quinta-feira, 6 de setembro de 2012

LIVRO DE ENOQUE


Capítulo 1
OS ANJOS proporcionaram-me a visão d'Ele, e deles é que eu aprendi tudo; por meio deles também me foi dado compreender as coisas que pude ver, mas não em relação à geração presente, mas sim em relação a uma geração futura.
2 Dos eleitos eu falo, e sobre eles dou início às minhas alegorias: Eis que o Santo desce da sua morada. O Deus Eterno caminha sobre a terra no alto do monte Sinai (Ele desce da sua posição, Ele se mostra) e, em seu imenso poder, revela a glória do mais alto do céu.
3 E todos os seres existentes são tomados pelo temor; os Guardiões tremem, possuídos de grande angústia e medo, até os confins da terra.
4 As mais altas montanhas hão de tremer e os picos mais elevados desabarão, derretendo-se como cera ao fogo. A terra será desmantelada e tudo que sobre ela existe será supresso; e tudo será submetido a julgamento.
5 Mas com os justos Ele firma a paz, protege os eleitos e concede-lhes sua graça. Eles constituirão a propriedade de Deus e estarão na beatitude e na bênção. Ele mesmo a todos protegerá, e a luz divina brilhará sobre eles. Ele mesmo firmará com eles o pacto da paz.
6 Em verdade! Ele virá com milhares de Santos, para exercer o julgamento sobre o mundo inteiro e aniquilar todos os malfeitores, reprimir toda carne pelas más ações tão iniquamente perpetradas e pelas palavras arrogantes que os pecadores insolentemente proferiram contra Ele.
Capítulo 2
1 Observai com atenção como no céu nenhum dos corpos altera o seu curso e como as luzes todas do firmamento nascem e se põem, cada uma no seu tempo preestabelecido, e como jamais transgridem a sua ordem!
2 Considerai a terra! Vede os eventos que do princípio ao fim sobre ela acontecem, e como nela nada se modifica e como todas as obras de Deus se manifestam aos nossos olhos! Contemplai o verão e o inverno, e como a terra toda está repleta de água e como sobre ela se expandem as nuvens, o orvalho e a chuva!
Capítulo 3
1 Observai e vede a natureza de todas as árvores, que parecem secas, despojadas de todas as suas folhas, à exceção de quatorze espécies que não se despem da sua folhagem mas que conservam a antiga por dois ou três anos, até que brote a nova!
Capítulo 4
1 Observai como no verão o sol se encontra por sobre a terra, perpendicular a ela! Então procurais lugares frescos e sombra; a terra está constantemente abrasada, de tal sorte que não podeis pisar no solo ou numa pedra, por causa do seu calor.
Capítulo 5
1 Observai como as árvores se cobrem de folhas verdes, e como todos os seus frutos proclamam a honra e a glória de Deus! Prestai atenção e vede todas as suas obras! Então reconhecereis que foi Aquele que é o Vivo que assim as fez.
2 Todas as obras por Ele criadas comportam-se de ano para ano de forma constante; e todas as funções que elas cumprem para Ele não se modificam de forma alguma; ao contrário, tudo se realiza como Deus ordenou. Vede como o mar e os rios igual-mente cumprem a sua função!
3 Mas e vós? Não tivestes perseverança e não cumpristes a Lei do Senhor. Vós caístes, e com as palavras obstinadas e arrogantes proferidas por vossa boca ultrajastes a Sua Majestade. O duros de coração! Não haverá paz para vós.
4 Com isso estais a amaldiçoar os vossos dias e pondo a perder os anos da vossa vida; e os anos da vossa maldição serão avolumados por uma condenação eterna. Nenhum perdão estará reservado para vós.
5 Então emprestareis o vosso nome aos justos para que estes o utilizem constantemente para amaldiçoar. Por vosso intermédio, ó vós todos malditos, eles rogarão pragas; por vosso intermédio, ó vós todos pecadores e pérfidos, eles esconjurarão.
6 Os eleitos, porém, serão contemplados com a paz, a luz e a alegria; mas vós, sacrílegos, sereis alvo da renegação. Os eleitos serão agraciados com a sabedoria; eles viverão e não pecarão nunca mais, nem por ignorância nem por atrevimento; ao iluminado será concedida mais luz e ao inteligente mais entendimento.
7 Não pecarão nunca mais nem mais serão julgados por todos os dias da sua vida, e não haverão de perecer pela ira de Deus; ao contrário, o número dos seus dias será completado serenamente. A sua vida crescerá na paz, e muitos serão os anos das suas delícias em que viverão jubilosos e em paz por toda a sua vida.


Primeira Parte O livro dos Anjos

Capítulo 6
A queda dos Anjos
1 Quando outrora aumentou o número dos filhos dos homens, nasceram-lhes filhas bonitas e amoráveis. Os Anjos, filhos do céu, ao verem-nas, desejaram-nas e disseram entre si: "Vamos tomar mulheres dentre as filhas dos homens e gerar filhos!"
2 Disse-lhes então o seu chefe Semjaza: "Eu receio não queirais realizar isso, deixando-me no dever de pagar sozinho o castigo de um grande pecado". Eles responderam-lhe em coro: "Nós todos estamos dispostos a fazer um juramento, comprometendo-nos a uma maldição comum mas não abrir mão do plano, e sim executá-lo".
