estrelas celestes, aprisionadas àquele lugar, semelhantes a grandes
montanhas abrasadas de fogo.
2 Então eu perguntei: "Em nome de que pecado
foram elas aprisionadas e por que foram confinadas neste lugar?"
3 Então disse-me Uriel, um dos santos Anjos que
estavam comigo e era o meu condutor: "Enoque! Por que perguntas e por que
pões tanto empenho em conhecer a Verdade? Aquelas são as Estrelas do céu que
transgrediram as ordens de Deus; aqui elas permanecem aprisionadas, até que
transcorram os dez mil anos, o tempo do seu pecado".
4 Dali partimos para uma outra região, ainda mais
horrorosa do que a anterior. Lá eu vi coisas de causar espanto. Havia um fogo
imenso lançando grandes labaredas e o seu âmbito chegava até o fundo do abismo,
e era cheio de colunas de fogo que despencavam. Não consegui perceber nem
avaliar a sua extensão e profundidade. Então eu exclamei: "Como é medonho
este lugar e como é horroroso de se ver!"
5 Então respondeu-me Uriel, um dos santos Anjos que
estava comigo, dizendo: "Enoque! Por que tanto te assustas e te
espantas?" Eu disse: "E por causa deste lugar assustador e de
horrível aspecto."
6 Então ele falou-me: "Este lugar é a prisão dos
Anjos; aqui eles ficarão reclusos até a eternidade".
Capítulo 22
1 Dali partimos para um outro lugar, e Ele mostrou-me
do lado do Ocidente um conjunto de montanhas imensas e altas, de rocha maciça.
Havia lá quatro cavernas, profundas, amplas e lisas; três delas eram escuras e
uma clara, tendo no centro dela uma fonte de água. Então eu disse: "Como
são lisas essas cavernas! Como são profundas e escuras!"
2 Respondeu-me então Raphael, um dos santos Anjos que
estavam comigo: "Estas cavernas foram criadas para abrigar as almas
daqueles que morreram. Foram criadas para reunir todas as almas dos filhos dos
homens. Estes lugares foram constituídos para sua morada, até o dia do seu
Julgamento, até o final do prazo e do tempo preestabelecidos, quando então
ocorrerá sua sentença".
3 Então eu ouvi os gemidos do espírito de um dos
filhos dos homens, que havia morri do, e cujos lamentos chegavam até o céu.
Perguntei então ao anjo Raphael, que estava junto de mim: "De quem é este
espírito que se lamenta? De quem é esta voz, cujo gemido chega até o céu?"
4 Então Ele falou-me: "Este é o espírito que saiu
de Abel. Ele foi golpeado e morto por seu irmão Caim, e assim emite queixas
contra ele, até que os descendentes deste sejam eliminados da terra e a sua
raça desapareça dentre os homens".
5 Em seguida perguntei sobre as cavernas: "Por
que estão separadas umas das outras?" Respondeu-me: "Três destes
espaços foram preparados para manter segregados os espíritos dos que estão
mortos; mas uma seção foi reservada para os espíritos dos justos, onde jorra
uma fonte de águas límpidas.
6 "Dessa forma, há um espaço que foi preparado
para os pecadores que, ao morrerem e serem enterrados, não chegaram a sofrer em
vida uma sentença. Ali suas almas ficarão isoladas até o grande dia do Juízo, o
dia do castigo e do sofrimento reservados aos que foram condenados para sempre,
quando então se exercerá a vingança das suas almas; nesse lugar Ele os manterá
aprisionados até à eternidade.
7 "Existe igualmente outra seção que se destina
às almas dos queixosos, dos que reivindicam justiça por sua ruína, por terem
sido mortos nos dias dos pecadores. E uma outra seção foi feita para aqueles
homens que não foram justos, mas sim pecadores, totalmente ímpios e cúmplices
dos perversos; suas almas não serão castigadas no dia do Juízo, mas também não
serão ressuscitadas."
8 Então eu louvei ao Deus da Glória, dizendo:
"Glorificado sejas Tu, Senhor, Justo Juiz do mundo".
Capítulo 23
1 Dali eu fui a um outro lugar, no Ocidente, até os
confins da terra. Lá eu vi um fogo flamejante que se deslocava constantemente
de cá para lá, e que não cessava o seu movimento regular nem de dia nem de
noite, mas ao contrário mantinha-se sempre igual.
2 Eu
perguntei: "Que é essa coisa incansável?" Então respondeu-me Raguel,
um dos santos Anjos que estavam comigo: "Esse fogo ambulante, que viste no
Ocidente, é o fogo que abastece todas as luminárias do céu".
Capítulo 24
1 Daquele ponto, fui a um outro lugar da terra, e Ele
mostrou-me um conjunto de montanhas de fogo que ardiam dia e noite.
2 Passei por cima delas e observei sete montes magníficos,
todos diferentes uns dos outros, cujas rochas eram imponentes e belas, no seu
todo, de agradável aspecto e de formas bonitas. Três dos montes situavam-se do
lado oriental, sobrepostos uns aos outros; três do lado Sul, também
sobre-postos, e entre eles desfiladeiros íngremes e profundos, que não
confinavam uns com os outros.
3 A sétima montanha situava-se entre as anteriores,
superava-as em altura e era parecida com a sede de um trono; árvores odoríferas
circundavam esse trono.
4 Entre essas árvores havia uma cujo perfume eu jamais
havia experimentado. Nenhuma daquelas árvores, nem qualquer outra, podia
comparar-se com ela. Difundia mais perfume do que todos os incensos; suas
folhas, suas flores e seu lenho não fenecem nunca, e sua fruta é maravilhosa, parecida
com a tâmara.
5 Eu falei então: "Como é bela esta árvore! Como
são perfumadas e bonitas as suas folhas Como são deliciosas para os olhos suas
flores!" Respondeu-me então Miguel, um dos santos e honrados Anjos que
estavam comigo, o superior deles.
Capítulo 25
1 Ele falou-me: "Enoque! Por que perguntas e
admiras o perfume desta árvore e procuras saber a Verdade?" Então eu,
Enoque, respondi, dizendo: "Sobre todas as coisas eu gostaria de saber
algo, e de modo muito particular sobre esta árvore".
2 Ele respondeu-me: "Aquela montanha alta que
viste, e cujo cume se parece com o trono de Deus, é de fato o seu trono, sobre
o qual o Santo, o Grande, o Único, o Senhor da Glória, o Rei Eterno se
assentará quando descer para visitar a terra e agraciá-la com a sua bênção.
3 "Esta árvore, todavia, não poderá ser tocada
por nenhum mortal até o dia do Grande Julgamento, quando Ele tomará as contas
de todos até o último ceitil; então essa árvore será entregue aos justos e aos
santos. Os seus frutos então servirão de alimento para os escolhidos; ela será
transplantada para o lugar santo, no templo do Senhor, o Rei Eterno.
4 "Então eles se alegrarão sobremodo e caminharão
com alegria pelos lugares santos; o aroma da árvore penetrará até os seus
ossos. Levarão sobre a terra uma vida mais longa do que os seus Patriarcas, e
nos seus dias não sofrerão nem tristezas, nem dores, nem cansaços, nem
pragas."
5 Então eu louvei o Rei da Glória, o Rei da
Eternidade, por ter preparado, criado e assegurado tais coisas para os justos.
Capítulo 26
1 Dali eu parti para o meio da terra e contemplei um
lugar abençoado e frutífero, onde havia árvores com galhos que brotavam e
floriam dos ramos podados. Lá, igualmente, eu vi uma montanha santa, e ao sopé
da mesma, do lado leste, um rio que corria na direção do sul.
2 Do lado do Oriente vi ainda uma outra montanha, mais
alta do que aquela, e, dividindo-se as duas, uma garganta estreita e profunda;
ela era o leito do rio que nascia ao pé da montanha.
3 Do lado ocidental havia outra montanha, mais baixa
do que a anterior e de porte menor; entre estas e as anteriores havia um
desfiladeiro profundo; outro desfiladeiro, também profundo, e seco, abria-se no
extremo da montanha.
4 Esses profundos desfiladeiros eram estreitos, de
rocha dura; nenhuma árvore crescia ali. Admirei-me com as rochas;espantei-me
com os desfiladeiros; e tudo aquilo maravilhou-me sobremaneira.
Capítulo 27
1 Então eu falei: "Para que serve esta terra
abençoada, repleta de árvores, e para que estes desfiladeiros malditos no meio
dela?"
2 Respondeu-me então Uriel, um dos santos Anjos que
estavam comigo, e disse: "Aquela garganta maldita que viste foi destinada
aos eternamente malditos; ali serão agrupados todos aqueles que, com a sua
boca, proferem coisas desrespeitosas contra Deus e falam com insolência da sua
Glória. Ali eles serão reunidos; será o lugar do seu Julgamento.
3 "Nos últimos dias, realizar-se-á o espetáculo
de um julgamento definitivo sobre eles, na presença dos justos; ali os piedosos
louvarão ao Rei da Glória, ao Senhor da Eternidade. No dia do Julgamento dos
pecadores os justos O louvarão por causa da sua misericórdia, por Ele
manifestada para com eles."
4 Então eu dei graças ao Rei da Glória, proclamei a
sua honra e entoei um cato de louvor a Ele.
Capítulo 28
1 Dali eu fui (na direção do Oriente) até o meio das
montanhas do deserto; lá eu vi uma estepe. Era um lugar solitário, mas
palmilhado de árvores e vegetação; e dos pontos altos jorrava água. Esta fluía
na direção noroeste, como um rico manancial de águas e formava nuvens e orvalho
que se. levantavam de todos os lados.
Capítulo 29
1 Dali eu fui para um outro lugar do deserto e
aproximei-me do lado oriental daquelas montanhas. Lá eu vi plantas aromáticas
que reascendiam a incenso e mirra, e elas pareciam-se com a amendoeira.
Capítulo 30
1 Então eu fui mais adiante, para o Oriente, e vi um
outro sítio muito grande, com águas que se precipitavam nos despenhadeiros. Ali
havia uma árvore cuja aparência era de planta aromática, semelhante à almécega.
A beira daqueles vales eu vi a caneleira olorosa; então eu fui ainda mais
adiante, para o leste.
Capítulo 31
1 Eu vi outras montanhas; sobre elas havia bosques de
onde fluía o néctar, o chamado bálsamo ou ungüento.
2 Atrás daquelas montanhas eu vi outra, ao leste da
região; sobre ela havia plantas de aloés, e todas as demais árvores gotejavam
resina, semelhantemente às amendoeiras. Ao triturar-se a sua fruta, ela exalava
toda sorte de olores.
Capítulo 32
1 Por sobre as montanhas ao nordeste vi sete montes
cheios de nardo precioso, almécegas, nela e pimenta. Dali transportei-me por
sobre os cumes de todas essas montanhas, na direção oriental da terra; passei
pelo mar da Eritréia e depois, afastando-me dele, sobrevoei o Zotiel.
2 Então cheguei ao Jardim da Justiça e vi, dentre as
demais plantas, muitas e grandes árvores que ali cresciam; e elas eram
aromáticas, muito bonitas, altas e majestosas. Entre estas encontrava-se a
Árvore da Sabedoria, de cujo fruto comem os Santos e alcançam grande sapiência.
3 Essa árvore, pela sua fronde, assemelha-se ao
pinheiro; sua folhagem é parecida com a da alfarrobeira; o seu fruto é tão
delicioso quanto as uvas de vinho; e o seu perfume é percebido a grande
distância. Então eu exclamei: "Como é bela esta árvore e como é agradável
o seu aspecto!"
4 Respondeu-me o santo Anjo Raphael, que estava
comigo, e disse: "Esta é a Árvore da Sabedoria, da qual o teu antigo pai e
tua antiga mãe comeram, antes do teu tempo. Com isso, eles conheceram o saber;
os seus olhos se abriram e eles reconheceram que estavam nus. Então eles foram
expulsos do Paraíso".
Capítulo 33
1 Dali eu fui mais em frente, até os confins da terra;
lá eu vi animais de grande porte, todos diferentes uns dos outros; também
pássaros que divergiam na aparência, beleza e voz, igualmente diferentes uns
dos outros. Mais ao leste de onde estavam esses animais eu vi os extremos da
terra, sobre os quais repousa o céu da terra; os portais do céu estavam
abertos.
2 Eu vi as estrelas do céu se aproximarem, contei os
portões por onde elas apareciam, anotei a saída de todas, e em relação a todas
anotei especialmente o número, o nome, as conexões, as posições, os períodos e
meses, tudo segundo me mostrava o Anjo Uriel, que estava comigo. Ele
mostrava-me tudo, transcrevendo ao mesmo tempo; transcreveu para mim o nome de
cada uma e suas leis, bem como as suas acompanhantes.
Capítulo 34
1 Dali segui na direção do norte, aos confins da
terra; lá eu presenciei um grande e majestoso prodígio, nos extremos do mundo.
Vi três portais celestes abertos; através de cada um deles procedem ventos do
Norte. Quando sopram, vêm o frio, o granizo, a geada, a neve, o orvalho e a
chuva.
2 De um dos portais eles sopram favoravelmente;
quando, porém, sopram dos outros dois, é com violência. E soprando com
violência eles espalham privações sobre a terra.
Capítulo 35
1 Dali tomei o rumo do Ocidente, até os confins da
terra; nesse lugar vi três portões abertos, semelhantemente aos que vira no
Oriente; os mesmos portões, com suas aberturas.
Capítulo 36
1 Dali parti para o sul, até os confins da terra; lá
vi três portões celestes abertos. Deles provêm os ventos do Sul, assim como
orvalho e chuva. Dali fui adiante, na direção do Oriente, até os confins da
terra; lá vi abertas as três portas celestes orientais; sobre elas havia
portões pequenos.
2 Através de cada um desses portões menores passam as
estrelas do céu que caminham para o Oriente, nos seus cursos preestabelecidos.
Nesse momento, eu louvei o Senhor da Glória e a toda hora o louvo, por ter Ele
criado as obras grandes, magníficas e admiráveis e por mostrar a magnitude da
sua obra aos Anjos, aos Espíritos e aos homens, para que todos louvem a sua
inteira Criação, ao verem a força do seu poder, possam, assim, proclamar grande
obra das suas mãos glorificar o Senhor por toda eternidade.
Segunda parte - As Alegorias
1 Segunda visão que ele teve, visão da sabedoria,
presenciada por Enoque, filho de Jared e neto de Mahalaleel, filho de Cainan e
neto de Enos, filho de Seth e neto de Adão.
2 Este é o início das palavras de sabedoria que eu
desejo transmitir em alta voz aos habitantes da terra: Escutai, vós Patriarcas,
e vós, descendentes, as palavras santas que eu vos direi, na presença do Rei
dos Espíritos!
3 Melhor seria fossem elas transmitidas unicamente aos
Patriarcas; contudo, desejamos que não fique oculto aos descendentes o início
da sabedoria. Até agora, jamais tal saber foi transmitido pelo Senhor dos
Espíritos, da forma como eu o recebi, através da minha visão e pelo beneplácito
do Rei dos Espíritos, por quem me foi manifestada a explicação da Vida Eterna.
4 Três visões alegóricas foram-me concedidas, e assim
levantei a minha voz para narrá-las aos habitantes da terra.
Primeira Alegoria
Capítulo 38
O futuro Reino de Deus
1 A primeira alegoria. Quando a comunidade dos justos
se tomar visível, e quando os pecadores forem castigados pelos seus pecados e
expulsos da terra, quando o Justo aparecer diante dos olhos dos justos, cujas
obras estão guardadas junto ao Senhor dos Espíritos, e quando a luz dos justos
e dos escolhidos brilhar sobre a terra, onde estará então o lugar dos pecadores
e onde o lugar de descanso para aqueles que renegaram o Senhor dos Espíritos?
Melhor seria para eles se não tivessem nascido.
2 Quando os segredos dos justos forem desvelados,
então o castigo recairá sobre os pecadores e os maus serão banidos da presença
dos justos e dos escolhidos. A partir daquele tempo, os senhores da terra
deixarão de ser poderosos e grandes; não mais poderão encarar os santos, porque
o Senhor dos Espíritos fará brilhar a sua luz na face dos santos, justos e
escolhidos.
4 Então, naquele tempo, os reis e os poderosos serão
aniquilados e entregues nas mãos dos justos e dos santos. A partir daquele
momento, nenhum deles poderá pedir perdão ao Senhor dos Espíritos, pois a sua
vida terá chegado ao fim.
Capítulo 39
1 Naqueles dias descerão do alto dos céus Filhos
eleitos e santos, e sua família juntar-se-á aos filhos dos homens. E, naqueles
dias, Enoque recebeu escritos da ira e escritos do desespero e da perdição.
"Não haverá misericórdia para com eles", disse o Senhor dos
Espíritos.
2 Naquele tempo, eu fui carregado da terra por um
torvelinho de vento e transportado aos confins do céu. Ali eu tive uma outra
visão: a morada dos justos e os lugares de repouso dos santos.
3 Ali eu vi com os meus próprios olhos as suas moradas
junto aos Anjos justos e seus lugares de repouso junto aos Santos, e estes
pediam, intercediam e rezavam pelos filhos dos homens. A justiça fluía diante
deles como a água, e a misericórdia como o orvalho sobre a terra; e assim é a
sua vida para todo o sempre.
4 Naquele lugar os meus olhos viam o Eleito da Justiça
e da Fidelidade; a Justiça reina nos seus dias, e inumeráveis eleitos e justos
estarão para sempre diante d'Ele.
5 Eu vi a sua morada sob as asas do Senhor dos Espíritos.
Todos os justos e eleitos brilham diante d'Ele como a claridade do fogo; a sua
boca é cheia de palavras de bênção; os seus lábios louvam o Nome do Senhor dos
Espíritos, e a Justiça nunca mais cessará diante d'Ele (Messias).
6 Ali eu desejei permanecer, e a minha alma suspirou
por aquela morada. Ali já foi outrora a minha herança; pois assim fora decidido
a meu respeito diante do Senhor dos Espíritos.
7 Naqueles dias, eu glorifiquei e exaltei o Nome do
Senhor dos Espíritos com palavras benditas e cânticos de louvor, por ter sido
escolhido por Ele para a missão de O exaltar e bendizer, segundo o beneplácito
do Senhor dos Espíritos.
8 Os meus olhos contemplaram por longo tempo aquele
lugar, e eu O exaltei e glorifiquei com as seguintes palavras: "Bendito e
louvado seja Ele desde o princípio e por toda a eternidade". Diante d'Ele
tudo persiste. Ele sabe o que é o mundo, desde antes que este fosse criado, e
conhece o que vai acontecer de geração em geração.
9 A Ti louvam Aqueles que nunca dormem; eles estão diante
de tua Majestade, e Te glorificam, celebram e exaltam com as palavras:
"Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Espíritos; Ele preenche a terra de
espíritos".
10 E ali os meus olhos viram como todos Aqueles que
não dormem prostram-se na sua presença, louvam e dizem: "Glorificado sejas
Tu e bendito seja o nome do Senhor por toda a eternidade!"
11 Então voltei o meu rosto, pois eu não conseguia
mais olhar.
Capítulo 40
Os quatro Anjos
1 Depois disso eu vi, prostrados diante do Senhor dos
Espíritos, mil vezes mil, dez mil vezes dez mil, uma multidão inumerável e
incalculável. Eu vi e observei quatro rostos, nos quatro lados do Senhor dos
Espíritos; estes eram diferentes d'Aqueles que nunca dormem. Tomei conhecimento
dos seus nomes, pois foram-me comunicados pelo Anjo que estava comigo e que me
mostrava todas as coisas ocultas.
2 Eu escutei a voz daqueles quatro rostos, ao
proferirem cantos de louvor diante do Senhor da Glória.
3 A primeira voz louvava sem cessar o Senhor dos
Espíritos.
4 A segunda voz, segundo eu ouvia, louvava o Eleito,
bem como os eleitos que se conservavam junto ao Senhor dos Espíritos.
5 A terceira voz, segundo escutei, rezava e pedia
pelos habitantes da terra, intercedendo por eles em nome do Senhor dos
Espíritos.
6 A quarta voz, segundo eu ouvia, afastava os
demônios, não lhes permitindo o acesso diante do Senhor dos Espíritos para
acusar os habitantes da terra.
7 Então eu falei ao Anjo da Paz, que ia comigo e me
mostrava todas as coisas ocultas, perguntando-lhe: "Quem são esses quatro
rostos que eu vi e cujas palavras escutei e anotei?"
8 Ele respondeu-me: "O primeiro é Miguel, o
Compassivo e Paciente; o segundo, o que cuida de todas as doenças e feridas dos
filhos dos homens, é Raphael; o terceiro, o que preside a todas as Forças, é
Gabriel; e o quarto, que preside à penitência e à esperança dos herdeiros da
vida eterna, é Phanuel".
9 Estes são os quatro Anjos do Senhor dos Espíritos e
as quatro vozes por mim ouvidas naqueles dias.
Capítulo 41
Segredos astronômicos
1 Depois disso, eu vi todos os segredos do céu e como
o Reino será dividido, e como as ações dos homens serão pesadas na balança. Lá
eu vi as moradas dos eleitos bem como a dos Santos. Meus olhos viram como de lá
serão expulsos todos os pecadores que renegaram o Nome do Senhor e como serão
arrastados para fora. Lá não poderão ficar, em virtude do castigo que lhes foi
imposto pelo Rei dos Espíritos.
