Tecla
ou Santa Tecla, como ficou conhecida, foi uma pessoa muito cara no início do
cristianismo. O apócrifo que conta os seus atos levou o nome de Atos de Paulo e
Tecla. Tecla lutou até o fim para permanecer fiel aos ensinamentos recebidos de
Paulo. A sua atuação apostólica é sempre colocada em relação a Paulo. Discípula
fiel, ela tornou-se apóstola de Jesus.
1
Perfil
Nome
e perfil: Tecla tornou-se discípula de Paulo, quando este passou por Icônio,
possivelmente no ano 48 E.C. Era noiva de um tal de Tamiro, quem ela abandonou
para seguir Paulo.
Nascimento:
Filha de Teocléia, Tecla nasceu na cidade de Icônio.
Estado
civil: Já de casamento marcado com Tamiro, Tecla, tornando-se discípula de
Paulo, manteve-se solteira e virgem
consagrada.
Morte:
Mesmo sendo condenada ao martírio, Tecla sobreviveu miraculosamente ao mesmo e
morreu “repousando num glorioso sono”.
2
- Principais feitos apostólicos narrados nos apócrifos
• Converter-se ao cristianismo,
tornando-se discípula de Paulo.
• Abandonar o noivo Tamiro para seguir
Paulo.
• Visita Paulo na prisão.
• Viajou com Paulo para Tessalônica.
• Enfrenta, em praça pública, Alexandre,
que havia se apaixonado por ela. Arrancando-lhe a coroa e rasgando sua capa.
• Condenada ao martírio, Tecla enfrentou
e venceu as feras que iriam devorá-la viva.
• Diante do governador, professa a fé em
Jesus.
• Batiza a si mesma.
• Prega a Palavra de Deus em Icônio
e Seluêcia.
• Disfarçada de homem, Tecla se encontra
com Paulo.
• Mantém-se fiel a Paulo até o fim.
3
– Atos Apócrifos de Tecla
A
história de Tecla é contada nos apócrifos sempre em relação a Paulo. A piedade
popular conservou esta história de fé, num misto de magia e devoção. Tecla,
apóstola da primeira hora do cristianismo. Assim como Paulo, ela não conheceu
Jesus.
Tecla
se deixa seduzir por Paulo
Atos
Apócrifos de Paulo e Tecla conta que quando Paulo passou por Icônio, cidade de
Tecla, ela ficou sentada no pé da janela vizinha de sua casa, escutando noite e
dia a sua pregação. Aí ela permaneceu três dias e três noites, sem beber e
comer. Sua mãe, Teocléia, mandou chamar o seu noivo Tamiro. Este, ansioso por
ver Tecla apressou-se a vir. “Onde está, a minha Tecla, para que eu possa
vê-la?”, exclamou.
Teocléia
acusou Paulo de seduzir a virgens da cidade com a sua pregação. De Tecla, ela
disse que estava apaixonada pelo estrangeiro Paulo. “Como aranha na janela,
fascinada pelas suas palavras, está dominada por um desejo e uma terrível
paixão”, disse.
Tecla
visita Paulo na prisão
Tamiro
articulou com Demas e Hermógenes denunciar Paulo ao Governador Castélio.
Reunido o povo, oficiais e chefes, ele logrou levar Paulo e ao Governador. Este
mandou prender Paulo, até que se pudesse averiguar melhor os fatos.
Sabendo
do ocorrido, Tecla foge, à noite, de sua casa, suborna o porteiro e o
carcereiro da prisão com pulseiras e espelho de prata, para encontrar-se com
Paulo. E ali, ela permaneceu sentada, ouvindo a pregação de Paulo.
Tecla,
levada ao governador, permanece em silêncio
A
visita de Tecla a Paulo na prisão teve como conseqüência a flagelação e
expulsão de Paulo de Icônio. Atos de Paulo e Tecla relata que “o Governador
ordenou que Paulo comparecesse perante o tribunal. Mas Tecla estava parafusada
no lugar onde Paulo havia sentado na prisão. E o Governador ordenou que ela
também fosse levada ao tribunal e ela foi com uma alegria imensa. E quando
Paulo compareceu no tribunal, as multidões gritavam violentamente: É um bruxo!
Fora daqui! Mas o Governador escutou alegremente Paulo falando das obras santas
de Cristo. Depois de conferir com o seu conselho, ele intimou Tecla e disse:
Por que não casas com Tamiro segundo as leis de Icônio? Mas ela continuou
olhando seriamente para Paulo e como nada respondesse, Teocléia, a mãe dela
gritou: Queima o perverso; queima-a também no meio do teatro, ela que não quer
casar; para que todas as mulheres que foram ensinadas por este homem tenham
medo”[1]. O Governador, então, condenou Tecla a ser queimada viva.