3 Então eles juraram conjuntamente, obrigando-se a maldições que a todos atingiriam. Eram ao todo duzentos os que, nos dias de Jared, haviam descido sobre o cume do monte Hermon. Chamaram-no Hermon porque sobre ele juraram e se comprometeram a maldições comuns.
4 Assim se chamavam os seus chefes: Semjaza, o superior de todos eles, Arakiba, Rameel, Kokabiel, Tamiel, Ramiel, Danei, Ezekeel, Narakijal, Azael, Armaros, Batarel, Ananel, Sakeil, Samsapeel, Satarel, Turel, Jomjael e Sariel. Eram esses os chefes de cada grupo de dez.
Capítulo 7
1 Todos os demais que estavam com eles tomaram mulheres, e cada um escolheu uma para si. Então começaram a freqüentá-las e a profanar-se com elas. E eles ensinavam-lhes bruxarias, exorcismos e feitiços, e familiarizavam-nas com ervas e raízes.
2 Entrementes elas engravidaram e deram à luz a gigantes de 3.000 côvados de altura. Estes consumiram todas as provisões de alimentos dos demais homens. E quando as pessoas nada mais tinham para dar-lhes os gigantes voltaram-se contra elas e começaram a devorá-las.
3 Também começaram a atacar os pássaros, os animais selvagens, os répteis e os peixes, rasgando com os dentes as suas carnes e bebendo o seu sangue. Então a terra clamou contra os monstros.
Capítulo 8
1 Azazel ensinou aos homens a confecção de espadas, facas, escudos e armaduras, abrindo os seus olhos para os metais e para a maneira de trabalhá-los. Vieram depois os braceletes, os adornos diversos, o uso dos cosméticos, o embelezamento das pálpebras, toda sorte de pedras preciosas e a arte das tintas.
2 E assim grassava uma grande impiedade; eles promoviam a prostituição, conduziam aos excessos e eram corruptos em todos os sentidos. Semjaza ensinava os esconjuros e as poções de feitiços, Armaros a dissipação dos esconjuros, Barakijal a astrologia, Kokabel a ciência das constelações, Ezekeel a observação das nuvens, Arakiel os sinais da terra, Samsiel os sinais do sol e Sariel as fases da lua.
3 Quando os homens se sentiram prestes a serem aniquilados levantaram um grande clamor, e seus gritos chegaram ao céu.
Capítulo 9
1 Então Miguel, Uriel, Raphael e Gabriel olharam do alto do céu e viram a quantidade de sangue derramado sobre a terra e todas as desgraças que sobrevieram. Eles então falaram entre si: "O clamor da terra deserta de homens bate mais uma vez às portas do céu. Avós, ó Santos do céu, invocam assim desoladas as almas humanas: Levai o nosso lamento à presença do Altíssimo!"
2 Então eles falaram ao Senhor dos mundos: "Tu és o Senhor dos Senhores, o Deus dos Deuses, o Rei dos Reis. O trono da tua Majestade permanece ao longo de todas as gerações do mundo; o teu Nome é santo, glorioso e louvado em todo o universo.
3 "Tudo foi por Ti criado e conservas o domínio sobre todas as coisas. Tudo é claro e manifestado diante dos teus olhos. Tu vês tudo e nada pode ocultar-se na tua presença.
4 "Tu vês o que foi perpetrado por Azazel, como ele ensinou sobre a terra toda espécie de transgressões, revelando os segredos eternos do céu, forçando os homens ao seu conhecimento; assim procedeu Semjaza, a quem conferiste o comando sobre os seus subalternos.
5 "Eles procuraram as filhas dos homens sobre a terra, deitaram-se com elas e tornaram-se impuros; familiarizaram-nas com toda sorte de pecados. As mulheres pariram gigantes e, em conseqüência, toda a terra encheu-se de sangue e de calamidades.
6 "Agora clamam as almas dos que morreram, e o seu lamento chega às portas do céu. Os seus clamores se levantam ao alto, e em face de toda a impiedade que se espalhou sobre a terra não podem cessar os seus queixumes.
7 "E Tu sabes de tudo, antes mesmo que aconteça. Tu vês tudo isso e consentes. Não nos dizes o que devemos fazer."
Capítulo 10
1 Então o Altíssimo, o Santo, o Grande, tomou a palavra e enviou Uriel ao filho de Lamech, com a ordem seguinte: "Dize-lhe, em meu nome: 'Esconde-te!', e anuncia-lhe o fim próximo! Pois o mundo inteiro será destruído; um dilúvio cobrirá toda a terra e aniquilará tudo o que sobre ela existe.
2 "Comunica-lhe que ele poderá salvar-se, e que seus descendentes serão mantidos por todas as gerações do mundo!"
3 E a Raphael disse o Senhor: "Amarra Azazel de mãos e pés e lança-o nas trevas! Cava um buraco no deserto de Dudael e atira-o ao fundo! Deposita pedras ásperas e pontiagudas por baixo dele e cobre-o de escuridão! Deixa-o permanecer lá para sempre e veda-lhe o rosto, para que não veja a luz!
4 "No dia do grande Juízo ele deverá ser arremessado ao arremedo de fogo! Purifica a terra, corrompida pelos Anjos, e anuncia-lhe a Salvação, para que terminem os seus sofrimentos e não se percam todos os filhos dos homens, em virtude das coisas secretas que os Guardiões revelaram e ensinaram aos seus filhos! Toda a terra está corrompida por causa das obras transmitidas por Azazel. A ele atribui todos os pecados!"