2 Lá os meus olhos viram também o segredo dos raios e
dos trovões, os segredos dos ventos, e de como eles se distribuem nos seus
sopros sobre a terra, bem como os segredos das nuvens e do orvalho. Lá eu vi de
que lugares eles procedem e como aplacam a sede da terra. Lá eu vi as câmaras
fechadas de onde se origina a distribuição dos ventos, a câmara do granizo e a
câmara da neblina, bem como a nuvem que desde os tempos antigos paira sobre a
terra.
3 Eu vi as câmaras do sol e da lua, e de onde eles
saem e para onde voltam, o seu retorno magnífico, e como um tem precedência
sobre a outra, a sua rota admirável, e como não transgridem o seu curso, não o
aumentando nem diminuindo, e como guardam entre si a fidelidade e o juramento
pelo qual se comprometeram.
4 Primeiramente avança o sol e segue o seu curso
obedecendo à ordem do Senhor dos Espíritos; e grande é o seu Nome para sempre.
Depois eu vi o caminho oculto e o caminho visível da lua, que naquelas paragens
segue o seu curso tanto de dia como de noite. Na presença do Senhor dos
Espíritos, eles se colocam um atrás do outro, agradecendo e louvando sem
cessar; para eles o seu agradecimento é o descanso.
5 Pois o sol faz muitos giros, ou para a bênção ou
para a maldição, e o caminho da lua é luz para os justos, mas trevas para os
pecadores, em nome do Senhor, que separou a luz das trevas, dividiu os
espíritos dos homens e fortaleceu os espíritos dos justos em nome da sua
Justiça.
6 Nem um Anjo nem uma Potestade poderia impedir isso,
pois foi Ele quem estabeleceu para eles todos um Juiz, que os julgará na sua
presença.
Capítulo 42
A morada da Sabedoria Divina
1 A Sabedoria não encontrou lugar onde pudesse morar;
então foi-lhe reservada uma morada no céu. Depois a Sabedoria veio morar entre
os filhos dos homens mas não encontrou moradia. Assim, a Sabedoria voltou para
o seu lugar e estabeleceu a sua sede entre os Anjos.
2 Então a iniqüidade saiu das suas câmaras. Ela
encontrou aqueles que não deviam procurá-la e baixou entre eles, como a chuva
no deserto e o orvalho na terra seca.
Capítulo 43
Segredos astronômicos
1 Eu vi também outros relâmpagos e as estrelas do céu;
então eu percebi como Ele chamava a todas pelo seu nome e como elas O
escutavam. Então eu vi como elas foram pesadas com uma balança justa, segundo a
intensidade da sua luz; vi também a profundidade dos seus espaços e o dia do
seu aparecimento, e como a sua órbita provocava raios. Eu vi como suas órbitas
correspondiam ao número do Anjo e como guardavam fidelidade entre si.
2 Perguntei então ao Anjo que ia comigo e que me
mostrava os segredos: "Que significam elas?"
3 Então ele disse-me: "O Senhor dos Espíritos
mostrou-te o seu significado simbólico. Elas são os nomes daqueles santos que
moram na terra e que crêem constantemente no Nome do Senhor dos
Espíritos".
Capítulo 44
Vi também algo mais em relação aos relâmpagos, a forma
como nascem das estrelas, convertem-se em raios e não podem afastar-se dessa
nova constituição.
Segunda Alegoria
Capítulo 45
O Reino do Messias
1 Esta é a segunda alegoria. Ela trata daqueles que
renegam o nome da morada dos Santos e o Nome do Senhor dos Espíritos.
"Eles não chegarão ao céu, mas também não permanecerão sobre a terra. Tal
será o destino dos pecadores que renegam o Nome do Senhor dos Espíritos; para
tanto, eles serão reservados para o Dia da Dor e da Tribulação.
2 "Naquele dia, o meu Eleito sentar-se-á sobre o
Trono da Majestade, e, entre os seus atos, procederá a uma seleção, e serão
inumeráveis as moradas dos eleitos. O espírito destes crescerá e florescerá
quando, juntamente com aqueles que invocaram o meu Santo Nome, olharem para o
meu Eleito.
3 "Então eu deixarei que o meu Eleito habite
entre eles e transformarei o céu, convertendo-o em bênção e luz eternas. E
transformarei a terra, convertendo-a em bênção. Então deixarei o meu Eleito
habitar sobre ela; mas aos pecadores e malfeitores não será permitido o acesso
a ela.
4 "Pois eu olhei para os meus justos, saciei-os
de felicidade e coloquei-os diante de mim; para os pecadores, porém, reservo o
Julgamento, para que possa eliminá-los da face da terra."
Capítulo 46
1 Lá eu vi Aquele que possui uma cabeça de ancião, e
esta era branca como a lã; e junto dele havia um outro, cujo aspecto era de um
homem, o seu rosto era cheio de graça, semelhante ao de um Anjo Santo.
Perguntei ao Anjo que me acompanhava, e que me revelava todos os segredos, quem
era aquele filho do homem, de onde procedia, e por que estava com Aquele que
tem uma cabeça grisalha.
2 Deu-me como resposta: "Este é o Filho do Homem,
o detentor da Justiça, que com ela mora e que revela todos os tesouros
secretos; pois Ele foi escolhido pelo Senhor dos Espíritos, e o seu destino
excede a tudo em retidão diante do Senhor dos Espíritos, por toda a eternidade.
Esse filho dos homens, que viste, faz os reis e os poderosos se ergueram de
suas camas e aos fortes abala nos seus tronos; dissolve o comando dos fortes e
tritura os dentes dos pecadores.
3 "Ele expulsa os reis dos seus tronos e dos seus
reinos, porque eles não O exaltam e louvam, nem reconhecem com agradecimento de
onde lhes adveio a realeza. Ele derruba a face dos fortes e enche-os de
vergonha. A sua moradia se converterá em trevas e sua sepultura estará cheia de
vermes; jamais deverão pensar em levantar-se de suas sepulturas, porque não
exaltam o Nome do Senhor dos Espíritos.
4 "E são eles que julgam as estrelas do céu e que
erguem as suas mãos contra o Altíssimo, que humilham a terra em que habitam e
cujas obras revelam em tudo a iniqüidade; o seu poder apóia-se na sua riqueza e
a sua fé volta-se para os deuses que eles criaram com suas próprias mãos; mas
renegam o Nome do Senhor dos Espíritos. Eles perseguem as casas das reuniões
dos crentes que permanecem fiéis ao Nome do Senhor dos Espíritos.
Capítulo 47
1 "Naqueles dias, porém, a oração e o sangue dos
justos subirão da terra até a presença do Senhor dos Espíritos. Naqueles dias,
os Santos que moram no céu rezam a uma só voz, suplicam, louvam, agradecem e
glorificam o Nome do Senhor dos Espíritos, pela oração e pelo sangue derramado
dos justos, para que não tenham vivido em vão diante do Senhor dos Espíritos,
para que se cumpra neles o Julgamento, mas que este não seja para eles uma
sentença eterna."
2 Naqueles dias eu vi como o Ancião assentou-se sobre
o trono da sua Majestade, quando diante dele foram abertos os livros dos vivos,
e como toda a sua coorte, que está no céu e O cerca, prostrou-se na sua
presença.
3 O coração dos Santos exultava de alegria porque foi
trazido o número dos justos, porque foi ouvida a sua oração e porque o seu
sangue foi vingado diante do Senhor dos Espíritos.
Capítulo 48
1 Naquele lugar, eu vi o poço da Justiça; ele era
inesgotável, e ao seu redor havia muitos poços de Sabedoria. Todos os que
tinham sede bebiam deles e eram saciados de sabedoria e moravam junto aos
Justos, aos Santos e ao Eleito.
2 E, naquela hora, o Filho do Homem era mencionado
diante do Senhor dos Espíritos,e o seu Nome era referido diante do Ancião. Antes
que fossem criados o sol e os signos, e antes que fossem feitas as estrelas do
céu, o seu Nome era pronunciado diante do Senhor dos Espíritos.
3 Ele será um bordão para os justos, para que n'Ele
possam apoiar-se e não cair; Ele será a luz dos povos e a esperança dos
aflitos. Todos os habitantes da terra prostram-se aos seus pés; e adoram,
glorificam, louvam e entoam hinos ao Senhor dos Espíritos.
4 Para esse propósito Ele foi escolhido e mantido
oculto junto d'Ele, antes que o mundo fosse criado; e Ele será para todo o
sempre. E a Sabedoria do Senhor dos Espíritos revelou-O aos Santos e aos
Justos; pois Ele protege o destino dos justos, pois estes odiaram e aborreceram
este mundo de depravação, repudiando todas as suas obras e caminhos, em nome do
Senhor dos Espíritos. Em seu nome eles serão salvos, e do seu beneplácito
depende sua vida.
5 Naqueles dias, os reis da terra e os poderosos que
possuem esta terra ficarão com o semblante abatido por causa das obras das suas
mãos; no dia da sua angústia e privação não poderão salvar a alma.
6 Eu os entregarei então nas mãos do meu Escolhido;
eles arderão como palha ao fogo na presença dos Justos e submergirão como o
chumbo na água diante dos Santos, e não se encontrará mais sinal deles.
7 No dia da sua tribulação, estabelecer-se-á a paz
sobre a terra; cairão na presença deles e não mais poderão levantar-se. Ninguém
então se apresentará para tomá-los pela mão e reerguê-los, porque eles
renegaram o Senhor dos Espíritos e o seu Ungido. Louvado seja o Nome do Senhor dos
Espíritos!
Capítulo 49
1 Pois a Sabedoria derramou-se como água, e a sua
Glória não cessará por toda a eternidade. Pois Ele é poderoso em todos os
mistérios da Justiça; e a injustiça desaparecerá como uma sombra e não mais
subsistirá. O Eleito está diante do Senhor dos Espíritos, e a sua Glória
permanece de eternidade em eternidade e o seu Poder de geração em geração.
2 Nele habita o espírito da Sabedoria, o espírito que
dá o entendimento, o espírito da compreensão e da fortaleza; nele se encerra o
espírito daqueles que adormeceram na Justiça.
3 Ele porá à luz as coisas ocultas, e diante dele
ninguém poderá apresentar uma mentira, pois Ele está diante do Senhor dos
Espíritos, escolhido por seu beneplácito.
Capítulo 50
1 Naqueles dias acontecerá uma mudança para os santos
e os escolhidos: a luz do dia brilhará perenemente sobre eles, e a honra e a
glória voltar-se-ão para os santos.
2 No dia da tribulação, acumular-se-á a desgraça sobre
os pecadores, enquanto que os justos triunfarão em nome do Senhor dos Espíritos;
e Ele deixará que aqueles presenciem isso, para que façam penitência e
renunciem aos atos das suas mãos.
3 Nenhuma honra alcançarão através do Nome do Senhor
dos Espíritos, todavia serão salvos pelo seu Nome. E o Senhor dos Espíritos
compadecer-se-á deles, pois grande é a sua misericórdia.
4 Ele é justo no seu julgamento, e diante da sua
Glória nenhuma iniqüidade subsiste. Aquele, porém, que no seu Julgamento não
fizer penitência estará condenado. "Desse momento em diante não mais me
compadecerei deles", diz o Senhor dos Espíritos.
Capítulo 51
A ressurreição dos mortos
1 Naqueles dias, a terra devolverá aquilo que não pôde
reter, e da mesma forma o mundo inferior dará de volta o que recebeu, e o
inferno restituirá a sua culpa. Ele escolherá dentre eles os justos e os
santos; pois está próximo o dia da sua libertação.
2 Naqueles dias, o Eleito sentar-se-á sobre o seu
trono, e de sua boca emanarão todos os segredos da Sabedoria e do conselho;
pois isso lhe é outorgado pelo Senhor dos Espíritos, que também o exalta.
3 Naqueles dias os montes saltarão como cabritos e os
outeiros pularão como cordeirinhos saciados de leite, e a face dos Anjos no céu
resplenderá de alegria. Pois naqueles dias reinará o Eleito, a terra se
alegrará, os justos habitarão sobre ela e os escolhidos sobre ela passearão.
Capítulo 52
1 Depois daqueles dias, do lugar onde me foram dadas
todas as visões sobre o que era oculto, fui arrebatado por um torvelinho de
vento e transportado para o Ocidente. Lá os meus olhos viram todos os segredos
do céu que ainda deverão acontecer; uma montanha de ferro, uma de cobre, uma de
prata, uma de ouro, uma de metal doce e uma de chumbo.
2 Perguntei ao Anjo que ia comigo: "Que coisas
são essas que eu vi dentro daquilo que ainda está oculto?" Ele me disse:
"Tudo o que viste servirá à glória do seu Ungido, para que Ele seja forte
e poderoso".
3 E aquele Anjo da paz deu-me em resposta:
"Espera um pouco e ser-te-á desvelado todo o segredo que envolve o Senhor
dos Espíritos! Aquelas montanhas que os teus olhos viram, a montanha de ferro,
a de cobre, a de prata, a de ouro, a de metal doce e a de chumbo, todas elas,
diante do Eleito, serão como a cera diante do fogo e como a água que escorre do
alto daquelas montanhas; aos seus pés, elas enfraquecerão.
4 "Naqueles dias, ninguém poderá salvar-se, seja
pelo ouro, seja pela prata; ninguém poderá escapar. Então não haverá mais ferro
para a guerra,nem revestimentos para couraças; o bronze não valerá nada, nem o
estanho terá qualquer utilidade ou apreço, e nenhuma procura terá o chumbo.
5 "Todas essas coisas serão aniquiladas e
eliminadas da terra, quando aparecer o Eleito do Senhor dos Espíritos."
Capítulo 53
1 Lá os meus olhos viram um vale profundo, com uma
garganta aberta, e todos os que habitavam a terra firme, o mar e as ilhas
traziam-lhe doações, presentes e sinais de homenagem; todavia, aquele vale não
será preenchido por eles. As suas mãos praticam o crime e os pecadores devoram
os que foram por eles maldosamente oprimidos. Mas os pecadores serão aniquilados
pelo Senhor dos Espíritos e expulsos de sua terra, e estarão perdidos para
sempre.
2 Pois eu vi como os Anjos vingadores lá se demoravam,
preparando toda sorte de instrumentos de tortura para Satã. Então perguntei ao
Anjo da paz que ia comigo: "Para quem preparam eles esses
instrumentos?"
3 Ele respondeu-me: "Para os reis e poderosos
deste mundo, para que sejam aniquilados. Então o Justo e Eleito fará com que
resplandeça de novo a casa da sua comunidade; doravante, ela nunca mais será
oprimida, em nome do Senhor dos Espíritos.
4 "Diante da sua Justiça, aquelas montanhas não
mais subsistirão como sendo a própria terra; os outeiros, por sua vez,
tornar-se-ão como uma fonte de água, e os justos terão então a paz, em face da
opressão dos pecadores."
Capítulo 54
1 Eu olhei e voltei-me para outra parte da terra. Lá
eu vi um vale profundo, onde havia fogo com labaredas. E eles traziam os reis e
os poderosos e arremessavam-nos naquele vale profundo.
2 E os meus olhos viram como eram confeccionadas
correntes de ferro imensamente pesadas, como instrumentos de tortura. Então eu
perguntei ao Anjo da paz que ia comigo: "Para quem são preparadas essas
correntes?"
3 Ele disse-me: "Para as legiões de Azazel, a fim
de aprisioná-las e lançá-las no abismo da condenação definitiva. De pedras
ásperas serão cobertos os seus queixos, da forma como ordenou o Senhor dos
Espíritos.
4 "Miguel, Gabriel, Raphael e Phanuel os
agarrarão, naquele grande Dia, e os lançarão na fornalha de fogo ardente, para
que o Senhor dos Espíritos promova a sua vingança contra a iniqüidade, por
terem eles se submetido a Satã e pervertido os habitantes da terra.
5 "Naqueles dias, instaurar-se-á o castigo do
Senhor dos Espíritos, e Ele abrirá todos o reservatórios de água que estão no
alto dos céus, e todos os poços que estão debaixo da terra.
6 "Todas as águas misturar-se-ão; a água do alto
do céu é a masculina, e a água debaixo da terra é a feminina. E elas
aniquilarão todos os habitantes da terra, bem como os que se encontram nos
limites do céu.
7 "E estes, após reconhecerem que praticaram a
iniqüidade sobre a terra, serão aniquilados por causa dessa mesma
iniqüidade."
Capítulo 55
1 Depois disso, o Ancião arrependeu-se e disse:
"Em vão eu aniquilarei todos os habitantes da terra".
2 Então ele jurou pelo seu santo Nome: "Doravante
nunca mais procederei assim com nenhum dos habitantes da terra; estabelecerei
agora um sinal no céu, e este será entre mim e eles uma aliança de fidelidade
eterna, pelo tempo em que permanece o céu sobre a terra.
3 "Se eu havia desejado que por aqueles delitos
eles fossem postos a ferros pelas mãos dos Anjos, no dia da tribulação e da
dor, permanece neste caso a minha ira e o meu castigo em relação a eles",
disse Deus, o Senhor dos Espíritos.
4 "O vós, reis poderosos, que habitais a face da
terra! Devereis encarar o meu Eleito quando Ele se assentar sobre o trono da
glória para julgar Azazel, seus asseclas e todas as suas legiões, em nome do
Senhor dos Espíritos."
Capítulo 56
A agressão dos pagãos contra Jerusalém
1 Lá eu vi perambularem as coortes dos Anjos
vingadores, que portavam açoites e correntes de ferro e de bronze. Perguntei ao
Anjo da paz que ia comigo: "A quem buscam eles com os açoites?"
2 Ele me disse: "Eles buscam seus escolhidos e
amados, para atirá-los nas profundezas do vale. Então aquele vale encher-se-á
dos seus escolhidos e amados; então os seus dias chegarão ao fim, e daí em
diante não estarão mais na conta os dias da sua perversão.
3 "Naqueles dias, os Anjos virão outra vez e
voltar-se-ão para o Oriente, para os Medos e Partas; eles provocarão os reis,
acometendo-os com um espírito de perturbação e expulsando-Os dos seus tronos,
como se fossem leões a sair dos seus covis ou lobos famintos a atacar os
rebanhos.
4 "Eles avançarão e pisarão a terra dos seus
eleitos, e a terra destes será, na sua presença, como uma eira de trilhar e
como uma senda de chão batido. Mas a cidade dos meus justos será um empecilho
para os seus cavalos; começarão então os mútuos assassínios e a sua direita
levantar-se-á entre eles. Nenhum homem reconhecerá o seu irmão, nem o filho
reconhecerá seu pai ou sua mãe, e pelos assassínios serão inumeráveis os seus
cadáveres; não será em vão o castigo deles.
5 "Naqueles dias, o mundo inferior abrirá as
portas da sua vingança; e eles despencarão por elas, e a sua perdição será
definitiva. O mundo inferior engolirá os pecadores na presença dos
eleitos."
Capítulo 57
O retorno da Diáspora
1 Após isso vi uma infinidade de carruagens nas quais
viajavam homens, e elas moviam-se sobre asas de vento do Oriente e do Ocidente
em direção ao sul.
2 Podia-se ouvir o ruído desses carros, e o seu fragor
foi percebido pelos Santos do céu, e as pilastras da terra abalaram-se nas suas
posições; ouviu-se esse ribombar de um canto do céu ao outro durante todo um
dia.
3 Eles todos cairão por terra, e haverão de suplicar
ao Senhor dos Espíritos. Este é o fim da segunda alegoria.
Terceira Alegoria
Capítulo 58
Juízo Final do Messias
1 Após isso dei início à terceira alegoria sobre os
justos e os escolhidos. Felizes sois vós, ó justos e escolhidos! Pois será
gloriosa a vossa sorte.
2 Os justos estarão na luz do sol e os eleitos na luz
da vida eterna; os seus dias não terão fim, e sem conta serão os dias dos
santos. Eles procuram a luz e encontram a Justiça junto ao Senhor dos Espíritos;
os justos terão a paz, em nome do Senhor do mundo.
3 Depois será dito aos santos que procurem no céu os
segredos da Justiça e o destino da fé; pois então a terra ficará resplendente
como a luz do sol, e as trevas dissipar-se-ão.
4 Haverá uma luz que nunca mais se extinguirá, e os
dias não terão fim; primeiro serão eliminadas as trevas, depois o Senhor dos
Espíritos estabelecerá a luz; então a luz da retidão brilhará para sempre, na
presença do Senhor dos Espíritos.
Capítulo 59
O raio e o trovão
1 Naqueles dias meus olhos viram os segredos dos
raios, bem como o segredo das luzes e suas leis; eles relampejam para a bênção
ou para a desgraça segundo a vontade do Senhor dos Espíritos.
2 Lá eu vi os segredos do trovão, e como o seu
ribombar é ouvido embaixo, depois de ter estalado lá em cima no céu; foi-me
permitido também ver os julgamentos que serão realizados sobre a terra, e como
eles estão a serviço ou da graça ou da condenação, segundo as ordens do Senhor
dos Espíritos.
3 Foram-me depois revelados todos os segredos das
luzes e dos raios e a forma como relampejam para abençoar e saciar a terra.
Capítulo 60
O dilúvio
1 Ano quinhentos, no décimo quarto dia do sétimo mês
da vida de Enoque. Naquela visão eu vi como o céu ficou fortemente abalado e
como as legiões do Altíssimo, os Anjos, mil vezes mil e dez mil vezes dez mil,
entraram em grande excitação.