Tecla
é salva do martírio
Logo
após a sentença do Governador, diz Atos de Tecla e Paulo, que “imediatamente o
governador se levantou e foi para o teatro. Toda a multidão saiu para ver esse
espetáculo. Mas como uma ovelha no deserto olha ao redor, procurando o pastor,
assim Tecla ficou procurando por Paulo. Olhando para a multidão, ela viu o
Senhor sentado com o semblante de Paulo e ela disse: Como se eu não estivesse
capaz de sofrer, Paulo, tu vieste atrás de mim? E ela olhou intensamente para
ele, mas ele subiu para o céu.
Os
rapazes e as moças trouxeram lenha e para que ela pudesse ser queimada. Mas quando
ela apareceu nua, o Governador chorou e admirou o poder que estava nela. Os
algozes prepararam a lenha e mandam-na subir na pilha. Ela fez o sinal da cruz
e subiu na pilha. Acenderam o fogo e, se bem que um grande fogo se alastrasse,
não a atingiu. Deus, tendo compaixão dela, provocou um ruído no subsolo e uma
nuvem carregada de água e granizo cobriu o teatro por cima e derramou de vez,
de maneira que muitos ficaram em perigo de morte. O fogo foi apagado e Tecla
salva”[2].
Tecla
se encontra com Paulo e pede para segui-lo e ser batizada
Tecla
saiu dali e encontrou-se com um dos filhos de Onesífero, que tinha ido a cidade
para comprar pão para Paulo e sua família que havia fugido com Paulo de Icônio
para Dafné. O menino levou Tecla para encontrar-se com Paulo. Ela o encontrou
rezando, em um túmulo, pela libertação de Tecla. Ambos se alegraram pelo
ocorrido. Ali mesmo, eles celebraram a Eucaristia. Tecla quis cortar os cabelos
para seguir Paulo, mas ele não permitiu, dizendo que ela era muito bonita e que
ainda podia se apaixonar por outro homem. E ele lhe disse também, aludindo ao
batismo: “Tecla, tem paciência, receberás primeiramente a água”[3].
Depois
deste ocorrido, Onosífero voltou com a família para Icônio e Paulo seguiu
viagem com Tecla para Tessalônica.
Tecla,
praça pública, arranca a capa e a coroa de Alexandre
E
aconteceu que quando estava em Antioquia, Alexandre, um notável da cidade e
organizador dos jogos no circo, apaixonou-se por Tecla e quis comprá-la de
Paulo. Paulo negou que a conhecesse. Alexandre abraçou na rua. Tecla, então,
“gritou amargamente: não violentes a estrangeira, não violentes a serva de
Deus. Eu sou uma das pessoas mais influente em Icônio, mas porque não quis me
casar com Tamiro, eu fui expulsa da cidade. E, agarrando Alexandro, ela rasgou
a sua capa, arrancou sua coroa e fez dele uma chacota.[4]” Esta sua atitude lhe
causou, por influência de Alexandre, o enfrentamento das feras em um circo,
conforme costume romano. Tecla assumiu diante do governador que havia desafiado
Alexandre.
Tecla
combate com as feras
A
tradição apócrifa conta que Tecla enfrentou feras no circo diante do povo
reunido, Alexandre, o Governador e, sobretudo mulheres e crianças. Antes,
porém, uma rainha de nome Trifena, a tomou sob sua proteção, em substituição à
sua filha Falconila, que havia morrido. Assim, Tecla se manteve pura, sem ser
violentada, para o sacrifício.
A
primeira fera enfrentada por Tecla foi uma Leoa. Tecla foi amarrada sobre ela e
esta lambia os seus pés tranqüilamente. No dia seguinte, Tecla foi levada a
mando do Governador para enfrentar leões e ursos. Trifena a acompanhava. Tecla
foi tirada de sua proteção, despida e jogada no meio das feras com um cinto nas
mãos. Um urso e um leão que avançaram sobre Tecla foram mortos por uma leoa que
defendia Tecla. A multidão das mulheres gritava pela sua morte. A leoa que
defendia Tecla também morreu.