5 E a Gabriel disse o Senhor: "Levanta a guerra entre os bastardos, os monstros, os filhos das prostituídas e extirpa-os do meio dos homens, juntamente com todos os filhos dos Guardiões! Instiga-os uns contra os outros, para que na batalha se eliminem mutuamente! Não se prolongue por mais tempo a sua vida! Nenhum rogo dos pais em favor dos seus filhos deverá ser atendido; eles esperam ter vida para sempre, e que cada um viva quinhentos anos".
6 A Miguel disse o Senhor: "Vai e põe a ferros Semjaza e os seus sequazes, que se misturaram com as mulheres e com elas se contaminaram de todas as suas impurezas!
7 "Quando os seus filhos se tiverem eliminado mutuamente, e quando os pais tiverem presenciado o extermínio dos seus amados filhos, amarra-os por sete gerações nos vales da terra, até o dia do seu julgamento, até o dia do Juízo Final!
8 "Nesse dia, eles serão atirados ao abismo de fogo, na reclusão e no tormento, onde ficarão encerrados para todo o sempre. E todo aquele que for sentenciado à condenação eterna seja juntado a eles, e seja com eles mantido em correntes, até o fim de todas as gerações.
9 "Extermina os espíritos de todos os monstros, junta-mente com todos os filhos dos Guardiões, porque eles maltrataram os homens! Purga a terra de todo ato de violência! Toda obra má deve ser eliminada! Que floresça a árvore da Verdade e da Justiça. O sinal da bênção será o seguinte: as obras da Verdade e da Justiça sempre serão semeadas na alegria verdadeira.
10 "Então florescerão os justos e haverão de viver até gerarem mil filhos, e completarão em paz todos os dias da sua juventude e da sua velhice. Então toda a terra será cultivada com a Justiça, inteiramente plantada de árvores, e cheia de bênção.
11 "Toda espécie de árvore boa será plantada sobre ela, igualmente videiras; e as videiras produzirão uvas em abundância. De todas as sementes que forem semeadas uma medida produzirá mil outras; e uma medida de olivas dará dez cubas de óleo.
12 "Purifica a terra de todo ato de violência, de toda injustiça, de todo pecado e impiedade; elimina toda a impudicícia que sobre ela se pratica! Todos os homens serão justos, todos os povos me prestarão honra e glória, e todos me adorarão.
13 "A terra então ficará expurgada de toda maldade, de todo pecado, de toda praga, de todo tormento; e nunca mais mandarei sobre ela um dilúvio, ao longo de todas as gerações, por toda a eternidade.
Capítulo 11
1 "Naqueles dias eu abrirei as câmaras dos depósitos da bênção do céu e deixa-las-ei derramar-se sobre a terra, sobre as obras e os trabalhos dos filhos dos homens.
2 "Então a Verdade e a Paz juntar-se-ão por todos os dias da terra e por todas as gerações dos homens."
Capítulo 12
1 Enoque havia desaparecido, e nenhum dos filhos dos homens sabia onde ele se encontrava, onde se ocultava e o que era feito dele. O que ocorrera é que ele havia estado junto dos Guardiões e transcorreu os seus dias na companhia dos Santos.
2 Eu, Enoque, ergui-me e louvei o Senhor da Majestade e Rei do mundo. Então os Guardiões me chamaram, a mim Enoque, o Escriba, e disseram-me: "Enoque, tu, o Escriba da Justiça, vai e anuncia aos Guardiões do céu que perderam as alturas do paraíso e os lugares santos e eternos, que se corromperam com mulheres à moda dos homens, que se casaram com elas, produzindo assim grande desgraça sobre a terra; anuncia-lhes: `Não encontrareis nem paz nem perdão'. Da mesma forma como se alegram com seus filhos, presenciarão também o massacre dos seus queridos, e suspirarão com a sua desgraça. Eles suplicarão sem cessar, mas não obterão nem clemência nem paz!"
Capítulo 13
1 Então Enoque encaminhou-se até eles e assim falou a Azazel: "Tu não terás a paz. Uma sentença severa recaiu sobre ti: deverás ser acorrentado. Não alcançarás indulgência nem será aceita a intercessão, por causa dos atos violadores que ensinaste a praticar, e por causa de todas as obras blasfemas, da violência e dos pecados que mostraste aos homens".
2 Então eu dirigi a palavra a todos eles. Todos encheram-se de grande medo e foram tomados de pavor e tremor. Suplicaram-me que lhes escrevesse um rogo intercessório, para que pudessem obter o perdão, e que eu lesse o seu pedido na presença do Senhor dos céus.
3 Pois a partir de então não lhes era mais permitido falar com Ele, nem levantar os seus olhos para o céu, de vergonha pelos seus delitos, pelos quais foram castigados.
4 Assim, eu redigi o seu rogo de súplica, falando da sua condição de espíritos e dos seus atos individualmente praticados, e contendo o seu pedido especial de clemência e perdão. Então pus-me a caminho e assentei-me junto às águas do Dan, na terra de Dan, que se situa a sudoeste do Hermon; proferi em voz alta o seu pedido, depois adormeci.