2 E o Ancião assentava-se sobre o trono da sua Glória,
tendo ao seu redor os Anjos e os Justos. Então fui acometido de um forte tremor
e o medo assaltou-me; meus quadris abateram-se e afrouxaram-se as minhas
articulações; e eu caí sobre a minha face.
3 Então Miguel enviou um outro Anjo dentre os Santos e
este ergueu-me do chão. Ao ser erguido, voltou-me o alento; eu tinha estado sem
condições de suportar a visão daquelas legiões, daquele abalo e tremor dos
céus.
4 Então Miguel dirigiu-se a mim: "Qual a visão
que tanto te aterroriza? Até hoje perdurou o dia da sua misericórdia, e Ele foi
clemente e magnânimo para com os habitantes da terra.
5 "Mas quando se aproximar o dia da força, do
Julgamento e do castigo, o Dia preparado pelo Senhor dos Espíritos para aqueles
que não reconhecem a Justiça da Lei, mas antes a renegam e abusam do seu santo
Nome, então estará preparado esse Dia; e esse Dia será uma dádiva para os escolhidos
mas uma desgraça para os pecadores.
6 "Naquele dia serão escolhidos dois monstros:
um, feminino, de nome Leviatã, para ser colocado sobre as vertentes de água das
profundezas do mar. O monstro masculino, porém,chamado Behemoth, cobrirá com o
seu peito um deserto imenso de nome Duidain, ao Oriente do Jardim, onde moram
os Eleitos e os Justos e onde foi recebido o teu avô, o sétimo a partir de
Adão, o primeiro homem criado pelo Senhor dos Espíritos."
7 Eu roguei àquele outro Anjo que me mostrasse o poder
daqueles monstros, como um dia foram separados, sendo um lançado nas
profundezas do mar e o outro, nas terras áridas do deserto.
8 Ele falou-me: "O filho do homem! Queres agora
saber algo que é secreto".
9 Falou-me então o outro Anjo, aquele que ia comigo e
me mostrava as coisas ocultas, as primeiras e as últimas, no alto dos céus e
nas profundezas abaixo da terra e nos confins do céu em que se assentam os seus
fundamentos, nas câmaras dos ventos, e como esses ventos são distribuídos, como
são pesados, como os portões dos ventos são guarnecidos, cada um segundo a
força do vento, e sobre o poder da luz da lua e sua exatíssima regularidade, e
ainda a divisão das estrelas, segundo os seus nomes, e como eram classificadas
todas as subdivisões, e também os estalos dos trovões, segundo os seus lugares,
e onde caem igualmente todas as divisões dos raios e seus relampejos e os grupamentos
a que obedecem.
10 Pois o trovão tem regras fixas para o tempo
estabelecido para o seu ribombar. O trovão e o raio são inseparáveis, e embora
não sejam uma coisa só, nem aderentes, ambos caminham juntos através do
espírito e não se apartam.
11 Pois quando brilha a luz do raio o trovão emite a
sua voz, mas o espírito cobra uma pausa até o ribombar, e assim os divide. O
reservatório dos seus golpes é como a areia, e cada um deles ao estalar é
contido por um freio, retardado pela força do espírito e em seguida arremessado
em frente, em direção às diferentes partes da terra.
12 O espírito do mar é másculo e forte, e pelo poder
da sua força segura-o por um freio; depois igualmente é impelido para a frente,
espalhando-se por todos os litorais da terra.
13 O espírito da geada é um Anjo especial, e o
espírito do granizo é um Anjo bom. O espírito da neve, em virtude da sua força,
abandona a sua câmara; por isso há nela um espírito próprio, e o que dela se
levanta é como uma vaporação e chama-se frio.
14 O espírito da neblina não está encerrado nas suas
câmaras, mas possui uma câmara especial; pois o seu vagar é magnífico, na luz e
nas sombras, no inverno e no verão, e na sua câmara existe um Anjo.
15 O espírito do orvalho tem a sua morada nos confins
do céu, e esta associa-se às câmaras da chuva. Aparece no inverno e no verão, e
suas nuvens juntam-se às nuvens da neblina, uma fortalece a outra.
16 Quando o espírito da chuva quer sair da sua câmara
aparecem os Anjos, abrem a câmara e deixam-na sair; e quando ela se derrama
sobre toda a terra une-se com as águas terrestres.
17 Pois as águas existem para os habitantes da terra;
o Altíssimo no céu destinou-as para os alimentos na terra. Por isso existe uma
medida para as chuvas, e ela está sob a guarda dos Anjos. E essas coisas eu
havia visto junto ao Jardim dos Justos.
18 E o Anjo da paz que estava comigo falou-me:
"Aqueles dois monstros, criados pela grandeza de Deus, deverão ser
devorados para que não seja em vão o Julgamento de Deus; e os filhos serão
exterminados, juntamente com os seus pais, mães e crianças.
19 Quando o Julgamento do Senhor dos Espíritos recair
sobre eles, será executada a sentença para que não ocorra inutilmente o Juízo
do Senhor dos Espíritos. Só depois disso acontecerá o Julgamento segundo a sua
misericórdia e paciência."
Capítulo 61
1 Naqueles dias, eu vi como foram entregues aos Anjos
longas fitas; então eles tomaram asas e voaram na direção do norte. Perguntei
ao Anjo: "Por que eles tomaram aquelas fitas e partiram?" Falou-me:
"Eles foram realizar medições".
2 E disse-me ainda o Anjo que ia comigo: "Eles
levam as medidas dos justos e da honestidade, que permitem a estes conservarem-se
permanentemente firmes no Nome do Senhor dos Espíritos.
3 "O Escolhido começará a habitar entre os
eleitos, e essa é uma demonstração da dimensão da fé, confirmando a retidão.
Essas medidas revelarão tudo o que está oculto no meio da terra, e trarão à luz
também aqueles que pereceram no deserto e os que foram devorados pelos peixes
do mar e pelos animais selvagens, para que reapareçam e estejam firmes e a
postos no dia do Escolhido; pois diante do Senhor dos Espíritos ninguém perece
e ninguém pode ser perdido."
4 E todos os habitantes do céu receberam uma só ordem,
uma força, uma voz e uma luz que se compara ao fogo. E eles glorificavam-no a
uma só voz, louvavam-no e enalteciam-no com sabedoria, mostrando-se sábios na
palavra e no espírito da vida.
5 O Senhor dos Espíritos assentou então o Eleito sobre
o trono da sua Glória. Ele julgará todas as obras dos Santos no alto do céu, e
elas serão pesadas na balança.
6 Quando Ele erguer a sua face para colocar em ordem
os seus caminhos ocultos, segundo a força do Nome do Senhor dos Espíritos, e os
seus passos segundo a medida do julgamento justo do Senhor dos Espíritos, então
todos, a uma só voz, glorificarão, exaltarão e louvarão o Nome do Senhor dos
Espíritos.
7 Então Ele chamará toda a coorte celestial, todos os
Santos nas alturas e as legiões de Deus, os Querubins, os Serafins e os
Orphanins, todos os Anjos da Potestade, todos os Anjos da Dominação, o Eleito e
as demais forças existentes sobre a terra e sobre o mar.
8 E, naquele Dia, eles se levantarão a uma só voz,
para glorificar, magníficar, bendizer e louvar no espírito da fé, da sabedoria,
da paciência, da misericórdia, do direito, da paz e do bem, dizendo todos em
uníssono: "Glória a Ele! Seja louvado o Nome do Senhor dos Espíritos por toda
a eternidade!"
9 Todos os que no alto dos céus não dormem
louva-lo-ão; todos os Santos do céu O glorificam, e assim também fazem todos os
escolhidos, que habitam no Jardim da Vida, e todo espírito de luz capaz de
glorificar, exaltar, louvar e santificar o teu santo Nome; e toda carne
glorificará o teu Nome por causa das tuas medidas, e louva-lo-á eternamente.
Pois grande é a misericórdia do Senhor dos Espíritos, e Ele é indulgente. Ele
revelou todas as suas obras e todas as suas criações aos justos e aos escolhidos,
em nome do Senhor dos Espíritos.
Capítulo 62
1 E assim ordenou o Senhor dos reis, dos poderosos e
dos grandes, bem como dos habitantes da terra: "Abri os vossos olhos e
levantai vossa cabeça, quando chegardes a reconhecer o Eleito!"
2 O Senhor dos Espíritos assentou-O sobre o trono da
sua Glória. E sobre Ele foi derramado o espírito da Justiça; a palavra da sua
boca exterminou todos os pecadores, e todos os ímpios foram aniquilados por
Ele.
3 Naquele dia erguer-se-ão todos os reis, os
poderosos, os grandes e os demais possuidores da terra; verão e reconhecerão
que Ele se assenta sobre o trono da sua Glória, que julgará com Justiça e que
nenhuma palavra de mentira será pronunciada diante d'Ele.
4 Então sobrevir-lhes-á sofrimento igual ao de uma
mulher em dores de difícil parto, quando o filho passa pela abertura matriz, e
ela sofre ao dar à luz. Uma parte deles então encarará a outra; assustar-se-ão,
baixarão os seus olhos, e serão acometidos de dores quando virem o Filho do
Homem assentar-se sobre o trono da sua Glória.
5 Então os reis, os poderosos e os demais senhores da
terra haverão de glorificar, louvar e enaltecer Aquele que reina sobre todas as
coisas, e que estava oculto. Pois, no princípio, o Filho do Homem estava
oculto, e o Altíssimo conservava-O na presença do seu poder; e revelou-O aos
escolhidos.
6 Florescerá então a comunidade dos escolhidos e dos
santos, e todos os escolhidos, naquele dia, estarão na sua presença. Todos os
reis, os poderosos, os grandes e demais senhores da terra cairão sobre a sua
face, na sua presença, e suplicarão: irão colocar a sua esperança naquele Filho
do Homem, invoca-lo-ão e implorarão sua misericórdia.
7 Todavia, aquele Senhor dos Espíritos os obrigará a
se afastarem o mais rapidamente possível da sua presença; o rosto deles
cobrir-se-á de vergonha, e sobre eles recairá a escuridão. E Ele os entregará
aos Anjos vingadores, porque maltrataram seus filhos e seus escolhidos.
8 Eles proporcionarão um espetáculo para os justos e
escolhidos: estes rejubilarão, porque a ira do Senhor dos Espíritos abater-se-á
sobre eles, e Sua espada embeber-se-á no seu sangue. Naquele dia, os justos e
os escolhidos serão salvos, e não verão nunca mais a face dos pecadores e dos
ímpios.
9 O Senhor dos Espíritos habitará então entre eles, e
estes comerão com o Filho do Homem, deitar-se-ão e levantar-se-ão por toda a
eternidade. Os justos e os escolhidos exaltar-se-ão sobre a terra, e nunca mais
haverão de baixar os seus olhos.
10 Serão recobertos com as vestes da glória, que são
as vestes da Vida do Senhor dos Espíritos. Vossas vestes não envelhecerão e
vossa glória não passará na presença do Senhor dos Espíritos.
Capítulo 63
1 Naqueles dias, os poderosos e os reis, e aqueles que
possuem a terra, haverão de suplicar-lhe que lhes seja concedida uma trégua em
face dos Anjos vingadores, que foram incumbidos de castigá-los, e implorarão a
possibilidade de reconhecerem os seus pecados, na presença do Senhor dos
Espíritos.
2 Eles então glorificarão e louvarão o Senhor dos
Espíritos, dizendo: "Louvado seja o Senhor dos Espíritos, o Senhor dos
reis, o Senhor dos poderosos, o Senhor dos senhores, o Senhor da Glória, o
Senhor da Sabedoria, para quem todo o segredo é manifestado. Teu poder
permanece de geração em geração e tua glória de eternidade em eternidade.
Inumeráveis e profundos são todos os teus segredos, e a tua Justiça é
incomensurável.
3 "Vemos agora que é nossa obrigação louvar e
bendizer o Senhor dos reis, o Soberano de todos os príncipes." E dirão
também: "Quem nos concede um pouco de sossego, para que possamos
glorificar, agradecer e louvar, bem como reconhecer a nossa fé diante da sua
Majestade?
4 "Agora suspiramos por um pouco de paz e não a
encontramos; nós a procuramos com todas as forças e não a alcançamos. A luz
desapareceu para nós, e as trevas são a nossa morada perene. Pois nós não
confirmamos a nossa fé diante d'Ele, nem glorificamos o Nome do Senhor dos
Espíritos, nem louvamos o Senhor nosso. Nossa esperança repousava sobre o nosso
cetro real e sobre a nossa celebridade.
5 "No dia da nossa necessidade e tribulação, Ele
não nos salva; nenhuma prorrogação nos é concedida, para que possamos
reconhecer que o nosso Senhor é verdadeiro em todas as suas obras, ordenações e
Justiça, e que seus julgamentos nunca fazem acepção de pessoas. Somos
eliminados da sua Face por causa das nossas obras, e todos os nossos pecados
estão contados com exatidão."
6 Eles dirão agora entre si: "Nossa alma está
farta da Mamona injusta; mas isso já não tem mais nenhum proveito, pois
haveremos de descer ao tormento do fogo do inferno!"
7 Depois do que, sua face cobrir-se-á de sombras e de
vergonha diante do Filho do Homem; eles serão expulsos da sua presença, e a
espada agirá entre eles com fúria, sob seus olhos.
8 Assim falou o Senhor dos Espíritos: "Este é o Julgamento
que foi determinado pelo Senhor dos Espíritos sobre os poderosos, sobre os
reis, os grandes e os demais senhores da terra".
Capítulo 64
1 Eu vi ainda outras formas que se escondiam naquele
lugar. Eu ouvi os Anjos dizerem: "Estes são os Anjos que desceram do céu
sobre a terra, que desvelaram coisas secretas aos filhos dos homens, e que os
desencaminharam para a prática do pecado".
Capítulo 65
Noé
1 Naqueles dias, Noé viu como a terra afundava e como
se aproximava a sua destruição. Então ele partiu daquele lugar e foi até os
confins da terra, e chamou pelo seu avô Enoque. Por três vezes ele gritou com
voz aflita: "Escuta-me! Escuta-me! Escuta-me!"
2 E assim eu falei a ele: "Explica-me o que está
acontecendo com a terra, pois que está tão atingida e abalada! Tenho receio de
perecer junto com ela!" Neste momento aconteceu um grande tremor na terra,
e uma voz do céu fez-se ouvir, eu caí sobre a minha face.
3 Então apareceu o meu avô Enoque, aproximou-se de mim
e falou-me: "Por que clamaste a mim com voz tão amarga e em lágrimas? De
junto do Senhor foi emitida uma ordem relativa aos habitantes da terra, e ela
significará o seu fim, porque aprenderam dos Anjos todos os segredos e todos os
atos violadores dos Satãs, bem como todas as energias ocultas e as forças da
magia, e além disso o poder dos esconjuros e as faculdades dos que fundem
imagens para toda a terra, e, finalmente, porque aprenderam como se obtém a
prata da areia nobre, e como se forma o metal doce sobre a terra.
4 "Pois o chumbo e o estanho não se obtêm da
terra, como aquela; eles são produzidos por uma fonte, e dentro da fonte existe
um Anjo, que os esfria."
5 Em seguida, o meu avô Enoque tomou-me pela mão,
ergueu-me e disse-me: "Vai! Pois eu perguntei ao Senhor dos Espíritos
sobre esse tremor da terra. E Ele respondeu-me: `Por causa da sua iniqüidade,
foi determinada uma sentença definitiva sobre eles, e esta sentença já não pode
mais ser sustada pela minha intermediação. Por causa de todas as feitiçarias
que eles desenvolveram e aprofundaram, a terra será aniquilada juntamente com
todos os seus habitantes'.
6 "E para estes não haverá mais tempo para o
arrependimento;
pois foi-lhes desvelado o que era um segredo, e por
isso serão condenados. Mas com respeito a ti, Noé, o Senhor dos Espíritos sabe
que és puro e isento de culpas em relação àqueles segredos.
7 "Ele incluiu o teu nome entre os Santos, e
haverá de preservar-te dentre os habitantes da terra; predestinou a tua
descendência pia para a realeza e para grandes dignidades, e da tua geração nascerá
uma vertente de justos e piedosos, para sempre."
Capítulo 66
1 Depois disso, ele mostrou-me os Anjos vingadores que
estavam preparados para vir e liberar todas as forças da água subterrânea e
espalhá-la sobre todos os habitantes da terra para seu castigo e destruição. O
Senhor dos Espíritos deu então a ordem aos Anjos que partiam para que não
deixassem escorrer as águas, mas sim retê-las; pois esses Anjos eram os que
presidiam às águas. Nessa hora, eu me afastei de Enoque.
Capítulo 67
O castigo dos Anjos
1 Naqueles dias, revelou-se em mim a palavra de Deus,
e Ele falou-me: "Noé! Tua sorte chegou à minha presença; será um destino
sem mancha, um destino de amor e de retidão. Os Anjos farão agora uma
construção de madeira, e quando tiverem aprontado sua obra colocarei minha mão
sobre ela e a tomarei sob a minha proteção. Dela sairá uma semente de vida, e a
terra se transformará de modo a não ficar vazia de homens.
2 "Eu darei aos teus descendentes uma
subsistência perpétua diante de mim e ampliarei o número dos que habitam
contigo; não serão infecundos sobre a terra, mas, ao contrário, abençoados, e
multiplicar-se-ão sobre ela, em nome do Senhor."
3 E os Anjos que ensinaram a depravação serão por Ele
circunscritos naquele vale de fogo, que meu avô me mostrara anteriormente, ao
oeste, junto às montanhas de ouro, prata, ferro, metal brando e estanho.
4 Eu vi aquele vale, onde estava crescendo o volume de
água e causando inundação. Ao mesmo tempo, o metal derretido e os abalos
daquele lugar exalaram um cheiro de enxofre que se aliou àquelas águas, fazendo
com que o vale dos Anjos corruptores continuasse a arder debaixo da terra.
5 Por seus desfiladeiros escorrem torrentes de fogo,
no mesmo lugar onde serão sentenciados aqueles Anjos que desencaminharam os
habitantes da terra. Mas aquelas águas servirão, naqueles dias, aos reis, aos
poderosos, aos grandes e aos demais potentados da terra, para curar seus
corpos; mas servirão também para o castigo do espírito. Por ser o seu espírito
carregado de luxúria, eles são castigados no seu corpo. Pois renegaram o Senhor
dos Espíritos; todos os dias viam a sua Justiça, mas não acreditaram no seu
Nome.
6 Na mesma proporção em que recrudescerá a queima do
seu corpo, ocorrerá uma alteração no seu espírito para sempre; pois a ninguém é
permitido pronunciar uma palavra leviana diante do Senhor dos Espíritos. Sobre
eles recairá a sentença, porque se deleitaram na volúpia da sua carne e
renegaram o Espírito do Senhor.
7 As mesmas águas experimentarão naqueles dias uma
alteração. Pois ao serem aqueles Anjos atormentados naquelas águas, a
temperatura destas se modificará; e quando os Anjos delas saírem as fontes da
água transformar-se-ão e esfriarão.
8 Eu ouvi como Miguel tomou a palavra e disse:
"Este julgamento, pelo qual os Anjos são castigados, é um exemplo para os
reis, os poderosos e outros senhores da terra. Estas águas da Justiça servem à
saúde dos reis e ao prazer dos seus corpos; eles, porém, não querem reconhecer
e acreditar que as mesmas águas se transformam e poderão converter-se num fogo
eternamente ardente".
Capítulo 68
1 Depois disso, o meu avô Enoque transmitiu-me os
ensinamentos de todos os segredos contidos no livro e nas alegorias que lhe
foram dados, e ele juntou-os todos para mim nas palavras do livro das
alegorias. Naquele dia, Miguel comunicou-se com Raphael nestes termos: "A
excitação do espírito me arrebata e faz-me tremer por causa da severidade do
Julgamento, dos segredos e do castigo dos Anjos. Quem poderá suportar a
gravidade da sentença que será cumprida, sem abalar-se profundamente?"
2 E Miguel continuou dizendo a Raphael: "Qual o
coração que não se comove e quais os rins que não estremecem em face da
sentença de condenação que sobre eles recaiu, por causa dos que foram por eles
pervertidos?" Na presença do Senhor dos Espíritos, Miguel disse ainda a
Raphael: "Não posso interceder por eles diante dos olhos do Senhor, pois o
Senhor dos Espíritos está irado com eles, porque se comportaram como se fossem
o próprio Senhor".
3 Por isso, todo o Oculto se abaterá sobre eles
eternamente, embora dele não participem inteiramente nem os Anjos nem os
homens; mas eles sozinhos suportarão a sua sentença para sempre.
Capítulo 69
A queda dos Anjos
1 Em conseqüência desse Julgamento, eles serão
submetidos à angústia e ao estremecimento por terem desvelado aquelas coisas
aos habitantes da terra.
2 Os nomes daqueles Anjos são os seguintes: o primeiro
deles é Semjaza, o segundo, Artakifa, o terceiro, Armen, o quarto, Kokabel, o
quinto, Turael, o sexto, Rumjal, o sétimo, Danjal, o oitavo, Nekael, o nono,
Barakel, o décimo, Azazael, o undécimo, Arrnaros, o duodécimo, Batarjal, o
décimo terceiro, Busasejal, o décimo quarto, Hananel, o décimo quinto, Turel, o
décimo sexto, Simapesiel, o décimo sétimo, Jetrel, o décimo oitavo, Tumael, o décimo
nono, Turel, o vigésimo, Rumael, e o vigésimo primeiro, Azazel.