Tecla
se batiza e vence as feras
“Enviaram
muitas feras, enquanto ela, de pé, estendia suas mãos e rezava. Quando terminou
de rezar, ela se virou e avistou um grande poço cheio de água e disse: Agora
está na hora de me lavar. Ela se jogou (no poço), dizendo: Em nome de Jesus
Cristo, eu me batizo a mim mesma no meu último dia. Quando as mulheres e a
multidão a viram, choraram e disseram: Não te jogues na água! Até o governador
chorou porque as focas iriam devorar tal beleza. Ela se jogou, pois, na água em
nome de Jesus Cristo, mas a focas, tendo visto um raio de relâmpago, morreram
todas e ficaram boiando na superfície; e houve ao redor dela uma nuvem de fogo, de maneira que as feras não
conseguiram tocá-la e que ninguém a viu
nua”[5]. Outras feras foram soltas para atacar Tecla. Com o perfume
e flores que as mulheres jogaram, estas ficaram hipnotizadas e não
atacaram Tecla. Por fim, Tecla foi
amarrada a touros terríveis, os quais tinham ferros aquecidos amarrados em suas
genitálias. Isto foi preparado para que Tecla fosse destruída pelos mesmos.
Ocorreu que, diante daquele espetáculo, a rainha Trifena desmaiou, a chama que
rodeava Tecla consumiu as cordas e Tecla ficou livre. O governador mandou parar
o espetáculo. Alexandro se arrependeu do que havia feito e implorou a
libertação de Tecla.
Tecla
confessa ser serva de Jesus
Ainda
no meio das feras, o Governador perguntou-lhe: “Quem és tu? E qual é o escudo
que te rodeia, para que nenhuma fera te toque? Ela respondeu: Eu sou a serva do
Deus vivo. Quanto ao que me rodeia, eu acredito no Filho de Deus no qual ele se
compraz. É por isso que nenhuma dessas feras me tocou; pois somente ele é a
plenitude da salvação e o alicerce de vida eterna. Pois ele é o refúgio dos
naufragados, a consolação dos oprimidos, o amparo para o desesperado; por isso
mesmo, quem não acreditar nele não viverá, mas morrerá para sempre. Quando o
Governador ouviu aquilo, ele mandou que roupas fossem trazidas e lhe disse:
Vestes estas roupas. Mas ela respondeu: Aquele que me vestiu quando estava nua
no meio das feras, vestir-me-á com a salvação no dia do julgamento”[6]. Após
este diálogo, Tecla se vestiu. O governador publicou um decreto soltando Tecla.
As mulheres da cidade gritaram louvando Deus por este ocorrido.
Tecla
prega a Palavra de Deus
Sabendo
que Tecla fora libertada, Trifena, com uma multidão, foi encontrar-se com
Tecla. Ela proclamou a fé na ressurreição,
acolheu Tecla em sua casa e lhe prometeu passar os seus bens. Tecla ficou ali
oito dias. Pregou a Palavra de Deus. Muitas empregadas se converteram.
Tecla,
em traje masculino, encontra-se com Paulo
Sabendo
que Paulo estava em Mira, Tecla vestiu uma capa que a fez parecer homem. Reuniu
rapazes e moças e foi ter com Paulo. Quando este a viu com homens pensou que
uma nova tentação teria caído sobre ela. Tecla lhe disse que havia recebido o
batismo. Paulo a conduziu para a casa de Hermias e ouviu a sua história. Tecla
havia levado roupas e ouro, oferecidos por Trifena. Ela os deixou com Paulo.
Tecla
prega em Icônio
Após
o encontro com Paulo, Tecla foi para Icônio pregar a Palavra de Deus. Em
Icônio, ela ficou na casa de Onesífero.
Ela “prostrou-se sobre o lugar onde Paulo havia sentado e ensinado a palavra de
Deus. Ela gritou: Meu Deus e Deus desta casa onde a luz brilhou sobre mim,
Jesus Cristo, Filho de Deus, meu Salvador na prisão, meu salvador perante o
governador, meu salvador no fogo, meu salvador no meio das feras, só tu és
Deus, a ti a glória para todo o sempre. Amém”[7].
Tecla
repouso num glorioso sono
Quando
Tecla estava em Icônio, ela se deu conta que Tamiro, seu antigo noivo havia
morrido. Encontrando viva a sua mãe, Tecla disse: “Teocléia, minha mãe, podes
acreditar que o Senhor vive no céu? Pois se desejas riquezas, o Senhor tas
darás por mim, mas se desejas tua filha, eis que estou aqui ao teu lado”.
E
vida de Tecla, narrada em Atos de Paulo e Tecla, termina afirmando que “tendo
assim dado o seu testemunho, ela se dirigiu para Selêucia e iluminou a muitos
pela palavra de Deus. Depois repousou num glorioso sono”. Fim
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