5 Tive sonhos e sobrevieram-me visões; vi imagens de julgamentos e uma voz falou dentro de mim, dizendo-me que fosse anunciar isso aos filhos do céu e adverti-los.
6 Quando acordei, encaminhei-me até eles. Encontrei-os todos sentados a chorar, no Jail de Abel, entre o Líbano e o Senir. Relatei-lhes todas as visões que tivera durante o sono; comecei a pronunciar as palavras da Justiça e a advertir os Guardiões celestes.
Capítulo 14
1 Este é o livro das palavras da Justiça e da advertência aos Guardiões eternos, segundo o que o grande Santo ordenara naquela visão. Eu vi durante o meu sono tudo o que agora vou narrar com a minha língua carnal e com o sopro da minha boca; Deus concedeu os mesmos aos homens para que possam pronunciar as palavras e entendê-las com o coração.
2 Da mesma forma como Ele criou os homens e deu-lhes o dom de entender palavras de sabedoria, assim também criou a mim e transmitiu-me a incumbência de advertir os Guardiões, os filhos do céu.
3 Eu havia redigido o vosso pedido, mas na visão que tive foi-me revelado que o vosso rogo jamais será atendido, mas, ao contrário, que a sentença que sobre vós recaiu é definitiva e nada vos será concedido.
4 Daqui por diante nunca mais havereis de subir ao céu; mas foi determinado que sejais acorrentados aqui na terra por todos os tempos. Antes disso, porém, devereis presenciar o extermínio dos vossos amados filhos. Nenhum deles restará; todos sucumbirão pela espada, aos vossos olhos.
5 Vosso pedido em favor deles não será aceito, como não o foi o vosso próprio, a despeito de vosso choro e súplicas, e não o seria mesmo que pronunciásseis todas as palavras do escrito por mim redigido.
6 Na visão foi-me dado presenciar o quadro seguinte: nuvens levaram-me ao interior da imagem, e uma névoa arrebatou-me ao alto; o curso das estrelas e dos raios conduzia-me e me impelia, e ventos transportando-me ao alto daquele panorama. Eles conduziram-me ao céu.
7 Eu entrei por ele, até defrontar-me com um muro, todo feito de cristal e circundado de línguas de fogo. Isso começou a inspirar-me grande medo. Todavia, eu entrei pelas línguas de fogo adentro e aproximei-me de uma grande casa, toda construída de cristal. As paredes da casa assemelhavam-se a um assoalho assentado em cristal; e de cristal eram também os fundamentos da casa.
8 Seu teto era como o curso das estrelas e dos raios; e de permeio havia querubins; seu céu era límpido como a água. Mas um mar de fogo circundava as suas paredes, e suas portas flamejavam.
9 E eu entrei naquela casa, que era quente como o fogo e fria como a neve; dentro dela não existia acomodação alguma; fiquei prostrado de medo e tomado pelo tremor. Caí com a face por terra; e na visão que tive observei o seguinte:
10 Havia lá uma outra casa, maior ainda do que a primeira; todas as suas portas estavam abertas diante de mim; era feita de línguas de fogo. Em todos os seus aspectos ela revelava brilho, fausto e grandeza, de tal sorte que eu não saberia como descrever-vos sua magnificência e tamanho.
11 Seu chão era de fogo; suas partes superiores representavam raios e órbitas estelares, e sua cobertura era de fogo flamejante. Olhei, e vi dentro dela um trono muito alto. Sua aparência era como que circular, e as rodas que possuí apareciam-se com o sol brilhante; era a visão do querubim.
12 Por baixo do trono saíam jatos de fogo flamejante. A grande Majestade assentava-se sobre ele; suas vestes eram mais brilhantes do que o sol e mais brancas do que a neve. Nenhum dos Anjos podia aproximar-se; nem conseguiam encarar sua face por causa do seu esplendor e majestade. Nenhuma carne podia ousar olhá-lo.
13 Ao redor dele havia fogo flamejante; na frente dele, um fogo poderoso, e ninguém por perto podia aproximar-se. A volta, em círculo, postavam-se dez mil vezes dez mil em sua presença; Ele, porém, não necessitava de conselheiro algum.
14 Os Seres mais santos, que se encontravam na sua proximidade, d'Ele não se afastavam nem de dia nem de noite; de forma alguma o abandonavam. Até esse momento, eu jazia com a face por terra, a tremer. Então o Senhor por sua própria boca dirigiu-se a mim e disse: "Aproxima-te, Enoque! Escuta a minha palavra!"
15 Então um dos Santos chegou até onde eu estava e despertou-me do meu torpor; fez-me levantar e conduziu-me até o vestíbulo; eu porém deixei pender minha cabeça.
Capítulo 15
1 Ele tomou a palavra, e falou comigo; e eu prestei atenção à sua voz: "Não temas, Enoque, homem honesto e Escriba da Justiça! Vem até aqui e escuta as minhas palavras. Vai e dize aos Guardiões do céu que te enviaram como seu intercessor: Sois vós que devíeis interceder pelos homens, não os homens por vós!
2 "Por que motivo abandonastes o alto do céu, santo e eterno, dormistes com mulheres, vos contaminastes com as filhas dos homens, tomastes a elas por esposas, comportando-vos como os filhos da terra e gerando filhos gigantes?