3 E estes são os chefes dos seus Anjos, e estes os
nomes dos prepostos sobre cem, cinqüenta e dez. O nome do primeiro é Jekon; é
aquele que seduziu todos os filhos dos Anjos, trazendo-os para a terra e
desencaminhando-os por intermédio das filhas dos homens.
4 O segundo chamava-se Asbeel; este deu um mau
conselho aos filhos dos Anjos, fazendo com que corrompessem os seus corpos com
as filhas dos homens. O terceiro chamava-se Gadreel; este ensinou aos filhos
dos homens todos os golpes mortais. Também foi o que seduziu Eva, e que também
ensinou aos filhos dos homens os instrumentos para matar, a couraça, o escudo,
o montante e, acima de tudo, todas as armas assassinas.
5 Foi por suas mãos que estas passaram a ser usadas
pelos habitantes da terra, desde então e por todos os tempos. O quarto
chamava-se Penemue; ele ensinou aos filhos dos homens o doce e o amargo, bem
como todos os segredos da sua sabedoria.
6 Ele também instruiu os homens na escrita com tinta e
sobre papel, e com isso muitos se corromperam, desde os tempos antigos por
todas as épocas, até os dias de hoje. Pois os homens não foram criados para
fortalecer sua honestidade dessa maneira, por meio de pena e tinta.
7 Os homens foram criados à semelhança dos Anjos;
deveriam permanecer honestos e puros, e assim não seriam afetados pela morte
que tudo destrói; todavia, por esse conhecimento eles se arruinaram, e pelo
poder desse conhecimento destruíram-se mutuamente.
8 O quinto chamava-se Kasdeja; este ensinou aos filhos
dos homens toda espécie de sortilégios dos espíritos e dos demônios, bem como
os malefícios contra o fruto do ventre materno, para sua expulsão, e os contra
a alma, feitiços contra a picada de cobra, contra a insolação e contra o filho
da serpente, chamado Tabaet.
9 E esta foi a tarefa de Kasbeel, que desvelara aos
Santos o Juramento supremo, quando habitava no alto da Glória e se chamava
Bika. Este pedira a Miguel para transmitir-lhe o Nome secreto, a fim de que
pudesse ser conhecido e empregado nos juramentos, conquanto aqueles que
ensinaram as coisas ocultas aos filhos dos homens tremessem em face desse Nome
e desse Juramento.
10 Grande é a força desse Juramento; é forte e
poderoso. Ele confiou esse Juramento Atkae às mãos de Miguel. Tais são os
segredos daquele Jura-mento: ao ser pronunciado, o céu firmou-se e foi suspenso
no seu lugar, antes que fosse criada a terra, por toda a eternidade.
11 Por ele foi assentada a terra sobre as águas, e
maravilhosas fontes de água brotaram dos lugares ocultos das montanhas, desde a
criação e por toda a eternidade. Por aquele Juramento foi criado o mar, e para
seu complemento Ele concedeu-lhe as areias para os períodos da sua fúria; e não
tem a permissão de ultrapassá-las, desde a criação do mundo e por toda a
eternidade.
12 Por aquele Juramento foram estabelecidos os
abismos, e eles permanecem imutáveis no seu lugar, de eternidade em eternidade.
Por aquele Juramento o sol e a lua cumprem o seu curso e não se afastam da sua
órbita, de eternidade em eternidade. Por aquele Juramento as estrelas obedecem
ao seu curso. Ele as chama por seus nomes e elas correspondem-lhe, de
eternidade em eternidade, o mesmo acontecendo com os espíritos das águas, dos
ventos e dos ares, com os cursos em todas as suas direções.
13 Aqui incluem-se as vozes dos trovões e a luz dos
raios, e aqui conservam-se também as câmaras do granizo, da geada, da neblina,
da chuva e do orvalho. Todas essas coisas confessam a sua fé e agradecem ao
Senhor dos Espíritos; glorificam-na com todo o seu potencial. O seu alimento é
o puro reconhecimento; elas agradecem, louvam e exaltam o Nome do Senhor dos
Espíritos, de eternidade em eternidade.
14 Esse Juramento é poderoso sobre elas; por ele são
conservados os seus caminhos, e o seu curso não é perturbado. Grande alegria
reinava entre elas, e bendiziam, louvavam, glorificavam e rejubilavam-se,
porque o Nome daquele Filho do Homem lhes foi desvelado.
15 Ele assentou-se sobre o trono da sua Glória; e
então foi confiada a Ele, o Filho do Homem, a condução do Julgamento, e fez com
que desaparecessem da terra os pecadores e os perversos do mundo. Eles serão
postos em grilhões e encerrados no lugar comum da sua destruição; todas as suas
obras desaparecerão da terra.
16 De agora em diante, o corruptível deixará de
existir, pois aquele Filho do Homem apareceu e assentou-se sobre o trono da sua
Glória, e diante da sua face todo o mal se dissipa e desaparece. E a voz
daquele Filho do Homem se fará ouvir e será poderosa diante do Senhor dos Espíritos.
Esta foi a terceira alegoria de Enoque.
Capítulo 70
Enoque no Paraíso
1 Depois disso, o seu nome, no decurso da sua vida,
será elevado àquele Filho do Homem e ao Senhor dos Espíritos e subtraído aos
habitantes da terra. Ele foi transportado pelas sendas do Espírito, e o seu
nome desapareceu do meio deles.
2 A partir daquele dia não fui mais contado entre
eles, e ele depositou-me entre duas regiões celestes, entre o Norte e o
Ocidente, onde os Anjos pegaram as suas fitas e mediram para mim o lugar dos eleitos
e dos justos. Lá eu vi os Patriarcas e os Justos, que desde os tempos antigos
ali habitavam.
Capítulo 71
Enoque com o Filho do Homem
1 Depois o meu espírito foi arrebatado, e subi ao céu.
Eu vi os filhos dos santos Anjos caminhando sobre chamas de fogo; suas roupas e
vestimentas eram brancas e suas faces cintilavam como a neve. Eu vi duas
torrentes ígneas, e a luz do fogo brilhava como um jacinto. Então caí sobre a
minha face, diante do Senhor dos Espíritos.
2 Então o Anjo Miguel, um dos Arcanjos, tomou-me pela
mão direita, ergueu-me e introduziu-me em todas as coisas ocultas e mostrou-me
todos os verdadeiros segredos. Ele mostrou-me todos os segredos dos confins do
céu, das estrelas e das câmaras das luminárias, de onde procedem para chegarem
na presença do Santo.
3 E ele transportou o meu espírito ao céu dos céus, e
lá eu vi um edifício de cristal, e entre os cristais havia línguas de fogo
vivo. O meu espírito viu o cinturão que circundava a casa de fogo, e nos seus
quatro lados existiam torrentes de fogo vivo, e elas fluíam ao redor daquela
casa.
4 Ao redor havia Serafins, Querubins e Orphanins;
estes são os que nunca dormem, e que guardam o trono da Sua Glória. Eu vi como
inumeráveis Anjos postavam-se ao redor daquela casa, e eles eram mil vezes mil
e dez mil vezes dez mil. Miguel, Gabriel, Raphael e Phanuel, bem como os santos
Anjos, que estão no alto dos céus, entravam e saíam daquela casa.
5 Nesse momento, saíam daquela casa Miguel, Gabriel,
Raphael e Phanuel, acompanhados de número incalculável de santos Anjos. Entre
eles vinha o Ancião, e sua cabeça era branca e imaculada como a lã, e suas
vestes eram indescritíveis.
6 Então eu caí sobre a minha face; todo o meu corpo
estava derreado, e o meu espírito entrou em delírio. Eu gritei em alta voz, com
a força do espírito, bendizendo, glorificando e louvando. Esses louvores que
procediam da minha boca agradaram ao Ancião.
7 Então o Ancião veio, com Miguel, Gabriel, Phanuel e
mil vezes mil e dez mil vezes dez mil Anjos, em número incontável. Ele aproximou-se
de mim, saudou-me com a sua voz, e falou-me: "Este é o Filho do Homem, que
haverá de nascer para a Justiça. A Justiça habita n'Ele, e a Justiça do Ancião
não o abandona".
8 Então Ele falou-me: "Ele saúda-te em nome do
mundo que há de vir, pois d'Ele procede a paz desde a criação do universo, e
assim será contigo até à eternidade.
9 "Todos os que andam nos seus caminhos — pois a
Justiça nunca mais os abandonará terão n'Ele a sua morada e sua herança, e
d'Ele nunca mais se afastarão por toda a eternidade. E, assim, encontrar-se-á
vida perene junto ao Filho do Homem, e os justos então gozarão paz e caminharão
pelas veredas retas, para todo o sempre."
Terceira Parte
O Livro Astronômico: Capítulo 72
O Sol
1 Livro do curso das luminárias celestes, dos relacionamentos
de cada uma segundo as suas classificações, do seu domínio e dos seus tempos,
segundo o seu nome, lugar de origem e meses, que me foram mostrados pelo seu
dirigente e meu acompanhante, o santo Anjo Uriel. Ele mostrou-me também como se
comportam em regime constante as suas leis e períodos anuais, até que seja
criada a nova ordem que haverá de durar eternamente.
2 A primeira lei das luminárias é a seguinte: a luz do
sol levanta-se nas portas do céu do Oriente e desce nas portas do céu do Ocidente.
Eu vi seis portões por onde o sol se levanta, e seis por onde se põe; também a
luz sobe e desce por aqueles portões, e da mesma forma fazem as
estrelas-líderes e as suas lideradas; seis ao Leste e seis ao Oeste, e todas
seguem em perfeita ordem umas em relação às outras. A direita e à esquerda
daqueles portões há muitas janelas.
3 Primeiro se apresenta a grande luminária, o sol; a
sua forma esférica assemelha-se à do céu; ela está preenchida de fogo brilhante
e calorífico. Os carros que o levam são conduzidos pelo vento. Ao descer, o sol
desaparece do céu e volta ao Oriente pelo Norte, sendo conduzido de tal sorte a
chegar àquele portão determinado, para então voltar a brilhar no céu.
4 Dessa forma, no primeiro mês ele sai pelo portão
grande; é o quarto dos seis portões do Oriente. Naquele quarto portão, por onde
o sol se levanta no primeiro mês, encontram-se doze aberturas de janelas, por
onde sai uma chama de fogo, quando a seu tempo forem abertas.
5 Ao levantar-se o sol no céu, ele sai pelo quarto portão
durante o período de trinta manhãs e dirige-se diretamente ao quarto portão
celeste ocidental, para nele desaparecer. Naqueles dias as jornadas são mais
longas e as noites mais curtas, até à trigésima manhã.
6 Nesse dia, a jornada é duas partes mais longa do que
a noite, contendo o dia exatamente dez partes, e a noite, oito. O sol,
portanto, sobe por aquele quarto portão, e pelo quarto desce; depois disso, ele
passa para o quinto portão oriental, pelo período de trinta manhãs; por esse
portão se levanta e pelo quinto portão desce.
7 Então o dia fica duas partes mais longo, comportando
onze partes; a noite, porém, fica mais curta, comportando sete partes. Após
isso, no seu retorno ao Oriente, o sol chega ao sexto portão; por esse sexto
portão se levanta e se põe, pelo período de trinta e um dias, por causa do seu
sinal (solstício do verão).
8 Naquele dia, a jornada será mais longa do que a
noite, e o dia comporta o dobro da noite; ele compõe-se então de doze partes, e
a noite fica mais curta, compondo-se de seis partes.
9 O sol então prossegue, fazendo com que o dia seja
mais curto e a noite mais longa; quando volta ao Oriente, ele entra no sexto
portão, e por ele sobe e desce, pelo período de trinta manhãs. Passadas as
trinta manhãs, o dia perde exatamente uma das suas partes, comportando então
onze partes, e a noite, sete.
10 Após isso, o sol sai daquele sexto portão do
Ocidente, volta ao Oriente e entra pelo quinto portão, pelo período de trinta
manhãs, e pelo quinto portão desce no Ocidente. Naquele dia, a jornada perde
duas de suas partes; o dia então abrange dez partes e a noite, oito.
11 Assim, o sol sai pelo quinto portão e entra pelo
quinto portão ocidental; depois disso ele sai pelo quarto portão pelo período
de trinta e um dias, por causa do sinal, e desce no Ocidente. Naquele dia, a
jornada é igual à noite; tem a mesma duração, comportando a noite nove partes,
e o dia, outro tanto.
12 Assim o sol se levanta daquele portão e desce no
Ocidente; depois ele volta ao Oriente, para sair do terceiro portão pelo
período de trinta manhãs, descendo no terceiro portão ocidental.
13 Naquele dia, a noite será mais longa do que o dia,
sendo mais longa do que as noites usuais, e a jornada mais curta do que as
jornadas habituais; e isso até à trigésima manhã, comportando então a noite
exatamente dez partes, e o dia, oito.
14 Dessa forma, o sol se levanta do terceiro portão,
desce no terceiro ocidental e toma ao Oriente; depois disso, ele passa a
aparecer pelo segundo portão oriental, durante trinta manhãs, e desce igualmente
no segundo portão celeste ocidental. Nesse dia, a noite terá onze partes, e o
dia, sete.
15 Nesse dia, o sol se levanta pelo segundo portão, e
no segundo ocidental se põe; depois toma ao Oriente, voltando ao primeiro
portão pelo espaço de trinta e um dias, e descendo no primeiro portão
ocidental. Nesse dia, a noite será mais longa e comporta o dobro do dia; ela
envolve exatamente doze partes, e o dia, seis.
16 O sol terá então completado o seu período
principal, e nesse momento inicia o retomo sobre o mesmo período; pelo espaço
de trinta manhãs ele aparece por aquele portão e desce igualmente no Ocidente,
no que lhe está defronte. Nesse dia, a duração da noite será uma parte mais
curta, comportando onze partes, e o dia, sete.
17 O sol, então, no seu retomo, chega ao segundo
portão oriental, fazendo o caminho de volta do seu período; por esse portão
sobe e desce durante trinta dias. Nesse dia, a noite terá duração mais curta;
comportará dez partes, e o dia, oito.
18 Nesse dia o sol aparecerá pelo segundo portão e
descerá pelo portão ocidental correspondente. Então volta ao Oriente, para
aparecer pelo terceiro portão, pelo espaço de trinta e um dias, descendo no céu
ocidental correspondente.
19 Nesse dia, a noite estará diminuída, comportando
nove partes; e o dia e a noite terão igual duração. Dessa forma, o ano comporta
exatamente 364 dias.
20 O comprimento do dia e da noite, bem como a
brevidade do dia e da noite são determinados na sua diferenciação pelo percurso
do sol. Por isso, o seu curso diário fica a cada noite mais curto.
21 E esta a lei, e este é o percurso do sol e o seu
retomo. Por sessenta vezes ele volta, para de novo aparecer; e ele é o grande
luminar, por todos os tempos.
22 Esse que assim surge é o grande luminar, e assim se
chama por causa da sua aparência, por determinação do Senhor. Assim como se
levanta, assim também desce; ele não diminui nem descansa, mas caminha dia e
noite, e a sua luz é sete vezes mais brilhante do que a da lua. Em tamanho,
porém, ambos são iguais.
Capítulo 73
A Lua
1 Depois dessa lei, eu vi outra, referente ao luminar
pequeno, que é a lua. O alcance do seu giro é equivalente ao do céu; o carro
sobre o qual ela anda é conduzido pelo vento e a luz lhe é proporcionada
segundo medidas.
2 A cada mês alteram-se seu nascimento e seu ocaso;
seus dias são semelhantes ao dias solares, e quando sua lua é uniforme,
comporta uma sétima parte da luz do sol.
3 E assim que ela se apresenta: sua primeira fase
aparece no Oriente na trigésima manhã; nesse dia ela fica visível, e assim
começa para vós a primeira fase da lua, no trigésimo dia, aparecendo juntamente
com o sol, pelo mesmo portão.
4 Ela mostra então uma sétima parte de uma das suas
metades, e todo o restante do seu disco é vazio e sem luz, à exceção de um
sétimo e um quarto de sétimo da metade da sua luz.
5 Quando ela recebe um sétimo da metade da sua luz.
então a sua luminosidade comporta um sétimo e a metade de um sétimo. Ela se põe
junta-mente com o sol; e quando o sol se levanta, levanta-se também a luz, e
recebe a metade de uma das partes da luz. E naquela noite, no início da sua
manhã no princípio do seu período, ela põe-se juntamente com o sol, e na mesma
noite ela fica invisível nas quatorze partes e metade de uma.
6 Naqueles dias, ela brilha com um sétimo do seu todo,
levanta, principia a afastar-se do sol e nos dias restantes deixa brilharem as
outras treze partes.
Capítulo 74
1 Então eu vi também um outro movimento e sua lei,
pelo qual ela cumpre o seu ciclo mensal. O santo Anjo Uriel, que preside a
todas as luminárias, mostrou-me tudo, e eu anotei as suas posições da forma
como ele me explicava; anotei também os seus meses, da forma como eram, e as
manifestações da sua luz, no decurso de quinze dias.
2 A cada dia dos sete primeiros ela cresce, até
tornar-se plena a sua luz; e a cada dia dos sete seguintes ela míngua, até
tornar-se completamente invisível no Ocidente. Em determinados meses, ela
altera o seu ocaso, e em determinados meses percorre o seu curso próprio.
3 Em dois meses a lua desce com o sol nos dois portões
do meio, o terceiro e o quarto. Durante sete dias ela se levanta, para retomar
àquele portão em que nasce o sol; a sua luz então estará cheia. Vagarosamente
ela retrocede em relação ao sol, e chega no oitavo dia ao sexto portão, por
onde se levanta o sol.
4 Quando o sol está nascendo no quarto portão, a lua
se levanta por sete dias, até chegar a sair pelo quinto portão; depois, em sete
dias, volta ao quarto portão, faz a sua luz cheia, e então ela volta e no
decurso de oito dias estará no primeiro portão.
5 Em sete dias estará mais uma vez de volta ao quarto
portão, por onde sai o sol. Assim, observei suas posições e a forma como nesses
dias a lua nasce e o sol se põe. Juntando-se cinco anos, o sol terá, em virtude
daqueles ciclos, uma vantagem de trinta dias. Os dias todos, contados os que se
acrescentam aos dias plenos, perfazem 364 dias.
6 A vantagem do sol e das estrelas é de seis dias; em
cinco anos, com seis dias cada um, serão trinta dias; em relação ao sol e às
estrelas, a lua se atrasa trinta dias.
7 O sol e as estrelas são todos os anos a tal ponto
exatos que em nenhum dia se adiantam ou se atrasam nas suas posições; ao
contrário, todos eles perfazem o ciclo anual em precisamente 364 dias. Em três
anos, serão 1.092 dias; em cinco anos, 1.820 dias e em oito anos, 2.912 dias.
8 Quanto à lua, três anos perfazem 1.062 dias e em
cinco anos leva um atraso de cinqüenta dias, isto é, à soma de 1.770 devem ser
acrescentados 1.000 mais 62 dias. Pois em oito anos ela se atrasa oitenta dias;
são oitenta os dias todos do seu atraso em oito anos.
9 O ano completa-se corretamente segundo as estações
do mundo e segundo as estações do sol, as quais têm sua origem nos portões por
onde o sol nasce e se põe pelo espaço de trinta dias.
Capítulo 75
Dias bissextos, as estrelas e a lua
1 Os comandantes dos Quiliarcos, que foram
estabelecidos sobre toda a criação e sobre todas as estrelas, têm igualmente a
ver com os quatro dias bissextos; pela sua função, eles estão intimamente
ligados à contagem do ano. Eles exercem a sua influência nos quatro dias que
devem ser acrescidos no cômputo do ano.
2 E por causa deles que os homens erram nos cálculos.
Eles cumprem a sua função exata nas estações do ano, um no primeiro portão,
outro no terceiro, outro no quarto e outro no sexto, e a precisão do ano
realiza-se por meio das 364 estações do mundo.
3 Pois o Anjo Uriel mostrou-me os sinais e os tempos,
os anos e os dias. Isso foi estabelecido pelo Senhor da Glória, para sempre,
sobre todas as luminárias celestes, tanto no céu como no mundo, para que
dominem no céu e sejam vistas na terra, e para que presidam o dia e a noite, o
sol, a lua e as estrelas, bem como todos os outros corpos subalternos, que em
todos os possíveis carros celestes realizam o seu circuito.
4 Uriel mostrou-me igualmente doze aberturas de
portas, circundando o carro celeste do sol, e por onde saem os raios solares;
delas procede ao calor sobre a terra, quando abertas no seu tempo
preestabelecido. Mostrou-me também os ventos e o espírito do orvalho, quando
são soltos e se espalham nos confins do céu.
5 No alto do céu, nos extremos do mundo, eu vi doze
portões, por onde saem o sol, a lua, as estrelas e todos os outros corpos
celestes, tanto no Oriente como no Ocidente. A direita e à esquerda dessas
portas há muitas aberturas de janelas; e uma janela produz calor no seu devido
tempo, de acordo com as portas por onde saem as estrelas, da forma como Ele
ordenou, e por onde, conforme seu número, desaparecem.
6 Eu vi no céu carros que se movimentam por sobre
aqueles portões, transportando aquelas estrelas que não desaparecem jamais. E
uma delas é maior do que todas as outras, abrangendo o mundo todo.
Capítulo 76
A Rosa dos Ventos
1 Nos confins do mundo, eu vi doze portas que se
abriam em todas as direções; delas procedem os ventos que sopram sobre a terra.
Três delas abrem-se pelo lado da frente do céu, três para o Ocidente, três para
a direita do céu e três para a sua esquerda.
2 As três primeiras voltam-se para o Oriente, três
para o Norte, três à esquerda para o Sul e três para o Ocidente. De quatro
delas procedem ventos de bênção e de prosperidade e das oito restantes, ventos
perniciosos; quando estes são mandados, provocam devastações sobre toda a
terra, sobre suas águas e todos os seus habitantes, sobre todas as coisas que
se encontram na água e em terra firme.
3 O primeiro vento dessas portas chama-se vento leste
e procede da primeira porta oriental que se inclina para o Sul; dele provêm a
devastação, a seca, o calor e a destruição. Da segunda porta do meio procede um
vento favorável; ele traz a chuva e a fertilidade, o bem-estar e o orvalho. Da
terceira porta norte procedem o frio e a secura.
4 Depois, através de três portas, vêm os ventos do
Sul; em primeiro lugar, pela primeira porta voltada para o Leste, sopra um vento
quente. Através da vizinha porta do meio procedem os bons aromas, o orvalho, a
chuva, o bem-estar e a saúde. Da terceira porta, voltada para o Oeste, procedem
o orvalho, a chuva, os gafanhotos e a destruição.
5 Depois vêm os ventos do Norte; da sétima porta,
voltada para o Leste, chegam o orvalho, a chuva, os gafanhotos e a destruição.
Da porta situada exatamente no meio procedem a chuva, o orvalho, a saúde e o
bem-estar. Pela terceira porta, voltada para o Oeste, vêm a neblina, a geada, a
neve, o orvalho e os gafanhotos.
7 Em seguida vêm os ventos do Oeste; pela primeira
porta, voltada para o Norte, chegam o orvalho, a chuva, a geada, o frio, a neve
e as friagens. Da porta do meio procedem o orvalho, a chuva, a prosperidade e a
bênção; da última porta, voltada para o Sul, vêm a seca, a devastação, os
incêndios e a destruição.
8 Estas são as doze portas dos quatro quadrantes
celestes; mostrei-te, meu filho Matusalém, todas as suas leis, pragas e
benefícios.
Capítulo 77
Os quatro quadrantes celestes
1 A primeira região celeste chama-se Oriente, por ser
a da parte frontal. A segunda é o Sul, porque lá descerá o Altíssimo; lá,
especialmente, é que se apresenta o eternamente Louvado. O Ocidente designa-se
como subtração, pois lá todas as luminárias do céu diminuem e desaparecem.
2 A quarta região chama-se Norte e divide-se em três
partes. A primeira serve aos homens como lugar de sua habitação; a segunda..
compreende os mares de água, os vales, as matas, os rios, as sombras e a
neblina; a terceira constitui o Jardim da Justiça.
3 Eu vi sete montanhas altas, maiores do que todas as
demais da terra; delas procede a geada, e por elas diminuem os dias, os
períodos e os anos. Eu vi sete rios, que eram maiores do que os outros da
terra; um deles, a partir do Ocidente, derramava as suas águas no grande mar.
4 Dois deles procedem do Norte, em direção ao mar, e
derramam suas águas no mar da Eritréia, ao Leste. Os quatro restantes procedem
do lado Norte e fluem para o seu mar próprio; dois no mar da Eritréia e dois no
grande mar; diz-se também: no Deserto. Eu vi sete ilhas grandes, no mar e na
terra firme; duas em terra e cinco no grande mar.
Capítulo 78
As fases da lua
1 Os nomes do sol são os seguintes: o primeiro é
Orjares e o segundo, Tomás. A lua tem quatro nomes: o primeiro é Asonja, o
segundo Ebla, o terceiro, Benase e o quarto, Erae. Esses são os dois grandes
luminares; a sua abrangência equivale à do céu, e o tamanho de ambos é o mesmo.
2 No globo solar existem sete partes de luz; elas
superam a luz da lua, que, segundo medida exata, comporta apenas uma sétima
parte da luz do sol. Ao descerem, o sol e a lua chegam aos portões do Ocidente,
fazem o caminho de volta pelo Norte, para de novo nascerem nos céus pelos
portões do Oriente.
3 Quando a lua aparece, apresenta-se no céu com a
décima quarta parte da sua luz; mas em quatorze dias será lua cheia.
Atribuem-se-lhe também quinze partes, de sorte que a sua luz é plena também no
décimo quinto dia, por causa do sinal do ano. Assim, ela assume quinze partes,
quando então se toma lua cheia, com um décimo quarto de acréscimo.
4 Ao diminuir, ela perde no primeiro dia a décima
quarta parte da sua luz, no segundo, a décima terceira, no terceiro, a
duodécima, no quarto, a undécima, no quinto, a décima, no sexto, a nona, no
sétimo, a oitava, no oitavo, a sétima, no nono, a sexta, no décimo, a quinta,
no undécimo, a quarta, no duodécimo, a terceira, no décimo terceiro, a segunda,
no décimo quarto, um décimo de quarto de toda a sua luz, e no décimo quinto
desaparece toda a sua luz restante. Em certos meses, a lua tem 29 dias, e uma
vez 28 dias.
5 Então Uriel mostrou-me uma lei relativa, referente à
lua quando banhada pela luz, e de que parte lhe vem a luz solar. Durante todo o
tempo em que a lua cresce em sua luz, ela aumenta, estando por quatorze dias de
frente para o sol, até tomar-se plena a sua luminosidade no céu. No primeiro
dia ela se chama lua nova, pois nesse dia a luz começa a projetar-se nela.
6 Toma-se lua cheia exatamente no dia em que o sol
desce no Ocidente; quando já escuro, ela nasce e brilha durante toda a noite,
até que o sol se levante, de frente para ela, e ela é vista de frente para o
sol. Pelo lado em que a luz da lua avança, pelo mesmo lado também começa a
diminuir, até desaparecer toda a sua luz, ao final de todos os dias do mês, e
seu disco se tomar vazio e desprovido de luz.
7 Em três dos seus meses, a lua tem trinta dias e, em
época determinada, há três meses de vinte e nove dias, nos quais efetua a sua
diminuição no primeiro período, exatamente no primeiro portão, comportando isso
177 dias. No período do seu decréscimo, em três meses brilha trinta dias, e em
três meses, 29 dias. De noite, ela aparece por uns vinte dias como um homem; de
dia, ela se assemelha ao céu, pois nela não há nada além da sua luz.
Capítulo 79
1 E assim, meu filho Matusalém, eu te mostrei tudo, e
a descrição das leis dos corpos celestes chegou ao fim. Ele revelou-me todas as
suas leis relativas a cada dia, a cada período de dominação, a cada ano com o
seu término, bem como a ordem preestabelecida para cada mês e para cada semana;
e a par disso o minguar da lua, que ocorre no sexto portão, pois nesse portão a
sua luz é cheia, começando em seguida o seu decréscimo.
2 O declínio, que a seu tempo começa no primeiro
portão, tem a duração de 177 dias, calculados em 25 semanas e dois dias. Ela se
atrasa em relação ao sol e à ordem das estrelas exatamente cinco dias a cada
período, quando bem medido esse espaço, como vês. Essa é a imagem e o retrato
de cada um dos corpos luminosos como foi-me mostrado pelo seu dirigente, o
Arcanjo Uriel.
Capítulo 80
A influência sobre a natureza
1 Naqueles dias, falou-me o Anjo: "Eu te mostrei
tudo, Enoque, e tudo te revelei para que pudesses contemplar esse sol e essa
lua, bem como as constelações dirigentes das estrelas do céu, e todas as que as
fazem girar, suas funções, seus tempos e seus ocasos.
2 "Nos dias do pecado, os anos ficarão mais
curtos; as sementeiras atrasar-se-ão nas terras e nos campos; todas as coisas
alterar-se-ão sobre a terra, e não acontecerão mais no seu devido tempo; a
chuva desaparecerá e o céu se fechará.
3 "Naqueles dias tardarão os frutos da terra, não
se desenvolvendo a seu tempo; igualmente as frutas das árvores sofrerão atraso
no seu tempo. A luz alterará a sua ordem, deixando de aparecer com sua
regularidade. Naqueles dias, ver-se-á o sol da tarde andando no último grande
carro em direção ao Ocidente e brilhando mais forte do que normalmente.
4 "Muitas estrelas-líderes transgredirão a ordem,
alterarão os seus cursos e funções, não mais aparecendo no seu tempo
predeterminado. Toda a ordem das estrelas será obstruída pelos pecadores, e os
pensamentos dos habitantes da terra incorrerão em erro por causa deles;
desertarão de todos os seus caminhos; ficarão totalmente perdidos e
considerarão os pecadores como deuses.
5 "Recrudescerá a sua desgraça e sobrevirão
pragas que a todos haverão de destruir."
Capítulo 81
Fim das viagens de Enoque
1 Ele falou-me: "Observa, Enoque, estas tabelas
celestes! Lê o que nelas está escrito e atenta para cada detalhe!" Então
eu contemplei as tabelas celestes, observando tudo o que nelas continha; e li o
livro sobre as ações dos homens e de todos os filhos da carne que estarão sobre
a terra até a última geração.
2 A seguir, louvei o grande Senhor, o Rei Eterno da
Glória, por ter Ele criado todas as maravilhas do mundo. Dei glórias também ao
Senhor por sua magnanimidade e por causa dos filhos dos homens. Então eu disse:
"Feliz o homem que morre na retidão e no bem, e sobre o qual não foi
escrito nenhum livro de injustiça, e contra o qual não foi marcado um dia de
julgamento".
3 Então aqueles sete Santos tomaram-me e colocaram-me
sobre a terra, diante das portas da minha casa, dizendo as seguintes palavras:
"Anuncia tudo ao teu filho Matusalém e mostra a todos os teus filhos que
diante do Senhor nenhuma carne tem merecimento, pois é Ele o seu Criador!
4 "Deixar-te-emos ficar ainda um ano junto dos
teus filhos, até que tenhas transmitido as tuas últimas instruções; deverás
ensiná-las aos teus filhos, escrevê-las para eles, para a todos confirmar. No
segundo ano serás retirado do seu meio. Que seja forte o teu coração! Pois os
bons anunciarão a Justiça aos bons; o justo alegrar-se-á com o justo, e
mutuamente felicitar-se-ão.
5 "Os pecadores, porém, ficarão com os pecadores,
e os desertores perder-se-ão com os desertores. Aqueles que praticam a Justiça
morrerão por causa das obras dos homens e serão levados por causa dos atos dos
ímpios. Naqueles dias eles encerrarão suas palavras comigo, e eu chegarei junto
do meu povo e louvarei o Senhor do mundo."
Capítulo 82
Fim do Livro Astronômico
1 Portanto, meu filho Matusalém, relatei-te tudo isso
e tudo escrevi para teu uso; revelei tudo e passei às tuas mãos os livros
contendo todas essas coisas. Meu filho Matusalém! Guarda os livros recebidos do
teu pai e transmite-os às gerações do mundo! Eu transmiti a sabedoria a ti e ao
teu filho, bem como aos teus demais descendentes, para que eles a transmitam
aos seus filhos por todos os tempos; e essa sabedoria supera os seus
pensamentos.
2 Mas aqueles que a entendem não dormirão e terão
ouvidos atentos para compreender tal sabedoria, e ela será, para os que a
desfrutarem, mais deliciosa que todas as iguarias.
3 Felizes são todos os justos; abençoados todos
aqueles que andam nas sendas da Justiça e não pecam, como fazem os pecadores em
todos os dias da sua vida, enquanto o sol caminha no céu, nasce e se põe nos
portões durante trinta dias, com os quiliarcos da ordem estelar, incluídos os
quatro dias que se intercalam e que dividem os quatro períodos do ano; esses
dias comandam os períodos e integram-nos pelo tempo de quatro dias.
4 E por causa deles que os homens erram ao não
incluí-los no cômputo total do ano; sim, os homens enganam-se por causa deles,
por não os conhecerem com exatidão. Eles pertencem à contagem do ano e estão
fielmente consignados para sempre, um no primeiro portão, outro no terceiro,
outro no quarto, e o último, no sexto; assim o ano se completa em 364 dias.
5 O relato acima é fiel, e a conta apresentada é
exata, pois Uriel mostrou-me e revelou-me o curso dos astros, os meses, os
períodos dominantes, os anos e os dias, pois, segundo me foi dado saber, o
Senhor de toda a criação concedeu-lhe o poder sobre as legiões celestes. Ele
exerce o comando sobre a noite e sobre o dia, nos céus, para que o sol, a lua e
as estrelas, e todas as potências celestes que giram ao seu redor, derramem a
sua luz sobre os homens.
6 Essa é a ordenação dos astros que, nos seus devidos
lugares, tempos, predomínios e meses descem no Ocidente. Vêm a seguir os nomes
dos seus líderes, que velam por eles para que a seu tempo cumpram os seus
regulamentos, tempos, meses, períodos de apogeu e estações.
7 Primeiro entram os quatro dirigentes que dividem as
quatro estações do ano; em seguida vêm os doze dirigentes que repartem os
meses, sendo os quiliarcos responsáveis pela divisão de 360 dias. Os dirigentes
das quatro estações são os responsáveis pelos quatro dias bissextos.
8 Os quiliarcos inserem-se entre um dirigente e outro,
cada um atrás de uma estação; mas são os seus dirigentes que realizam a
divisão. Estes são os nomes dos dirigentes que repartem o ano em quatro
períodos: Milkiel, Helemmelek, Melejal e Narel. Os nomes dos que são por eles
comandados são: Adnarel, Ijasusael e Elomeel; esses três seguem os taxiarcos, e
estes os toparcos, que dividem as quatro estações do ano.
9 No princípio do ano apresenta-se antes de todos
Melkejal, e é ele quem assume o comando; ele se chama também Tamaani e Sol; os
dias em que ele predomina, e dirige, são ao todo 91. E são os seguintes os
sinais do dia que se mostram durante seu predomínio sobre a terra: suor, calor
e ânsia. Todas as plantas carregam seus frutos e todas as árvores estão
cobertas de folhas; é o tempo da colheita do trigo e do florir das rosas. Todas
as flores desabrocham no campo; mas as plantas de inverno fenecem.
10 Os nomes dos seus subordinados são os seguintes:
Berkael, Zelebseel e um outro que foi acrescentado aos quiliarcos e se chama
Hilujaseph. E assim se encerram os dias de predomínio desses dirigentes. O
próximo dirigente, após eles, é Helemmelek, que também se denomina Sol
Brilhante e cujo período de esplendor perfaz ao todo 91 dias.
11 Os seus sinais sobre a terra são os seguinte: calor
intenso e secura. As plantas amadurecem os seus frutos e deixam-nos cair
rapidamente; as ovelhas cruzam e ficam prenhes; todos os frutos da terra são
recolhidos, assim como tudo o que cresce nos campos; e também o vinho é
guardado. E isso o que acontece nos dias do seu predomínio.
12 Os nomes e a ordem dos dirigentes dos quiliarcos:
Gidaijal, Keel e Heel, e o nome do quiliarco que a eles se junta é Asphael. E
com isso encerram-se os dias do seu predomínio.
Quarte Parte
O Livro Histórico: capítulo 83
A primeira visão
1 Meu filho Matusalém! Desejo agora revelar-te todas
as visões que tive; descrevo-as na tua presença. Duas visões tive antes de
tomar esposa, sendo uma diferente da outra. A primeira vez foi quando eu
aprendia a escrever; a segunda, antes de casar-me com tua mãe. As imagens que
eu vi foram espantosas. Por causa delas, levei minhas súplicas ao Senhor.
2 Havia-me deitado na casa do meu avô Mahalaleel.
Então vi em visão que o céu entrava em colapso, desabava e caía sobre a terra.
E quando se abateu sobre a terra vi que ela foi engolida por um grande abismo,
no qual montanhas caíam sobre montanhas, colinas sobre colinas e árvores altas
eram arrancadas e, rodopiando, desabavam nas profundezas.
3 Então minha boca proferiu estas palavras em alta
voz: "A terra está destruída!" Nesse momento fui despertado por meu
avô, em cuja casa eu estava, e que assim me falou: "Meu filho! Por que
gritaste?" Contei-lhe então a visão que havia tido, e ele disse-me:
"Meu filho! Tu viste algo espantoso, e o teu sonho é muito importante com
relação aos segredos de todos os pecados sobre a terra; esta deverá ser
arremessada no abismo e sofrer uma grande ruína.
4 "E agora, meu filho, levanta-te! Suplica ao
Senhor da Glória — pois tu és crente — que salve uma parte do que está na terra
e não a aniquile por completo! Meu filho! Tudo isso vem do céu e cai sobre a
terra, e sobre esta então acontecerá uma grande desgraça."
5 Então eu me ergui, orei e implorei, e dei por
escrito a minha oração para as gerações da terra. Agora, meu filho Matusalém,
eu desejo revelar-te tudo. Saí ao ar livre. Vi o céu, o nascer do sol no
Oriente e o descer da lua no Ocidente, algumas estrelas e a terra toda, e tudo
quanto Ele, desde o princípio, havia firmado. Então louvei o Senhor da Justiça
e exaltei-o por haver permitido que o sol nasça pela janela do Nascente, se
levante pela parte exterior do céu, suba e desça, para depois de novo percorrer
o seu caminho preestabelecido.
Capítulo 84
1 Então eu ergui as minhas mãos em justiça e louvei o
Santo e Poderoso; eu falava com o sopro da minha boca e com a minha língua
carnal, que Deus fez para os filhos da carne humana, a fim de que pudessem
falar. Sim, Ele concedeu-lhes o alento, a língua e a boca para que pudessem
pronunciar palavras.
2 Louvado sejas Tu, Rei, Senhor, em tua imensa
grandeza e poder, soberano de toda a criação celeste, o Rei dos reis, Deus do
mundo inteiro! Teu poder permanece por toda a eternidade; e permanecem tua
realeza, tua magnificência e teu império por todas as gerações. Todos os céus
são para sempre o teu trono; e toda a terra é perpetuamente o escabelo dos teus
pés.
3 Tudo foi por Ti criado e tudo governas; nada para Ti
é impossível. A Sabedoria jamais se afasta do teu trono, nem se aparta da tua
presença. Tudo sabes, tudo vês, tudo ouves. Nada para Ti é oculto, mas tudo é
manifestado aos teus olhos.
4 Mas agora os Anjos do teu céu são culpados de um
pecado, e a tua ira se estende a toda a carne humana, até o dia do grande
Julgamento. Entretanto, Deus, Senhor, grande Rei, eu rogo e suplico, atende ao
meu pedido. Permite que descendentes meus ainda permaneçam sobre a terra! Não
aniquiles toda a carne humana! Não deixes a terra vazia de homens, numa
destruição completa e eterna!
5 "Ouve, meu Senhor! Elimina da terra tão-somente
aquela carne que provocou a tua ira! E confirma a carne da Justiça e da
retidão, como o germe de uma semente duradoura! Não escondas a tua face,
Senhor, diante da súplica do teu servo!
Capítulo 85
Segunda visão: de Adão até o Messias
1 Depois eu tive um outro sonho. Meu filho! Desejo
explicar-te completamente esse sonho. Então Enoque principiou e disse ao seu
filho Matusalém: Meu filho! Dirijo-te a palavra e digo: Escuta a minha voz e
inclina os teus ouvidos para o relato da visão do teu pai!
2 Antes que eu tomasse a tua mãe Edna por esposa,
estando deitado no meu leito, eu tive um sonho. Saiu um touro da terra, e ele
era branco. Depois dele, saiu uma novilha, e com ela vieram dois touros, um
preto e o outro vermelho. O touro preto atacou o vermelho, perseguindo-o pela
terra, e por isso não pude mais vê-lo.
3 Aquele touro preto cresceu; então chegou junto dele
uma novilha, e eu vi como muitos bezerros procederam dele, pareciam-se com ele
e o seguiam. Aquela primeira vaca agora se afastou do primeiro touro, para
procurar o touro vermelho; como não o encontrasse, emitia mugidos de dor e
continuava a procurá-lo.
4 Eu olhei e vi quando aquele primeiro touro se
aproximou dela e acalmou-a; a partir daquele momento ela deixou de mugir.
Depois ela pariu um outro touro, branco; e depois dele produziu ainda muitos
touros e vacas.
5 E eu vi no meu sonho como aquele touro branco também
cresceu, tomando-se grande. Dele procederam muitos touros brancos, parecidos
com ele. Eles começaram a produzir muitos touros brancos, semelhantes a eles,
um após outro.
Capítulo 86
1 E mais coisas ainda eu vi durante o sono. Caiu do
céu uma estrela; depois ela ergueu-se e começou a comer e a pastar entre
aqueles novilhos. Depois disso, eu vi como os novilhos grandes e pretos
segregaram-se com suas vacas, os seus cercados e pastagens, e começaram a viver
entre si.
2 Em seguida, vi ainda outra coisa. Olhei para o céu e
vi muitas outras estrelas que caíam junto daquela primeira, e transformavam-se
em touros entre aquelas vacas, e com elas pastavam. Enquanto eu observava, vi
como todos eles mostravam os seus membros íntimos, como os cavalos, e começavam
a cobrir as fêmeas daqueles novilhos, e estas ficaram prenhes e pariram
elefantes, camelos e jumentos.