3 "'Vós éreis santos, seres espirituais, detentores de uma vida eterna, mas depois vos deixastes corromper pelo sangue das mulheres e gerastes filhos com o sangue carnal, e com isso, desejando o sangue humano, e produzindo carne e sangue, vos igualastes àqueles que são mortais e transitórios.
4 "`Por isso, eu concedi a essas mulheres, que com eles coabitaram, e que com eles geraram filhos, que nada lhes falte sobre a terra. Vós, porém, fostes anteriormente espíritos eternos, destinados a serdes imortais ao longo de todas as gerações do mundo. Por isso eu não criei para vós mulheres, pois os espíritos do céu possuem no céu a sua morada.
5 Os gigantes, porém, que foram gerados do espírito e da carne, serão chamados na terra de espíritos maus; eles também terão a sua morada na terra. Do corpo delas procederam espíritos maus; pois, embora nascidos de humanos, é dos Guardiões santos o seu princípio e origem primeira. Eles serão espíritos corruptos sobre a terra. e assim chamar-se-ão.
6 Os espíritos do céu, no céu têm a sua morada; mas os espíritos da terra, que na terra foram nascidos, nesta terão a sua morada. Os espíritos dos gigantes são cheios de maldade, cometem atos de violência, destroem, agridem, brigam, promovem a devastação sobre a terra e instauram por toda parte a confusão. Pois, embora famintos, não comem; bebem, e continuam a ter sede. E esses espíritos levantam-se contra os filhos dos homens e contra as mulheres, pois destas procederam.
Capítulo 16
1 A partir dos dias da matança, do extermínio e da morte dos gigantes, quando os Espíritos abandonarem seu corpo carnal sem sofrerem julgamento e condenação, eles continuarão a agir daquela maneira perversa, até o dia do grande Juízo Final, quando então o mundo acabará completamente para os Guardiões e para todos os ímpios.
2 "Dize agora aos Guardiões, que outrora moravam no céu, e que te enviaram como seu intercessor: 'Vós estáveis no céu. Nem todos os segredos vos foram revelados; contudo conhecíeis um segredo que não convinha passar, e na vossa imprudência o transmitistes às mulheres. Através da revelação desse segredo, homens e mulheres praticam muitas desgraças sobre a terra'. Portanto dize-lhes: 'Vós não tereis nenhuma paz'!"


As viagens de Enoque

Relato da primeira viagem:

Capítulo 17
1 Tomaram-me então e transportaram-me a um lugar onde as coisas se apresentavam como chamas de fogo, e, quando queriam, podiam transformar-se em formas humanas. Depois levaram-me ao lugar das trevas e sobre uma montanha cujo cume alcançava o céu.
2 Eu vi o lugar das luminárias, os reservatórios das estrelas e dos trovões e, nas profundidades mais distantes, um arco de fogo com setas e sua alijava, uma espada de fogo e todos os relâmpagos.
3 Depois transportaram-me ao lugar das águas vivas e do fogo ocidental, que recebe o sol da tarde. Então cheguei a uma torrente de fogo, cuja incandescência fluía como a água, e que se derramava num grande oceano.
4 Então eu vi as grandes correntes de água, e cheguei até o grande rio e a grande escuridão; depois cheguei aos lugares para onde se encaminha toda a carne. Eu vi as montanhas da escuridão do inverno e os lugares para onde fluem todas as águas das profundezas.
5 Então eu vi a foz de todos os rios da terra e a desembocadura das águas profundas.
Capítulo 18
1 Eu vi as câmaras de todos os ventos; eu vi como Ele adornava toda a terra por meio deles; eu vi também os alicerces da terra. Eu vi a cumeeira da terra; eu vi os quatro ventos que suportam (a terra e) o firmamento. Eu vi como os ventos expandiam a abóbada celeste, e como a sua posição se situava entre o céu e a terra; eles constituem as colunas do céu.
2 Eu vi os ventos que fazem girar o céu e movimentam o disco solar e as estrelas, até o seu ocaso. Eu vi os ventos que sobre a terra transportam as nuvens; eu vi os caminhos dos Anjos; eu vi, nos confins da terra, o firmamento que se sustenta nas alturas.
   3 Depois eu fui em direção ao sul e vi um lugar que ardia todo o tempo; ali encontram-se sete montanhas de pedras preciosas, três delas do lado leste e três do lado sul. Das do lado leste, uma é de pedras coloridas, outra de pérolas e outra de topázio; as do lado sul são formadas de pedras vermelhas.
4 A montanha do meio alcança o céu; assemelha-se ao trono de Deus, e é feita de alabastro; o ápice do trono é de safira. Vi então um fogo flamejante. Para além daquelas montanhas existe um lugar que representa o fim da grande terra; lá o próprio céu chega ao seu fim.
5 Então eu vi um abismo com colunas de fogo da altura do céu, e vi depois essas mesmas colunas ruindo; elas são incomensuráveis, tanto em altura como em profundidade. Atrás desse abismo eu vi uma região que por cima não tinha firmamento e por baixo não tinha bases terrestres firmes; sobre ela não havia nem água nem pássaros; era um lugar deserto e horrível.
6 Lá eu vi sete estrelas, como montanhas grandes e ardentes. Quando perguntei sobre elas, disse o Anjo: "Este é o lugar em que o céu e a terra acabam; esta é a prisão das estrelas e das legiões dos corpos celestes.