3 E todos os novilhos tinham medo deles e diante deles
se aterrorizavam; pois eles começaram a mordê-los, a estraçalhá-los e a
agredi-los com as suas presas. Depois começaram a devorar aqueles novilhos.
Então todos os filhos da terra passaram a apavorar-se, a tremer e a fugir.
Capítulo 87
1 Vi depois como eles começaram a agredir-se e a
destruir-se mutuamente. Então a terra levantou um grande clamor. Depois ergui
mais uma vez os olhos para o céu, e na visão observei que de lá desciam seres
que eram semelhantes a homens brancos. Um deles vinha na frente e três o
seguiam.
2 Esses três que vinham atrás tomaram-me pela mão e
arrancaram-me do convívio das gerações humanas, levando-me a um ponto muito
elevado, onde me mostraram uma torre que se elevava da terra e diante da qual
todas as elevações eram inferiores. Disseram-me: "Fica aqui, para que
possas ver tudo o que acontecerá com os elefantes, camelos, asnos, estrelas,
novilhos e tudo o mais!"
Capítulo 88
1 Então eu vi como um daqueles quatro que chegaram
amarrou as mãos e os pés da primeira estrela que caiu do céu e arremessou-a num
abismo; e aquele abismo era estreito e profundo, assustador e tenebroso.
2 Um deles desembainhou sua espada e entregou-a
àqueles elefantes, camelos e jumentos; estes então começaram a ferir-se uns aos
outros. E por causa deles toda a terra tremia.
Capítulo 89
1 Um daqueles quatro aproximou-se do touro branco e
transmitiu-lhe um segredo que fez com que o touro começasse a tremer. Havia
nascido como touro, mas agora estava transformado em homem, construíra para si
um grande barco e passara a morar nele; também outros três touros moravam com ele
no barco, e este foi coberto com um telhado.
2 Então levantei mais uma vez os meus olhos para o céu
e vi um grande telhado provido de sete calhas; e essas calhas despejavam grande
quantidade de água num pátio. Observei ainda e vi como começaram a brotar vertentes
naquele grande pátio, e a água principiou a subir, cobrindo a superfície; vi
depois como todo o pátio ficou alagado pela água.
3 As águas, a escuridão e a névoa intensificaram-se.
Observando a altura daquela inundação, vi que a água já se elevava por sobre
aquele pátio, fazendo-o submergir, e estendia-se sobre a terra. E todos os
animais estavam comprimidos naquele pátio, e eu vi como eles foram submersos e
engolidos, perecendo naquela água.
4 Mas o barco flutuava sobre as águas, enquanto que os
novilhos, os elefantes, os camelos e os jumentos, juntamente com todos os
outros animais, foram ao fundo, de sorte que não mais pude vê-los. Não puderam
escapar, pois afundaram e desapareceram nas profundezas.
5 Olhando de novo para a visão, vi que aquelas bicas
se estancavam; os vales da terra estavam nivelados, mas outros abismos se
abriam. As águas então começaram a fluir para aqueles abismos, até que a terra
de novo apareceu. Mas o barco estava assentado sobre a terra; e então a
escuridão começou a dissipar-se, e voltou a luz.
6 Então o touro branco, que se transformara em homem,
saiu do barco, e com ele os três touros que o acompanhavam. Um deles era
branco, como o primeiro, outro era vermelho como o sangue e o último era preto;
e o primeiro touro branco afastou-se deles.
7 Então estes começaram a produzir animais selvagens e
pássaros, e assim muitas espécies apareceram: leões, tigres, cachorros, lobos,
hienas, javalis, raposas, coelhos, porcos, gaviões, milhafres, águias, corvos e
abutres; entre eles veio ao mundo um touro branco. Começaram então a morder-se
entre si. Mas aqueles touro branco, que dentre eles nasceu, gerou um asno
selvagem e também um touro branco; e o asno selvagem multiplicou-se.
8 Mas aquele touro branco por ele gerado produziu um
porco selvagem preto e um carneiro branco; o porco selvagem gerou muitos
porcos, mas o carneiro produziu doze cordeiros. Quando esses cordeiros
cresceram, entregaram um deles aos asnos, e esses asnos o entregaram aos lobos;
e assim ele cresceu entre os lobos.
9 Então o Senhor permitiu que os doze cordeiros fossem
morar junto dele, e que juntamente com ele pastassem no meio dos lobos. E eles
cresceram e converteram-se em numerosos rebanhos de ovelhas. Então os lobos
começaram a ter medo deles e passaram a oprimi-los, chegando finalmente a matar
os seus recém-nascidos. E jogavam os seus filhotes num rio caudaloso. Então
aquelas ovelhas principiaram a clamar por causa dos seus filhotes,
lamentando-se junto ao seu Senhor.
10 Então um dos cordeiros, que havia sido salvo dos
lobos, escapou e refugiou-se entre os asnos selvagens. E eu vi como as ovelhas
se lamentavam, ela lamentava e suplicavam ao seu Senhor com todas as suas
forças, até que aquele Senhor das ovelhas desceu do alto da sua morada, por
causa do seu clamor, e se pôs no meio delas e as apascentou.
11 Então Ele se dirigiu àquele cordeiro que havia
escapado dos lobos e falou-lhe a respeito deles, incumbindo-o de exortá-los a
que não molestassem as ovelhas. Então o cordeiro, por ordem do Senhor,
encaminhou-se para junto dos lobos; e outro cordeiro o acompanhava. Ambos se
apresentaram na assembléia daqueles lobos, falaram com eles, exortando-os a que
dali em diante não mais molestassem as ovelhas.
12 Eu vi depois que os lobos passaram a oprimir ainda
mais as ovelhas, e com toda a violência, e elas gritavam. Aí o Senhor das
ovelhas chegou e pos-se a castigar aqueles lobos. Estes então passaram a
lamentar-se, enquanto que as ovelhas se acalmavam e cessavam imediatamente seus
clamores.
13 Depois eu vi as ovelhas se afastarem de junto dos
lobos; estes, porém, tinham os olhos obcecados e moveram-se com toda a rapidez
na perseguição das ovelhas. E o Senhor das ovelhas as acompanhava, como seu
condutor, e todas elas o seguiam. Sua face era brilhante, merática, mas de aspecto
terrível.
14 E os lobos perseguiram as ovelhas até encontrá-las
junto a um mar. Então o mar dividiu-se ao meio e as águas ergueram-se de um
lado e de outro, diante dos seus olhos. Então o Senhor que conduzia as ovelhas
colocou-as entre elas e os lobos.
15 No momento em que os lobos não viram mais as
ovelhas, entraram mar a dentro em sua perseguição, correndo no seu encalço.
Porém quando viram o Senhor das ovelhas, deram meia-volta, fugindo da sua face.
Então o mar fechou-se, voltando à sua forma natural; as águas cresceram e
subiram, até cobrirem aqueles lobos.
16 Observei e vi como todos os lobos que perseguiam as
ovelhas foram tragados e afundaram. As ovelhas, porém, escaparam das águas e
chegaram a um deserto onde não havia nem água nem pastagem. Então começaram a
abrir os seus olhos e a ver; e eu percebi como o Senhor das ovelhas as
apascentava, provendo para elas água e capim, e como aquele cordeiro ia à
frente e as conduzia.
17 Então o cordeiro subiu ao cume do alto monte, e
depois o Senhor das ovelhas mandou que voltasse para junto delas. Depois disso,
eu vi o Senhor das ovelhas apresentar-se diante delas, e a sua aparência era
terrível e majestática; toda as ovelhas o viram e amedrontaram-se diante da sua
face.
18 Todas tiveram medo e tremiam diante d'Ele. Então
exclamaram junto ao cordeiro que as conduzia: "Não conseguimos resistir à
presença do nosso Senhor, nem encará-lo". Então o cordeiro, seu condutor,
subiu mais uma vez ao topo do rochedo. As ovelhas, porém, começaram a cegar-se
e a afastar-se do caminho que ele lhes mostrara; e o cordeiro não sabia de
nada.
19 Então o Senhor das ovelhas irou-se profundamente
com elas. Quando o cordeiro percebeu isso desceu do cume do rochedo, chegou
junto delas e encontrou-as na sua maioria cegas e renegadas. Diante do seu
semblante elas tiveram medo e tremeram, e quiseram voltar aos seus ovis.
20 Então o cordeiro levou consigo outros cordeiros,
aproximou-se das ovelhas desertoras e começou a matá-las. Então as ovelhas se
amedrontaram e o cordeiro conseguiu trazer de volta as desertoras aos seus
apriscos. Observei aquela visão e vi o cordeiro transformar-se em homem e
construir uma casa para o Senhor das ovelhas e nela introduzi-las todas.
21 Vi também quando aquele cordeiro que acompanhava o
cordeiro líder adormeceu; também vi que todas as ovelhas grandes sucumbiram, e
que em seu lugar se levantaram as menores. Chegaram depois a uma pastagem e
aproximaram-se de uma torrente de água. A seguir, o cordeiro condutor, que se
transformara em homem, separou-se delas e adormeceu. Então todas o procuraram e
levantaram um grande clamor.
22 Então eu vi que elas cessaram os seus queixumes por
causa do cordeiro e transpuseram a corrente de água. Depois, seguidamente,
novos cordeiros líderes passavam a ocupar o lugar dos que haviam adormecido e a
conduzi-las. Vi quando as ovelhas entraram numa região boa, numa terra
excelente e amável, e como elas pastavam à saciedade, e como nessa terra boa
aquela casa permanecia no meio deles.
23 Por vezes os seus olhos mantinham-se vigilantes,
outras vezes cegavam-se, até que se levantou um outro cordeiro para dirigi-las
e reconduzi-las ao aprisco; então permaneciam abertos os seus olhos. Mas os
cachorros, as raposas e os porcos do mato começaram a devorar aquelas ovelhas,
até que o Senhor delas chamou do seu meio um outro carneiro, na realidade um
bode, para conduzi-las.
24 Esse bode começou a atacar de ambos os lados
aqueles cachorros, raposas e porcos, até matar a muitos. Mas então abriram-se
os olhos do outro cordeiro, que viu como o bode renegava a sua dignidade entre
as ovelhas e começava a agredi-las e a pisá-las, comportando-se desonrosamente.
25 Então o Senhor das ovelhas enviou o cordeiro e
estabeleceu-o como carneiro e líder das ovelhas, no lugar daquele bode, porque
este se esquecera da sua dignidade. O cordeiro foi procurá-lo e falou com ele a
sós; então este erigiu-o em carneiro e constituiu-o líder e condutor das
ovelhas; entretanto, os cachorros continuavam a atacar as ovelhas.
26 O bode, porém, perseguia o cordeiro, e este partiu
e pos-se a salvo dele; e eu vi como aqueles cachorros levaram o bode à ruína.
Então levantou-se o segundo carneiro e conduziu as ovelhas pequenas. E as
ovelhas cresceram e se multiplicaram; e todos os cachorros, raposas e porcos
selvagens tinham medo e fugiam. Aquele carneiro, porém, atacava e matava todos
os animais predadores, e estes não tinham mais poder sobre as ovelhas e não
lhes tomavam mais nada.
24 E aquele carneiro criou muitas ovelhas; depois
adormeceu. Um pequeno cordeiro passou a ser carneiro em seu lugar, para liderar
e conduzir aquelas ovelhas. E a casa era vasta, e foi construída para essas
ovelhas; e na casa havia uma torre grande e alta, que foi construída para o
Senhor das ovelhas. A casa era baixa, mas a torre alcançava grande altura, e o
Senhor das ovelhas pairava sobre ela, e preparava-se para Ele uma mesa farta.
25 Vi depois como aquelas ovelhas de novo se
desencaminharam, andaram por muitos caminhos e abandonaram aquela casa. Então o
Senhor das ovelhas chamou algumas delas e mandou que fossem ter com as
desertoras; mas estas começaram a matá-las. Uma delas salvou-se, evadiu-se e
vociferou contra as ovelhas. Estas queriam matá-la, mas o Senhor das ovelhas
salvou-a da sanha delas, trouxe-a para junto de mim e deixou-a morar aqui.
26 Ainda muitas outras ovelhas Ele mandou para junto
delas, para exortá-las e lamentar-se por elas. Depois eu vi que todas elas se
perderam e ficaram cegas, após terem abandonado a casa do Senhor das ovelhas e
sua torre. Vi como o Senhor das ovelhas permitiu o derramamento de sangue junto
delas e seus rebanhos, quando elas efetivamente provocavam esse derramamento e
abandonavam o seu lugar.
27 Então Ele entregou-as aos leões, tigres, lobos,
hienas, raposas e todos os animais predadores e esses animais selvagens começaram
a estraçalhar aquelas ovelhas. Eu vi que Ele abandonou aquela sua casa e aquela
sua torre, e a todas ofereceu aos leões e a todos os animais selvagens para que
as rasgassem e devorassem.
28 Então eu comecei a exclamar com todas as minhas
forças e a invocar o Senhor das ovelhas, alertando-o sobre elas, pois que
estavam sendo dizimadas pelos animais selvagens. Ele, porém, não se moveu,
embora tudo visse; ao contrário, alegrava-se que elas fossem dilaceradas,
devoradas e rapinadas; abandonou-as à voracidade das feras e à pilhagem.
29 Então Ele chamou setenta pastores e entregou-lhes
aquelas ovelhas para que as pastoreassem. Falou a eles e aos seus
acompanhantes: "Cada um de vós, doravante, deverá apascentar as ovelhas, e
fazer tudo o que eu vos mandar! Vo-las entregarei bem contadas e vos direi
quais delas devem ser mortas. A estas havereis de matar!" Em seguida
confiou-lhes as ovelhas.
30 Então Ele chamou um outro e disse-lhe: "Fica
atento e observa tudo o que os pastores fizerem com essas ovelhas! Pois hão de
exterminar um número maior do que eu lhes ordenei. Anota toda morte e toda
transgressão que forem perpetradas pelos pastores, quantas ovelhas eliminam
segundo a minha ordem e quantas por seu próprio arbítrio; escreve tudo quanto
cada um deles em particular extermina!
31 "Relata-me depois tudo, segundo a conta de
quantos mataram por iniciativa própria e de quantos levaram à morte, para que
eu possa ter isso em mãos como testemunho contra eles e possa assim conhecer
todas as suas ações. Então poderei avaliar e ver se eles cumpriram as minhas
ordens ou não. Mas eles não devem saber de nada, e tu não comunicarás isso a
eles, nem os advertirás. Mas escreve as mortes que cada um executa, no seu
tempo, e relata-me tudo!"
32 Então eu vi como cada pastor pastoreava no seu
tempo. Eles começaram a eliminar e a matar mais do que lhes fora ordenado, e
abandonavam as ovelhas aos leões. E os leões e tigres devoraram a maior parte
daquelas ovelhas; com eles comiam também os porcos selvagens. Depois,
incendiaram a torre e demoliram a casa.
33 Então eu me entristeci profundamente por causa da
torre e porque foi destruída a casa das ovelhas. A partir desse momento, não vi
mais aquelas ovelhas entrando na casa. Os pastores e os seus companheiros
entregaram todas as ovelhas como pasto aos animais predadores. A cada um, no
seu tempo estabelecido, foi entregue um determinado número; e pelo outro foi
anotado num livro quantos cada um deles deveria eliminar.
34 E todos eliminaram e mataram mais do que estava
escrito. Então comecei a chorar e a lamentar-me por causa daquelas ovelhas.
Assim eu vi na visão como aquele escriba anotava um por um todos os que eram
mortos por aqueles pastores, dia por dia, e como ele levou e mostrou todo o
livro ao Senhor das ovelhas, e como ele revelou tudo o que eles fizeram e todas
quantas foram por eles dispersadas, principalmente todas quantas foram por eles
levadas ao extermínio.
35 E o livro foi lido na presença do Senhor das
ovelhas. Então Ele tomou o livro das suas mãos, leu-o, selou-o e o colocou de
parte. Depois eu vi os pastores apascentarem por doze horas. Então três
daquelas ovelhas voltaram; chegaram, entraram e começaram a recompor os
destroços da casa. Mas os porcos selvagens mantinham-nas afastadas, de sorte
que nada podiam fazer.
36 Depois começaram de novo a construir, como antes, e
ergueram a torre. Então voltaram a preparar de novo uma mesa na torre; todavia,
todo o pão posto sobre ela era contaminado e impuro. Mas apesar de tudo isso,
os olhos daquelas ovelhas estavam cegos, assim como estavam cegos os olhos dos
pastores, de sorte que nada podiam ver; e foram entregues em grande quantidade
aos seus pastores, para serem eliminadas, e estes as pisotearam e aniquilaram.
37 O Senhor das ovelhas permanecia calado até que
todas as ovelhas foram espalhadas pelo campo e misturadas aos outros animais; e
aqueles pastores não as salvaram da violência dos animais predadores. O escriba
do livro transportou-o então para o alto, mostrou-o e leu-o para o Senhor das
ovelhas e depois intercedeu por elas, suplicando, ao mesmo tempo em que
revelava todos os atos dos pastores e testemunhava contra todos eles diante
d'Ele. Então Ele tomou o livro, colocou-o de lado e afastou-se.
Capítulo 90
1 Eu vi como dessa forma pastorearam trinta e cinco
pastores, e cada um cumpriu o seu tempo, como seus antecessores; depois outros
acolheram, para pastoreá-las a seu tempo, cada pastor no seu período. Então na
visão eu vi chegarem todas as aves do céu, águias, gaviões, milhafres e
abutres; as águias, que comandavam todos os demais pássaros, começaram a comer
ovelhas, arrancando seus olhos e devorando suas carnes.
2 Então as ovelhas gritaram ao verem suas carnes
dilaceradas pelos pássaros. Quando eu vi isso, maldisse no meu sonho o pastor
que cuidava das ovelhas. Depois eu vi como aquelas ovelhas foram devoradas
pelos cachorros, pelas águias e pelos gaviões, que não deixavam nem carne, nem
pele, nem tendões, até sobrar apenas o esqueleto; depois caiu ao chão também
este, e assim o número de ovelhas se reduzia a cada dia.
3 Em seguida eu vi vinte e três pastores assumirem o
pastoreio, cumprindo vinte e três períodos. Depois, daquelas ovelhas brancas
nasceram cordeiros, que começaram a abrir os olhos, a ver e a exortar as
ovelhas. Mas, apesar de exortadas, as ovelhas não escutaram o que eles lhes
diziam, pois estavam surdas além de toda medida e seus olhos estavam
absolutamente apagados.
4 Depois observei na visão que corvos sobrevoavam
aqueles cordeiros, agarravam-nos, despedaçavam-nos e os engoliam. Vi crescerem
chifres nos cordeiros, mas os abutres os abateram. Vi depois um grande chifre
crescer em uma daquelas ovelhas; então abriram-se-lhes os olhos.
5 Aquela ovelha olhava pelas demais e exortava-as;
quando os carneiros viram isso, acudiram ao seu redor. Não obstante, as águias,
os gaviões, os abutres e os milhafres continuavam a dilacerar as ovelhas,
voavam livremente sobre elas e as devoravam. As ovelhas no entanto permaneciam
inertes; somente os carneiros davam o alarme e clamavam.
6 Então aqueles abutres começaram a agredir aquela
ovelha e a lutar com ela, procurando abater seu chifre; mas não o conseguiram.
Então eu vi que chegavam os pastores, as águias, os gaviões e os milhafres, e
gritavam aos abutres para quebrarem o chifre daquele Carneiro. Então
atacaram-no e lutaram com ele; e ele pediu ajuda.
7 Eu vi quando chegou aquele homem que anotara o nome
dos pastores para o Senhor das ovelhas; e ele prestou ajuda ao carneiro e
mostrou-lhe tudo. Ele havia descido para auxiliá-lo. Então eu vi como o Senhor
das ovelhas irou-se com eles; todos os que o viam escapavam, e diante da sua
face todos ficavam impotentes.
8 Águias, gaviões, milhafres e abutres juntaram-se,
trouxeram consigo todas as ovelhas do campo e tentaram quebrar o chifre do
Carneiro. E eu vi como aquele homem que escreveu o livro por ordem do Senhor
abriu o livro sobre o extermínio que aqueles últimos doze pastores perpetraram
e mostrou ao Senhor das ovelhas que eles haviam matado muito mais do que os
seus antecessores.
9 Vi como o Senhor das ovelhas chegou até eles,
empunhou o bastão da sua ira e golpeou a terra, e esta fendeu-se. Então todos
os animais e os pássaros do céu largaram aquelas ovelhas e desapareceram na
terra, que se fechou sobre eles. E vi como foi entregue uma grande espada às
ovelhas, que então partiram para atacar todos os animais do campo e matá-los.
Aí fugiram delas todos os animais e os pássaros do céu.
10 Eu vi que foi erigido um trono naquela terra
adorável, e o Senhor das ovelhas assentou-se sobre ele; e aquele outro homem
tomou os livros selados e abriu-os na presença do Senhor das ovelhas. Então o
Senhor chamou aqueles sete primeiros de branco e ordenou que trouxessem na sua
presença todas aquelas estrelas, cujos membros íntimos pareciam-se com os dos
cavalos, a começar pela primeira das estrelas que se afastou do caminho. Todas
elas então foram trazidas à sua presença.
11 Então Ele falou com aquele homem que na sua
presença escrevia, e que era um dos sete de branco, e disse-lhe: "Agarra
esses setenta pastores aos quais entreguei as ovelhas! Eles de fato se
encarregaram delas, mas mataram um número muito maior do que eu havia
estabelecido". Em verdade, eu vi todos eles sendo acorrentados na sua
presença.