7 "E as estrelas que circulam sobre o fogo são aquelas que no início do seu curso transgrediram as ordens de Deus, não aparecendo no seu devido tempo. Assim, Ele encolerizou-se com elas e prendeu-as por dez mil anos, até o tempo em que estiver expiado o seu pecado."
Capítulo 19
1 Então disse-me Uriel "Aqui é o lugar onde ficarão os Anjos que se misturaram com as mulheres, como também os seus Espíritos, que assumem formas variadas e que corrompem os homens. Também seduzem a estes, fazendo-os prestar culto aos demônios como se fossem deuses. Aqui eles ficarão até o grande dia do Juízo, quando serão sentenciados à aniquilação completa. As mulheres seduzidas pelos Anjos, serão transformadas em sereias".
2 Eu, Enoque, vi sozinho essa visão do fim de todas as coisas, e ninguém a verá como eu vi.

Relato da segunda viagem

Capítulo 20
1 As funções dos Anjos vigias são as seguintes:
2 Uriel, um dos santos Anjos, preside ao mundo e ao tártaro;
3 Raphael, um dos santos Anjos, dirige os espíritos dos homens;
4 Raguel, um dos santos Anjos, exerce a vingança no mundo das Luzes;
5 Miguel, um dos santos Anjos, foi estabelecido sobre a parte melhor dos homens, sobre o povo de Israel e sobre o Caos;
6 Sarakael, um dos santos Anjos, foi estabelecido como o vigia dos Espíritos que induzem os outros espíritos ao pecado;
7 Gabriel, um dos santos: Anjos, preside ao Paraíso, às Serpentes e aos Querubins;
8 Remiel, um dos santos, Anjos, foi por Deus incumbido de presidir aos ressuscitados.
Capítulo 21
1 Fui levado em frente até a região onde as coisas constituíam um caos. Lá eu vi algo de espantoso; não se via nem um céu por cima nem uma terra firme por baixo, mas tão somente um lugar desolado horrível. Lá eu vi sete Estrelas celestes, aprisionadas àquele lugar, semelhantes a grandes montanhas abrasadas de fogo.
2 Então eu perguntei: "Em nome de que pecado foram elas aprisionadas e por que foram confinadas neste lugar?"
3 Então disse-me Uriel, um dos santos Anjos que estavam comigo e era o meu condutor: "Enoque! Por que perguntas e por que pões tanto empenho em conhecer a Verdade? Aquelas são as Estrelas do céu que transgrediram as ordens de Deus; aqui elas permanecem aprisionadas, até que transcorram os dez mil anos, o tempo do seu pecado".
4 Dali partimos para uma outra região, ainda mais horrorosa do que a anterior. Lá eu vi coisas de causar espanto. Havia um fogo imenso lançando grandes labaredas e o seu âmbito chegava até o fundo do abismo, e era cheio de colunas de fogo que despencavam. Não consegui perceber nem avaliar a sua extensão e profundidade. Então eu exclamei: "Como é medonho este lugar e como é horroroso de se ver!"
5 Então respondeu-me Uriel, um dos santos Anjos que estava comigo, dizendo: "Enoque! Por que tanto te assustas e te espantas?" Eu disse: "E por causa deste lugar assustador e de horrível aspecto."
6 Então ele falou-me: "Este lugar é a prisão dos Anjos; aqui eles ficarão reclusos até a eternidade".
Capítulo 22
1 Dali partimos para um outro lugar, e Ele mostrou-me do lado do Ocidente um conjunto de montanhas imensas e altas, de rocha maciça. Havia lá quatro cavernas, profundas, amplas e lisas; três delas eram escuras e uma clara, tendo no centro dela uma fonte de água. Então eu disse: "Como são lisas essas cavernas! Como são profundas e escuras!"
2 Respondeu-me então Raphael, um dos santos Anjos que estavam comigo: "Estas cavernas foram criadas para abrigar as almas daqueles que morreram. Foram criadas para reunir todas as almas dos filhos dos homens. Estes lugares foram constituídos para sua morada, até o dia do seu Julgamento, até o final do prazo e do tempo preestabelecidos, quando então ocorrerá sua sentença".
3 Então eu ouvi os gemidos do espírito de um dos filhos dos homens, que havia morri do, e cujos lamentos chegavam até o céu. Perguntei então ao anjo Raphael, que estava junto de mim: "De quem é este espírito que se lamenta? De quem é esta voz, cujo gemido chega até o céu?"
4 Então Ele falou-me: "Este é o espírito que saiu de Abel. Ele foi golpeado e morto por seu irmão Caim, e assim emite queixas contra ele, até que os descendentes deste sejam eliminados da terra e a sua raça desapareça dentre os homens".
5 Em seguida perguntei sobre as cavernas: "Por que estão separadas umas das outras?" Respondeu-me: "Três destes espaços foram preparados para manter segregados os espíritos dos que estão mortos; mas uma seção foi reservada para os espíritos dos justos, onde jorra uma fonte de águas límpidas.
6 "Dessa forma, há um espaço que foi preparado para os pecadores que, ao morrerem e serem enterrados, não chegaram a sofrer em vida uma sentença. Ali suas almas ficarão isoladas até o grande dia do Juízo, o dia do castigo e do sofrimento reservados aos que foram condenados para sempre, quando então se exercerá a vingança das suas almas; nesse lugar Ele os manterá aprisionados até à eternidade.