12 A visão então concentrou-se antes de tudo sobre as
estrelas. Elas foram julgadas e sentenciadas, e por fim encaminhadas ao lugar
da condenação: Foram então lançadas num abismo cheio de fogo, labaredas e
colunas ardentes. Aqueles setenta pastores foram também julgados, sentenciados
e arremessados naquele tremedal de fogo.
13 Eu vi naquele dia abrir-se no meio da terra um
outro abismo semelhante ao primeiro, e também cheio de fogo. Foram trazidas
então aquelas ovelhas cegas; todas foram julgadas e sentenciadas e lançadas
naquele tremedal, e arderam. Esse abismo encontrava-se à direita daquela Casa.
Vi queimarem-se aquelas ovelhas até os seus ossos.
14 Então ergui-me para ver a antiga Casa sendo
desmontada. Foram recolhidas todas as colunas, juntamente com as vigas e os
ornamentos; depois tudo isso foi levado embora e colocado em um lugar ao Sul.
Vi em seguida como o Senhor das ovelhas trouxe uma nova Casa, mais ampla e mais
alta do que a anterior, colocando-a no lugar daquela primeira que havia sido
desmontada. Todas as suas colunas eram novas, e todos os seus ornamentos também
eram novos e maiores do que os da primeira velha Casa, que fora recolhida. E
todas as ovelhas moraram dentro dela.
15 Depois eu vi como ficaram derreados os animais da
terra e os pássaros do céu, que passaram a honrar aquelas ovelhas ainda
dispersas, e a elas rogavam e ficavam atentos às suas palavras. Depois disso,
aqueles três que estavam vestidos de branco e que anteriormente haviam-me
transportado para o alto, tomaram-me pela mão; também o Carneiro pousou a sua
mão sobre mim. Assim levaram-me para junto daquelas ovelhas e fizeram-me sentar
entre elas, antes do início do Julgamento.
16 Eram brancas todas aquelas ovelhas, e sua lã,
abundante e pura. Então chegaram àquela Casa todos os que foram mortos e todos
os que estavam dispersos, bem como todos os animais da terra e todos os
pássaros do céu, e o Senhor das ovelhas alegrou-se em verdade, porque todos
estavam bem e voltavam para sua Casa.
17 Então eu vi como eles depuseram aquela espada que
fora entregue às ovelhas, trouxeram-na até sua Casa e lacraram-na na presença
do Senhor. As ovelhas todas foram convidadas a entrar naquela Casa, mas esta
não comportava todas elas. Todas agora tinham os olhos abertos, de sorte que
enxergavam o bem, e entre elas não havia nenhuma que não visse corretamente. Eu
vi que aquela casa era grande, espaçosa e bem cheia.
18 Depois disso, eu vi que chegou ao mundo um touro
branco. Todos os animais do campo e todos os pássaros do céu temiam-no e a ele
dirigiam súplicas o tempo todo. Eu vi que todas as suas gerações se
transformaram e se converteram em touros brancos. O primeiro deles foi um
novilho, que se tornou um grande touro, ornando-se a sua cabeça de chifres
poderosos e pretos. Então alegrou-se o Senhor das ovelhas, alegrando-se também
com todos os novilhos.
19 Eu adormeci no meio deles; ao acordar, vi tudo. Foi
esta a visão que eu tive durante o sono. Ao despertar, louvei o Senhor da
Justiça e entoei-lhe um hino de gratidão.
20 Então rompi num choro alto, e minhas lágrimas não
se estancaram até sentir-me exausto. Voltando a considerar a visão, elas
tornavam a rolar por causa daquilo que eu vi. Pois tudo isso acontecerá e se
cumprirá. Toda a série das ações humanas foram-me reveladas. Naquela noite
lembrei-me do meu primeiro sonho. Também por ele chorei e senti-me abalado,
tendo sido espectador de tal visão.
Quinta Parte
O Livro Ascético: Capítulo 91
Exortações para a retidão e o apocalipse das dez
semanas
1 Agora, meu filho Matusalém, convoca todos os teus
irmãos e traze para junto de mim todos os filhos de tua mãe! Pois a Palavra me
chama e o Espírito desceu em mim, a fim de que eu possa revelar-vos tudo quanto
vos acontecerá por todos os tempos. Com isso, Matusalém afastou-se, chamou
todos os seus irmãos e reuniu toda a sua parentela.
2 Então Enoque falou a todos os filhos da justiça:
Escutai, ó vós, filhos de Enoque, todas as palavras do vosso pai, e prestai
ouvidos à voz da minha boca! Meus bem-amados, eu vos digo e exorto: Amai a
retidão e trilhai nos seus caminhos! Não vos acerqueis da honestidade com um
coração dividido e não trateis as pessoas com dupla intenção, mas andai na
retidão e na Justiça, meus filhos! Ela vos conduzirá por caminhos bons, e será
o vosso guia.
3 Pois eu sei que aumenta sobre a terra a violência, e
que um grande Julgamento acontecerá sobre ela; que toda injustiça terá um fim,
sendo cortada pela raiz, e que todo o seu edifício será abatido. Depois, uma
vez mais repetir-se-á a injustiça sobre a terra, e todas as obras da impiedade,
da violência e da arrogância chegarão a predominar em dobro.
4 Mas quando em todos os atos aumentarem o pecado, a
injustiça, a blasfêmia e a violência, e quando crescerem a apostasia, a
prepotência e a contaminação, então sobrevirá na terra um grande castigo do
céu, e o Senhor aparecerá com ira e indignação, para realizar o Julgamento da
terra. Naqueles dias, a prepotência será extirpada, e serão cortadas as raízes
da injustiça e da fraude, sendo então eliminadas da face da terra.
5 Todos os ídolos pagãos serão abandonados e seus
templos incendiados; ficarão banidos de toda a terra. Os pagãos serão lançados
ao castigo de fogo e estarão para sempre perdidos em virtude da ira e da
terrível condenação. Os justos, porém, despertarão do seu sono, e prevalecerá a
Sabedoria que lhes será outorgada.
6 De outra parte, serão cortadas as raízes da
injustiça, e os pecadores perecerão pela espada. Os blasfemos serão extirpados
naquele lugar, e aqueles que concebem a violência e que proferem ofensas
morrerão pelo gládio. Depois disso, sobrevirá uma outra semana, a oitava, a
semana da Justiça; e ser-lhe-á entregue uma espada para que se cumpra uma
sentença justa em relação aos que foram oprimidos, e sejam os pecadores
entregues às mãos dos justos.
7 Com o fim deles, os justos herdarão moradas, graças
à sua retidão, e será erigida uma grande casa para o Rei excelso na sua Glória,
para sempre. Depois, na nona semana, será conhecido o Julgamento justo, e todas
as obras dos ímpios desaparecerão da terra; o mundo dos maus será atirado à
ruína, e os homens todos haverão de buscar o caminho da retidão.
8 Depois, na décima semana, na parte sétima,
realizar-se-á o grande e eterno Julgamento, em que Ele executará o castigo dos
Anjos. O céu anterior acabará e se desvanecerá. Então haverá de aparecer um
novo céu, e todas as suas potências brilharão ao sétuplo, para sempre.
Seguir-se-ão muitas e inumeráveis semanas de bem e de retidão, por toda a
eternidade; e o pecado a partir de então nunca mais será mencionado, para todo
o sempre.
Capítulo 92
Exortações e advertências
1 Este é o livro escrito por Enoque. Enoque escreveu
real-mente esse ensinamento completo da Sabedoria, Sabedoria que é digna do
louvor de todos os homens e juíza de toda a terra, para todos os seus filhos
que hão de morar neste mundo e para as gerações futuras, obedientes à Justiça e
à paz.
2 Não se perturbe vosso espírito por causa dos tempos
maus! Pois Aquele que é grande e santo estabeleceu para todas as coisas o seu
tempo. O justo levantar-se-á do seu sono; sim, ele ressuscitará e andará nas
sendas da Justiça, e todos os seus passos tomarão o caminho do bem e da graça
sempiternos.
3 Ele será magnânimo para com o justo, concedendo-lhe
honra e poder; viverá o justo no bem e na retidão, e seus passos serão
iluminados pela luz eterna. O pecado ficará para sempre sepultado na escuridão,
e a partir daquele dia nunca mais aparecerá, por toda a eternidade.
Capítulo 93
1 Depois disso, Enoque começou a falar sobre o que
estava contido nos livros. Ele disse: Desejo falar-vos dos filhos da Justiça,
dos eleitos do mundo e da planta da retidão e da Verdade; sim, eu, Enoque,
anuncio-vos, meus filhos, tudo o que me foi desvelado na visão celeste, tudo o
que eu sei por intermédio da palavra do santo Anjo, e tudo o que aprendi das
tábuas divinas. Assim Enoque começou a falar dos livros, e disse: Eu fui o
sétimo a nascer na primeira semana, quando ainda tardava o Julgamento justo.
2 Depois de
mim, na segunda semana, surgirá grande maldade e grassará a mentira; nessa
semana acontecerá o primeiro dos fins, e nele um homem será salvo. Passado esse
fim, recrudescerá a injustiça e será escrita uma lei para os pecadores.
3 Depois, no fim da terceira semana, um homem será
apontado como a planta do Julgamento justo e a sua descendência constituirá a
árvore eterna da Justiça. Depois disso, ao término da quarta semana, serão vistas
as faces dos santos e dos justos, e firmar-se-á uma lei para todas as gerações
futuras e edificada uma corte para elas.
4 A seguir, no fim da quinta semana, será construída
em definitivo a Casa da Glória e da Realeza. Subseqüentemente, na sexta semana,
todos os que nela viverem tornar-se-ão cegos, e o coração de todos abandonará
impiamente a Sabedoria; mas um homem de entre eles subirá às alturas. No final
daquela semana, a Casa da Glória será incendiada e toda a geração da raiz dos
eleitos será dispersada.
5 Depois, na sétima semana, levantar-se-á uma raça
rebelde. Inúmeros serão os seus atos, mas todos eles atos de apostasia. No fim
daquela semana, serão selecionados os justos, extraídos da planta eterna da
Justiça para receberem um esclarecimento sétuplo sobre toda a sua criação.
6 Quem dentre todos os filhos dos homens poderia ouvir
a voz do Santo sem abalar-se? Quem poderia escrutar os seus pensamentos? Quem
teria a capacidade de encarar todas as obras do céu? Como poderia alguém olhar
de frente para o céu, ou quem poderia dominar todas as coisas que ele contém,
ver uma Alma ou um Espírito e sobre eles dar notícia, ou subir ao alto e
contemplar todos os confins, compreendê-los e repeti-los?
7 Quem dentre todos os homens poderia saber a largura
e o comprimento da terra e a quem foi revelada a medida de todas essas coisas?
Ou ainda, existe alguém que chegou a conhecer a extensão do céu, o quanto
alcança a sua altura, sobre o que se apóia, qual o número das estrelas e onde
repousam todas as luminárias?
Capítulo 94
1 Agora digo-vos, meus filhos: Amai a Justiça e
trilhai seus caminhos! Pois as sendas da Justiça conferem segurança, enquanto
que as vias da injustiça são passageiras e desaparecem num instante. Para
determinados homens de uma geração serão mostrados os caminhos da violência e
da morte; mas eles se manterão afastados deles e não os seguirão.
2 E digo-vos, ó justos: Não andeis pelas sendas do mal
nem pelos caminhos da morte! Não vos aproximeis deles, para não perecerdes;
buscai e escolhei para vós muito mais a Justiça e uma vida piedosa, e tomai os
caminhos da paz, para poderdes lucrar a vida e serdes felizes!
3 Guardai as minhas palavras no fundo do vosso coração
e não permitais que dele sejam arrancadas! Pois eu sei que os pecadores
tentarão desencaminhar os homens para corromperem a Sabedoria e bani-la do meio
deles; e não cessarão as tentações de toda sorte. Ai daqueles que promovem a
injustiça e a arrogância, e que colocam a fraude como sua pedra angular! Pois
eles serão derrubados num instante e não terão mais paz.
4 Ai daqueles que constroem as suas casas sobre
pecados! Pois serão arrancados dos seus fundamentos e perecerão pela espada; e
aqueles que se apóiam no ouro e na prata serão instantaneamente reduzidos ao
nada no Julgamento. Ai de vós, ricos! Pois confiastes na vossa riqueza e agora
deveis separar-vos dos vossos tesouros. Nos dias da vossa abundância não
pensastes no Altíssimo.
5 Blasfemastes contra Deus, praticastes a injustiça, e
com isso lucrastes o dia do derramamento de sangue, o dia das trevas, o dia do
grande castigo. Uma coisa eu vos digo e vos anuncio: Vosso Criador deseja
aniquilar-vos. Não haverá nenhum perdão pela vossa queda; ao contrário, o
Criador alegra-se com a vossa ruína. Então, naqueles dias, os justos dentre vós
farão os peca-dores e ímpios cobrirem-se de vergonha.
Capítulo 95
1 Pudessem ser os meus olhos uma nuvem cheia de água
para poder chorar por vós; pudessem ser as minhas lágrimas como uma nuvem
carregada a despejar suas águas, para assim serenar a tristeza do meu coração!
Quem vos permitiu a prática do ódio e da maldade?
Que vos atinja pois o castigo, ó pecadores!
2 O justos, não vos intimideis diante dos pecadores!
Pois o Senhor os entregará uma vez mais nas vossas mãos para que possais
castigá-los livremente. Ai de vós que prorrompestes em maldições irrecorríveis!
Permaneça longe de vós a Salvação, por obra dos vossos pecados!
3 Ai de vós que praticastes o mal contra o vosso
próximo. Ser-vos-á dada a paga segundo vossas obras. Ai de vós, línguas
mentirosas, e ai daqueles que se atreveram a praticar a injustiça! Pois num
instante chega a desgraça.
4 Ai de vós pecadores! Pois perseguistes os justos.
Sereis entregues nas mãos deles e perseguidos por causa das vossa injustiças, e
será pesado o seu jugo sobre vós.
Capítulo 96
1 Tende plena confiança, ó justos! Pois os pecadores
cairão de repente diante de vós e tereis o total domínio sobre eles. No dia da
tribulação dos pecadores, vossos filhos se erguerão e se elevarão como as
águias, e vosso ninho será mais alto do que o dos gaviões. Subireis às alturas,
descereis aos abismos da terra e penetrareis nas fendas das rochas como
coelhos, para todo o sempre, diante dos ímpios; eles então, ao ver-vos, haverão
de suspirar e chorar como as sereias.
2 Por isso, não tenhais receio, ó vós todos que
padeceis sofrimentos! Pois sereis salvos.
Uma luz clara vos iluminará e escutareis a voz da paz
que vem do céu. Ai de vós, pecadores! Vossa riqueza permite-vos a aparência de
justos, mas vosso coração vos dá a certeza de que sois pecadores; e isso será
uma prova contra vós, ao serem desveladas todas as falsidades.
3 Ai de vós que mastigais a medula do trigo e bebeis
vinho em grandes taças, mas que com o vosso poder pisais os humildes. Ai de
vós, que podeis beber água de todas as fontes! Num instante sereis aniquilados
e desaparecereis, porque desprezastes a Fonte da Vida.
4 Ai de vós, que praticastes a injustiça, a falsidade
e a blasfêmia! Haverá uma memória das vossas maldades. Ai de vós, poderosos,
que oprimistes os justos com prepotência! Pois não tarda o dia da vossa ruína.
Naquele tempo, quando fordes julgados, os justos cobrarão muitos dias felizes.
Capítulo 97
1 Tende confiança, ó justos, que os pecadores serão
humilhados e aniquilados no dia da Justiça! Estejais avisados que o Altíssimo
pensa na sua ruína, e que os Anjos do céu alegram-se com a sua desgraça!
2 Que quereis fazer, pecadores? Para onde desejais
fugir naquele dia do Juízo, quando ouvirdes em voz alta as orações dos justos?
Na verdade, acontecer-vos-á como àqueles a quem se aplica esta palavra como
testemunho: "Vós fostes cúmplices dos pecadores".
3 Naqueles dias, a oração dos justos chegará ao
Senhor, e os dias do vosso julgamento vos colherão de surpresa. Todas as vossas
palavras ofensivas serão apresentadas diante do Grande e Santo; então vossa
face enrubescerá de vergonha, e Ele condenará todos os atos que se fundaram
sobre a injustiça.
4 Ai de vós, pecadores, no meio do mar e em terra
firme! Vossa lembrança é repugnante. Ai de vós que acumulastes ouro e prata
dizendo: "Ficamos muito ricos e possuímos tudo o que desejamos.
5 "Queremos agora desfrutar o que ambicionávamos,
pois amealhamos dinheiro, enchemos nossas tulhas de grãos como água e numerosa
é a criadagem das nossas casas."
6 Sim, e como água diluir-se-ão as vossas mentiras;
pois não ficareis com a vossa riqueza, mas repentinamente ela vos será
subtraída. Porque lucrastes tudo com injustiça, e assim sereis entregues à
grande condenação.
Capítulo 98
1 Agora eu juro, ó vós, sábios, ó vós, tolos, que
muito ainda havereis de experimentar sobre a terra. Ainda que vós, homens, vos
enfeiteis mais do que uma mulher, e mesmo que vos vistais com roupas mais
coloridas do que uma donzela, tudo isso será deitado fora como água, apesar da
dignidade real, da grandeza e do poder, apesar do ouro, da prata, da púrpura,
das honras e das iguarias.
2 Por faltar-lhes o conhecimento e a Sabedoria
perecerão com todos os seus tesouros, magnificência e honras, pelo assassinato
e no opróbrio, e serão lançados na maior miséria em fornalha ardente. Juro-vos,
pecadores: Assim como nenhuma montanha foi ou será um escravo, e assim como
nenhuma colina se converterá em escrava de uma mulher, da mesma forma o pecado
não foi enviado a esta terra, mas sim foi obra dos homens por si mesmos; e
grande condenação atraem sobre si os que o cometem.
3 A esterilidade não foi dada à mulher; mas é por obra
das suas mãos que morre sem filhos. Eu vos juro, pecadores, junto ao Grande e
Santo, que todas as vossas obras más são conhecidas no céu, e que nenhum dos vossos
atos de prepotência fica encoberto ou oculto.
4 Não penseis em vossa mente nem digais em vosso
coração que não sabeis nem vedes que cada pecado é anotado diariamente no céu,
na presença do Altíssimo. Sabei desde agora que todos os atos de violência por
vós praticados serão diariamente escritos, até o dia do vosso julgamento.
5 Ai de vós, tolos! Pois perecereis pela vossa
insensatez. Não escutastes os sábios, e assim tereis péssima recompensa. Sabei
que sois reservados para o dia da ruína! Não vos iludais, pecadores, de
permanecer com vida! Mas havereis de passar e morrer. Não haverá resgate para
vós; fostes guardados para o grande dia do Juízo, o dia da tribulação e do
grande opróbrio do vosso espírito.
6 Ai de vós, duros de coração, que praticais o mal e
sugais o sangue! De onde tendes as boas coisas da comida, bebida e saciedade?
Unicamente de todas as coisas boas de que nosso Senhor, o Altíssimo, dotou
ricamente a terra. Por isso, não tereis paz.
7 Ai de vós, amantes das obras da injustiça! Pensais
que algo de bom vos possa acontecer? Sabei que sereis entregues nas mãos dos
justos! Eles cortarão o vosso pescoço e matar-vos-ão sem piedade. Ai de vós que
vos divertis com as aflições dos justos! Pois não podereis ter esperança na
vida. Ai de vós que escreveis palavras de arrogância e mentira. Eles anotam as
vossas mentiras, para que todos saibam que elas tratam impiamente o próximo.
9 Por isso, não tereis paz e morrereis repentinamente.
Capítulo 99
1 Ai daqueles que praticam obras da impiedade, que
exaltam e têm em alta conta as palavras da mentira! Serão arrasados e não terão
vida boa. Ai daqueles que falsificam as palavras da Verdade, que transgridem a
Lei eterna, passando a ser o que não eram antes, isto é, pecadores! Eles
deverão ser calcados aos pés sobre a terra.
2 Naqueles dias estejais preparados, ó justos, para
trazer à lembrança vossas orações e apresentá-las como testemunho diante dos
Anjos, para que estes também lembrem ao Altíssimo os delitos dos pecadores.
Naqueles dias de desgraça, os povos entrarão em tumulto e insurgir-se-ão as
gerações.
3 Naqueles dias, os necessitados chegarão ao ponto de
carregar os seus filhos para abandoná-los em seguida, de sorte que eles
morrerão por sua causa. Sim, abandonarão os seus lactentes e não voltarão mais
para eles, não tendo mais nenhuma piedade para com os seus queridos.
4 Uma vez mais vos juro, pecadores, que o pecado fica
reservado para um dia de interminável derramamento de sangue. Uns venerarão as
pedras, outros, imagens feitas de ouro, prata, madeira e argila; outros, ainda,
por insensatez, recorrerão a espíritos impuros, demônios e toda sorte de
imagens de ídolos. Mas deles não receberão nenhuma ajuda.
5 Tornar-se-ão ímpios pela tolice do seu coração, e
seus olhos serão cegados pelas vacilações do seu íntimo e pelas suas
alucinações. Por praticarem todas as suas obras no mundo da mentira e invocarem
as pedras, tornar-se-ão ímpios e acovardados.