7 "Existe igualmente outra seção que se destina às almas dos queixosos, dos que reivindicam justiça por sua ruína, por terem sido mortos nos dias dos pecadores. E uma outra seção foi feita para aqueles homens que não foram justos, mas sim pecadores, totalmente ímpios e cúmplices dos perversos; suas almas não serão castigadas no dia do Juízo, mas também não serão ressuscitadas."
8 Então eu louvei ao Deus da Glória, dizendo: "Glorificado sejas Tu, Senhor, Justo Juiz do mundo".
Capítulo 23
1 Dali eu fui a um outro lugar, no Ocidente, até os confins da terra. Lá eu vi um fogo flamejante que se deslocava constantemente de cá para lá, e que não cessava o seu movimento regular nem de dia nem de noite, mas ao contrário mantinha-se sempre igual.
   2 Eu perguntei: "Que é essa coisa incansável?" Então respondeu-me Raguel, um dos santos Anjos que estavam comigo: "Esse fogo ambulante, que viste no Ocidente, é o fogo que abastece todas as luminárias do céu".
Capítulo 24
1 Daquele ponto, fui a um outro lugar da terra, e Ele mostrou-me um conjunto de montanhas de fogo que ardiam dia e noite.
2 Passei por cima delas e observei sete montes magníficos, todos diferentes uns dos outros, cujas rochas eram imponentes e belas, no seu todo, de agradável aspecto e de formas bonitas. Três dos montes situavam-se do lado oriental, sobrepostos uns aos outros; três do lado Sul, também sobre-postos, e entre eles desfiladeiros íngremes e profundos, que não confinavam uns com os outros.
3 A sétima montanha situava-se entre as anteriores, superava-as em altura e era parecida com a sede de um trono; árvores odoríferas circundavam esse trono.
4 Entre essas árvores havia uma cujo perfume eu jamais havia experimentado. Nenhuma daquelas árvores, nem qualquer outra, podia comparar-se com ela. Difundia mais perfume do que todos os incensos; suas folhas, suas flores e seu lenho não fenecem nunca, e sua fruta é maravilhosa, parecida com a tâmara.
5 Eu falei então: "Como é bela esta árvore! Como são perfumadas e bonitas as suas folhas Como são deliciosas para os olhos suas flores!" Respondeu-me então Miguel, um dos santos e honrados Anjos que estavam comigo, o superior deles.
Capítulo 25
1 Ele falou-me: "Enoque! Por que perguntas e admiras o perfume desta árvore e procuras saber a Verdade?" Então eu, Enoque, respondi, dizendo: "Sobre todas as coisas eu gostaria de saber algo, e de modo muito particular sobre esta árvore".
2 Ele respondeu-me: "Aquela montanha alta que viste, e cujo cume se parece com o trono de Deus, é de fato o seu trono, sobre o qual o Santo, o Grande, o Único, o Senhor da Glória, o Rei Eterno se assentará quando descer para visitar a terra e agraciá-la com a sua bênção.
3 "Esta árvore, todavia, não poderá ser tocada por nenhum mortal até o dia do Grande Julgamento, quando Ele tomará as contas de todos até o último ceitil; então essa árvore será entregue aos justos e aos santos. Os seus frutos então servirão de alimento para os escolhidos; ela será transplantada para o lugar santo, no templo do Senhor, o Rei Eterno.
4 "Então eles se alegrarão sobremodo e caminharão com alegria pelos lugares santos; o aroma da árvore penetrará até os seus ossos. Levarão sobre a terra uma vida mais longa do que os seus Patriarcas, e nos seus dias não sofrerão nem tristezas, nem dores, nem cansaços, nem pragas."
5 Então eu louvei o Rei da Glória, o Rei da Eternidade, por ter preparado, criado e assegurado tais coisas para os justos.
Capítulo 26
1 Dali eu parti para o meio da terra e contemplei um lugar abençoado e frutífero, onde havia árvores com galhos que brotavam e floriam dos ramos podados. Lá, igualmente, eu vi uma montanha santa, e ao sopé da mesma, do lado leste, um rio que corria na direção do sul.
2 Do lado do Oriente vi ainda uma outra montanha, mais alta do que aquela, e, dividindo-se as duas, uma garganta estreita e profunda; ela era o leito do rio que nascia ao pé da montanha.
3 Do lado ocidental havia outra montanha, mais baixa do que a anterior e de porte menor; entre estas e as anteriores havia um desfiladeiro profundo; outro desfiladeiro, também profundo, e seco, abria-se no extremo da montanha.
4 Esses profundos desfiladeiros eram estreitos, de rocha dura; nenhuma árvore crescia ali. Admirei-me com as rochas;espantei-me com os desfiladeiros; e tudo aquilo maravilhou-me sobremaneira.
Capítulo 27
1 Então eu falei: "Para que serve esta terra abençoada, repleta de árvores, e para que estes desfiladeiros malditos no meio dela?"
2 Respondeu-me então Uriel, um dos santos Anjos que estavam comigo, e disse: "Aquela garganta maldita que viste foi destinada aos eternamente malditos; ali serão agrupados todos aqueles que, com a sua boca, proferem coisas desrespeitosas contra Deus e falam com insolência da sua Glória. Ali eles serão reunidos; será o lugar do seu Julgamento.