6 Mas naqueles dias serão felizes todos os que
conhecem e aceitam as palavras da Sabedoria, que respeitam os caminhos do
Altíssimo, que andam nas sendas da sua Justiça e que não pecam junto com os
ímpios; pois eles serão salvos.
7 Ai de vós que utilizastes medidas mentirosas e
falsas, e ai daqueles que provocam a sanha sobre a terra! Pois todos serão
completamente destruídos. Ai de vós que construís as vossas casas com o suor
dos outros, e cujos materiais, telhas e pedras são os do pecado! Digo-vos: Não
tereis paz.
8 Ai daqueles que desprezaram o equilíbrio e a herança
eterna dos seus pais, e cujas almas aderiram aos deuses falsos! Eles não terão
paz. Ai daqueles que praticam a injustiça, que praticam a violência e que matam
o seu próximo até o dia do grande Julgamento!
9 Pois Ele derrubará a vossa grandeza ao chão, trará a
preocupação aos vossos corações, despertará o espírito da sua ira e a vós todos
aniquilará com a espada. E todos os justos e santos lembrarão nesse momento os
vossos pecados.
Capítulo 100
1 Naqueles dias, os pais serão mortos juntamente com
seus filhos num lugar, e os irmãos levar-se-ão mutuamente ao extermínio, até
correrem rios do seu sangue. Pois ninguém segurará compassivamente a mão que
golpeou seu filho ou seu neto, e nenhum pecador se deterá no assassínio do seu
honrado irmão. Um trucidará o outro, da manhã à noite.
2 Então o cavalo atravessará os rios com o sangue do
pecado até o peito, e o carro afundará nele até o topo. Naqueles dias descerão
os Anjos que se esconderam e reunir-se-ão num lugar todos aqueles que do alto
trouxeram o pecado, e o Altíssimo erguer-se-á naquele dia do Juízo para realizar
o grande Julgamento dos pecadores.
3 Então, dentre os Anjos santos, Ele estabelecerá
guardas sobre todos os justos e santos, para que os protejam como à pupila dos
olhos, até que tenha eliminado toda maldade e todo pecado. Mesmo que os justos
durmam um longo sono, nada precisam temer. Então os filhos da terra olharão
para o sábio e se convencerão; e entenderão todas as palavras deste livro.
Reconhecerão que a sua riqueza não poderá salvá-los na hora da sua perdição
pelos pecados cometidos.
4 Ai de vós pecadores no dia da grande angústia, vós
que castigais e queimais os justos! Sereis castigados pelas vossas obras. Ai de
vós, duros de coração, por estardes sempre atentos em conceber o mal! Por isso
sereis acometidos de pavor e ninguém vos prestará ajuda.
5 Ai de vós, pecadores! Pois havereis de arder no fogo
crepitante, por causa das palavras da vossa boca e por causa das obras das
vossas mãos, praticadas na impiedade. Tende certeza de que Ele escrutará os
vossos pecados por intermédio dos Anjos do céu, do sol, da lua e das estrelas,
porque fizestes acontecer o Julgamento dos justos sobre a terra!
6 Ele então convocará as nuvens, o orvalho e a chuva
para testemunharem contra vós. Todos eles serão retidos, para não descerem
sobre vós, e assim vos lembrem vossos pecados. Dai então presentes à chuva,
para que ela não se retenha e continue a cair sobre vós; presenteai o orvalho,
para verdes se ele se esparze após receber de vós ouro e prata!
7 Quando, naqueles dias, vos atacarem a geada e a neve
com o seu frio, e as tempestades de neve com suas calamidades, não tereis como
resistir-lhes.
Capítulo 101
1 Filhos de Deus! Observai o céu e cada uma das obras
do Altíssimo! Temei-O e não façais nenhum mal em sua presença! Se Ele fechar as
janelas do céu e suspender o orvalho e a chuva, para que deixem de derramar-se
sobre a terra por causa de vossos pecados, que havereis de fazer?
2 Se Ele mandar sua ira sobre vós, por causa das
vossas obras, de nada adiantarão as súplicas. Pois proferistes palavras de
orgulho e arrogância contra a sua Justiça e por isso não tereis paz. Não vedes
como os marujos entram em pânico quando suas embarcações são batidas pelas
ondas e sacudidas pelos ventos?
3 Apavoram-se porque levam consigo seus melhores
pertences e assim ficam abalados no seu coração, pois o mar poderá tragar seus
bens e fazê-los perecer junto com eles.
4 Por acaso o mar inteiro, com todas as suas águas e
todos os seus movimentos, não é uma obra do Altíssimo? Não foi Ele quem
estabeleceu os limites de todas as suas atividades e que o cercou de areia por
todos os lados? A uma ameaça d'Ele, o mar estremece e seca, e morrem todos os
seus peixes e tudo o mais que está no seu seio. Mas vós, pecadores da terra,
não O temeis.
5 Não foi Ele quem criou o céu, a terra e tudo o que esta
contém? Quem foi que deu o entendimento e a Sabedoria a todos aqueles que se
movem na terra e no mar? Por acaso os marujos não temem o mar? Os pecadores, no
entanto, não temem o Altíssimo.
Capítulo 102
1 Para onde quereis fugir naqueles dias, e como vos
salvareis quando Ele lançar sobre vós um fogo devorador? Não havereis de temer
e tremer quando Ele trovejar sobre vós a sua Palavra? Todas as luminárias serão
sacudidas pelo tremor, e a terra inteira se assustará, estremecerá e será
possuída pelo pavor.
2 Todos os Anjos então cumprirão as suas ordens,
procurando desviar-se do semblante da grande Majestade. Os filhos da terra
tremerão e se apavorarão; vós, porém, pecadores, sereis malditos para sempre e
não tereis paz. Mas vós, almas dos justos, não temais! Tende esperança, vós
todos que morrestes na Justiça!
3 Não vos lamenteis por ter a vossa alma descido na
tristeza ao mundo inferior e por não ter o vosso corpo, em vida, recebido o
correspondente da vossa virtude! Aguardai tão-somente o dia do Julgamento dos
pecadores, o Dia da condenação e do castigo! Os pecadores assim dizem de vós,
quando morreis: "Da mesma forma que morremos, morrem também os justos. De
que valem as suas obras?
4 "Na verdade, assim como nós, também eles morrem
na tristeza e na escuridão. Qual a vantagem deles sobre nós? Nesse aspecto
somos iguais a eles. Que receberão eles e o que verão na eternidade? Na
realidade, eles morreram, e a partir desse momento, e para toda a eternidade,
não vêem mais luz alguma."
5 Digo-vos, pecadores: Vós vos regozijais ao comer e
beber, ao roubar e pecar, ao deixar os homens nus, ao herdar riquezas e ao
desfrutar dias esplêndidos. Vistes como foi o fim dos justos, e como nenhum
delito foi encontrado neles até o dia da sua morte?
6 Eles
pereceram, e passam a ser como se nunca tivessem existido, e seus espíritos, na
tristeza, desceram ao mundo inferior.
Capítulo 103
1 Agora, ó justos, eu vos juro diante da Majestade d'
Aquele que é o Grande e Excelso, e poderoso na sua Realeza; juro-vos diante da
sua Magnificência: Eu conheço um segredo. Eu li as tábuas divinas e os livros
santos; neles eu vi escrito e assinalado;
2 todo o bem, toda a alegria e honra estão preparados
e consignados para os espíritos daqueles que morreram na Justiça. Toda sorte de
bem vos será concedida em recompensa pelo vosso esforço, e o vosso destino será
melhor do que o dos vivos. O espírito daqueles que dentre vós morrerem na
Justiça, viverá, alegrar-se-á e será bem-aventurado; as almas não perecerão nem
se apagará a sua lembrança da face do Excelso, por todas as gerações do mundo.
Por isso, deixai de vos preocupar com as humilhações sofridas!
3 Ai de vós, pecadores, ao morrerdes na plenitude dos
vossos pecados, enquanto os vossos cúmplices dizem: "Felizes são os
pecadores; viveram bem todos os dias da sua vida. Morreram na felicidade e na
riqueza; não conheceram na sua vida nem aflição nem derramamento de sangue;
morreram honrados, e nenhum julgamento aconteceu contra eles ao longo da sua
vida".
4 Então não sabeis que as suas almas foram mandadas ao
mundo inferior para, então, serem presas de grande aflição? O vosso espírito
será entregue às trevas, aos grilhões e às chamas do fogo, no dia em que se
verificar o grande Julgamento. Ai de vós! Não conhecereis a paz.
5 Não deixeis que os justos e bons, que passaram desta
vida, digam as seguintes palavras: "Nos dias da nossa vida esfalfamo-nos e
suportamos muitas fadigas; fomos acometidos de muitos males, extenuamo-nos,
reduzimo-nos a poucos e enfraqueceu-se o nosso espírito. Fomos desprezados e não
encontramos ninguém que nos apoiasse ao menos com uma palavra. Fomos
perseguidos e aniquilados, e já não desejávamos mais ver a vida no decorrer dos
dias.
6 "Esperávamos ser a cabeça, mas na realidade
passamos a ser a cauda; exaurimo-nos de tanto esforço mas não recebemos a paga
da nossa fadiga. Passamos a ser comida dos pecadores e ímpios, e estes
colocaram sobre nós o seu jugo pesado. Os que nos odiavam e nos fustigavam
assumiram o domínio sobre nós; curávamos nossa cabeça, mas eles não tinham
nenhuma compaixão para conosco.
7 "Procurávamos deles fugir, para pôr-nos em
segurança e obter um pouco de paz. Mas não encontrávamos sequer um lugar onde
pudéssemos nos refugiar e, assim, livrarmo-nos deles. Em nossa aflição,
queixávamo-nos junto às pessoas e reclamávamos daqueles que nos supliciavam;
eles, porém, não davam atenção aos nossos clamores e nem ao menos queriam
escutar a nossa voz.
8 "Em vez disso, davam apoio àqueles que nos
roubavam, engoliam e menosprezavam; dissimulavam sua prepotência e não nos retiravam
o jugo imposto por aqueles que nos sugavam, dispersavam e matavam. Acobertavam
seus atos de homicídio e não hesitavam ao levantar suas mãos contra nós."
Capítulo 104
1 Juro-vos, ó justos, que no céu os Anjos da divina
Majestade lembram-se de vós com benevolência. Vossos nomes estão inscritos
junto à Glória do Altíssimo. Tende confiança! Anteriormente fostes abandonados
ao opróbrio, à desgraça e às privações; mas agora havereis de luzir como as
luminárias do céu. Brilhareis e sereis vistos, e as portas do céu estarão
abertas para vós.
2 Pedi simplesmente o Julgamento, e este virá; pois as
vossas tribulações serão convertidas no castigo dos chefes e de todos os
ajudantes dos vossos rapinadores. Aguardai e não desisti da vossa esperança!
Pois sereis contemplados com uma grande alegria, como os Anjos do céu.
3 Que deveis fazer? Não necessitareis esconder-vos no
grande dia do Juízo, pois não vos crerão pecadores; o Julgamento eterno ficará
longe de vós por todas as gerações do mundo. Não vos descorçoeis, ó justos, se
virdes fortalecerem-se os pecadores na alegria dos seus procedimentos!
Guardai-vos de ser seus pares e mantende-vos afastados das suas atitudes
arrogantes! Devereis muito mais ser companheiros das coortes celestes.
4 Pecadores, embora digais que nenhum dos vossos
pecados será conhecido e anotado, na realidade Eles escrevem todos os vossos
delitos, diariamente. Digo-vos agora que a luz e as trevas, o dia e a noite
vêem os vossos pecados.
5 Abandonai a impiedade do vosso coração! Não mintais!
Não deturpeis as palavras da Verdade, não desvirtueis com mentiras as palavras
do Santo e Altíssimo! Afastai-vos da adoração dos vossos ídolos! Pois todas as
vossas falsidades e apostasias não conduzem de forma alguma à retidão, mas sim
a um grande pecado. Conheço também o segredo de que muitos pecadores modificam
e distorcem de várias formas as palavras da Verdade, intercalam dizeres
corruptos e mentirosos, introduzem grandes falácias e escrevem livros sobre os
seus próprios pensamentos.
6 Porém, se nas suas línguas traduzirem corretamente
todas as minhas palavras, se nada alterarem e nada omitirem nos meus dizeres, e
se tudo transcreverem conforme é justo, isto é, tudo quanto anteriormente sobre
eles testemunhei, então posso revelar-vos outra coisa que é do meu
conhecimento: os livros serão entregues aos justos e aos sábios, aos quais
proporcionarão muito contentamento, por causa da honestidade e da sabedoria.
7 Quando lhes forem transmitidos os livros,
acreditarão neles e alegrar-se-ão com eles; e todos os justos que neles
descobrirem os muitos caminhos da retidão terão a sua recompensa.
Capítulo 105
1 "Naqueles dias," diz o Senhor,
"devereis convocar os filhos da terra e testemunhar-lhes a sua sabedoria.
Mostrai-lhe! Pois sereis para eles como os seus guias e como um galardão para
toda a terra.
2 Pois eu e meu filho estaremos para sempre junto
deles, ao longo da sua vida, nos caminhos da Verdade. Vós tereis a paz.
Alegrai-vos, ó filhos da Verdade! Amém!
Final do Livro
Prodígio do nascimento de Noé
Capítulo 108
1 Depois de alguns dias, meu filho Matusalém escolheu
uma mulher para seu filho Lamech; ela engravidou e deu à luz um menino. O seu
corpo era branco como a neve e vermelho como uma rosa, os cabelos da sua cabeça
eram como a lã e os seus olhos como os raios do sol. Quando abriu os olhos
encheu a casa de luz como o sol, e toda ela ficou muito iluminada.
2 Nesse momento, ainda nas mãos da parteira, ele
ergueu-se, abriu a boca e falou com o Senhor da Justiça. Então seu pai, Lamech,
teve medo e fugiu. Foi para junto do seu pai, Matusalém.
3 E falou-lhe: "Tenho um filho prodigioso; não se
parece com uma pessoa humana mas sim com os filhos do Deus do céu, pois a sua
natureza é diferente. Ele não é como nós; seus olhos assemelham-se aos raios do
sol e seu semblante revela majestade.
4 "Tenho a impressão de que ele não descende de
mim e pressinto que nos seus dias." acontecerá um fenômeno sobre a terra.
Meu pai, estou agora aqui para rogar-te encarecidamente que procures o nosso
pai Enoque, para saber dele toda a verdade, pois ele habita junto com os
Anjos."
5 Depois que Matusalém escutou as palavras do seu
filho, veio ter comigo nos confins do mundo, pois tinha conhecimento de que me
encontrava aqui. Ele me chamou em alta voz e eu ouvi a sua voz. Cheguei então junto
dele e falei-lhe: "Meu filho, aqui estou. Por que vieste a mim?"
6 Ele respondeu: "Eu te procurei por causa de
algo que me perturba; um fenômeno inquietador. Escuta, pois, meu pai! Nasceu um
filho ao meu filho Lamech, mas a sua forma e a sua natureza não se parecem com
as de um homem. A cor do seu corpo é mais branca do que a neve e mais corada do
que a rosa, os cabelos da sua cabeça são mais alvos do que a lã branca e seus
olhos são como os raios do sol. Quando abre os olhos eles iluminam toda a casa.
7 "Ele ergueu-se entre as mãos da sua parteira,
abriu a boca e louvou o Senhor do céu. Mas seu pai, Lamech, teve medo e fugiu
para junto de mim; não acreditava que fosse seu filho, mas sim uma reprodução
dos Anjos do céu. Assim, eu vim ter contigo para saber de ti a verdade."
8 Então eu, Enoque, respondi e falei-lhe: O Senhor
deseja criar algo de novo sobre a terra. Eu já tinha visto isso numa visão, e
sobre ela já te falei, a saber, que no tempo do meu pai Jared alguns dos Anjos
do céu transgrediram o Mandamento do Senhor. Sim, eles cometeram um pecado e
desobedeceram à Lei. Misturaram-se com mulheres e pecaram com elas; casaram-se
com algumas delas e geraram filhos.
9 Virá agora uma grande destruição sobre toda a terra;
acontecerá um dilúvio e imensa ruína por todo um ano. Esse filho que vos nasceu
será resguardado sobre a terra, e com ele salvar-se-ão os seus três filhos.
Enquanto todos os demais homens morrerão, ele e seus filhos serão postos a
salvo. Aqueles haviam gerado gigantes sobre a terra, não segundo o espírito,
mas sim segundo a carne. Assim, um grande castigo recairá sobre a terra, e esta
será então expurgada de toda a imundície.
10 Dize, porém, ao teu filho Lamech que o
recém-nascido é realmente seu filho! E ele lhe dê o nome de Noé! Pois ele restará,
e com os seus filhos se salvará da destruição que acontecerá sobre a terra
inteira, por causa de todos os pecados e de toda a impiedade praticada nos seus
dias na terra.
11 Em tempos posteriores, a apostasia será ainda maior
do que aquela primeira que foi cometida sobre a terra. Pois eu conheço os
segredos dos Santos. O Senhor revelou-os para mim; eu os li nas tábuas divinas.
Capítulo 107
1 Nelas eu vi escrito que gerações após gerações
haveriam de pecar, até o aparecimento de uma geração de Justiça, quando então
serão supressos os delitos, desaparecerão os pecados, e ela será alvo de todo o
bem.
2 Agora, meu filho, anuncia ao teu filho Lamech que
esse recém nascido é na verdade seu filho, e que isso não é mentira!
3 Depois que Matusalém escutou as palavras do seu pai
— este revelara-lhe todos os segredos — voltou e transmitiu tudo a Lamech. Este
deu ao filho o nome de Noé, "pois ele haverá de ser o consolo da terra,
depois de toda a destruição".
Capítulo 108
Últimas palavras de Enoque
1 Outro livro foi escrito por Enoque para seu filho
Matusalém, bem como para os que virão depois dele, e que nos tempos últimos
permanecerão fiéis seguidores da Lei. Vós que praticastes o bem deveis esperar
por aqueles dias, quando serão aniquilados os malfeitores e quando o império da
ofensa terá o seu fim.
2 Aguardai tão-somente; virá o tempo do completo
desaparecimento do pecado! Os nomes dos pecadores serão apagados do Livro da
Vida e dos livros santos, ficando seus descendentes para sempre eliminados.
Seus espíritos serão derribados por terra. Gritarão e imprecarão num lugar
imenso e deserto, ardendo no fogo; e isso não terá fim.
3 Lá eu vi algo parecido com uma nuvem imensa. Por
causa do seu volume não pude abrangê-la com os olhos. Vi também um fogo de
labaredas claras e algo que se assemelhava a montanhas ardentes, que se moviam
de cá para lá, em círculo. Então eu perguntei a um dos santos Anjos que estavam
comigo: "Que é essa coisa que arde? Não é um dos fogos do céu, mas apenas
uma chama que brilha, e nela se descobrem gritos, choros, lamentações
lancinantes e grandes sofrimentos".
4 Então ele disse-me: "Neste lugar que estás
vendo serão trazidos os espíritos dos pecadores, bem como os dos blasfemos e
dos que falsificam tudo o que o Senhor, pela boca dos profetas, anunciou sobre
o futuro.
5 "Pois cada coisa que eles fazem está escrita e
assinalada no alto do céu, para que os Anjos as leiam, e saibam o destino dos
pecadores; conheçam o destino dos humildes, isto é, dos que mortificaram o seu
corpo e que por isso foram gratificados por Deus, dos que foram injuriados
pelos homens maus, dos que amaram a Deus e desprezaram o ouro, a prata e
qualquer bem terrestre, mas que entregaram o corpo ao massacre; dos que,
durante a vida, nunca tiveram desejos de iguarias mundanas, mas consideraram
todas as coisas como um sopro passageiro, e segundo isso viveram. O Senhor
provou-os de muitas maneiras, mas seus espíritos foram achados puros, de tal
sorte que seus nomes puderam ser enaltecidos.
6 "Eu descrevi nos livros todas as recompensas
que foram reservadas para eles. Ele determinou-lhes um prêmio por terem sido
considerados como homens que amavam mais o céu do que a sua vida sobre a terra,
e que o louvavam enquanto eram pisoteados pelos homens maus, suportavam
ofensas, humilhações e insultos.
7 "Mas agora eu chamo a mim os espíritos dos
bons, dos que pertencem à geração da luz; transfiguro os que nasceram nas
sombras, os que na sua carne não receberam a recompensa de acordo com a sua
fidelidade.
8 "Eu desejo introduzir na plenitude da luz
aqueles que amaram o meu santo Nome, e colocarei cada um no seu trono de honra.
Eles haverão de resplandecer por tempos intermináveis, pois a retidão é
conforme à Justiça divina. Ele recompensa os que permaneceram fiéis nos
caminhos da honestidade.
9 "Eles haverão de constatar que aqueles que
nasceram nas trevas, nas trevas serão lançados, enquanto que os justos hão de
resplandecer. Os peca-dores levantarão altos gritos ao verem aqueles no
esplendor, enquanto eles mesmos devem partir para os dias e os tempos que lhes
foram reservados."
esse nãoeomesmo livro de Enoque que tem o audio noyoutube?
ResponderExcluirEu resolvi ler esse livro devido a discursao de Gênesis 6
ResponderExcluirSobre os filhos de Deus e as filhas dos homens, e Judas irmão de Jesus no V.6 da sua carta sita Henoque, livro considerado apócrifo, tirado da Bíblia considerada pelos evangélicos,sendo Henrique um homem que andou com Deus ao ponto de ser levado com ele, me interessei no assunto e gostei do livro.