3 "Nos últimos dias, realizar-se-á o espetáculo de um julgamento definitivo sobre eles, na presença dos justos; ali os piedosos louvarão ao Rei da Glória, ao Senhor da Eternidade. No dia do Julgamento dos pecadores os justos O louvarão por causa da sua misericórdia, por Ele manifestada para com eles."
4 Então eu dei graças ao Rei da Glória, proclamei a sua honra e entoei um cato de louvor a Ele.
Capítulo 28
1 Dali eu fui (na direção do Oriente) até o meio das montanhas do deserto; lá eu vi uma estepe. Era um lugar solitário, mas palmilhado de árvores e vegetação; e dos pontos altos jorrava água. Esta fluía na direção noroeste, como um rico manancial de águas e formava nuvens e orvalho que se. levantavam de todos os lados.
Capítulo 29
1 Dali eu fui para um outro lugar do deserto e aproximei-me do lado oriental daquelas montanhas. Lá eu vi plantas aromáticas que reascendiam a incenso e mirra, e elas pareciam-se com a amendoeira.
Capítulo 30
1 Então eu fui mais adiante, para o Oriente, e vi um outro sítio muito grande, com águas que se precipitavam nos despenhadeiros. Ali havia uma árvore cuja aparência era de planta aromática, semelhante à almécega. A beira daqueles vales eu vi a caneleira olorosa; então eu fui ainda mais adiante, para o leste.
Capítulo 31
1 Eu vi outras montanhas; sobre elas havia bosques de onde fluía o néctar, o chamado bálsamo ou ungüento.
2 Atrás daquelas montanhas eu vi outra, ao leste da região; sobre ela havia plantas de aloés, e todas as demais árvores gotejavam resina, semelhantemente às amendoeiras. Ao triturar-se a sua fruta, ela exalava toda sorte de olores.
Capítulo 32
1 Por sobre as montanhas ao nordeste vi sete montes cheios de nardo precioso, almécegas, nela e pimenta. Dali transportei-me por sobre os cumes de todas essas montanhas, na direção oriental da terra; passei pelo mar da Eritréia e depois, afastando-me dele, sobrevoei o Zotiel.
2 Então cheguei ao Jardim da Justiça e vi, dentre as demais plantas, muitas e grandes árvores que ali cresciam; e elas eram aromáticas, muito bonitas, altas e majestosas. Entre estas encontrava-se a Árvore da Sabedoria, de cujo fruto comem os Santos e alcançam grande sapiência.
3 Essa árvore, pela sua fronde, assemelha-se ao pinheiro; sua folhagem é parecida com a da alfarrobeira; o seu fruto é tão delicioso quanto as uvas de vinho; e o seu perfume é percebido a grande distância. Então eu exclamei: "Como é bela esta árvore e como é agradável o seu aspecto!"
4 Respondeu-me o santo Anjo Raphael, que estava comigo, e disse: "Esta é a Árvore da Sabedoria, da qual o teu antigo pai e tua antiga mãe comeram, antes do teu tempo. Com isso, eles conheceram o saber; os seus olhos se abriram e eles reconheceram que estavam nus. Então eles foram expulsos do Paraíso".
Capítulo 33
1 Dali eu fui mais em frente, até os confins da terra; lá eu vi animais de grande porte, todos diferentes uns dos outros; também pássaros que divergiam na aparência, beleza e voz, igualmente diferentes uns dos outros. Mais ao leste de onde estavam esses animais eu vi os extremos da terra, sobre os quais repousa o céu da terra; os portais do céu estavam abertos.
2 Eu vi as estrelas do céu se aproximarem, contei os portões por onde elas apareciam, anotei a saída de todas, e em relação a todas anotei especialmente o número, o nome, as conexões, as posições, os períodos e meses, tudo segundo me mostrava o Anjo Uriel, que estava comigo. Ele mostrava-me tudo, transcrevendo ao mesmo tempo; transcreveu para mim o nome de cada uma e suas leis, bem como as suas acompanhantes.
Capítulo 34
1 Dali segui na direção do norte, aos confins da terra; lá eu presenciei um grande e majestoso prodígio, nos extremos do mundo. Vi três portais celestes abertos; através de cada um deles procedem ventos do Norte. Quando sopram, vêm o frio, o granizo, a geada, a neve, o orvalho e a chuva.
2 De um dos portais eles sopram favoravelmente; quando, porém, sopram dos outros dois, é com violência. E soprando com violência eles espalham privações sobre a terra.
Capítulo 35
1 Dali tomei o rumo do Ocidente, até os confins da terra; nesse lugar vi três portões abertos, semelhantemente aos que vira no Oriente; os mesmos portões, com suas aberturas.
Capítulo 36
1 Dali parti para o sul, até os confins da terra; lá vi três portões celestes abertos. Deles provêm os ventos do Sul, assim como orvalho e chuva. Dali fui adiante, na direção do Oriente, até os confins da terra; lá vi abertas as três portas celestes orientais; sobre elas havia portões pequenos.
2 Através de cada um desses portões menores passam as estrelas do céu que caminham para o Oriente, nos seus cursos preestabelecidos. Nesse momento, eu louvei o Senhor da Glória e a toda hora o louvo, por ter Ele criado as obras grandes, magníficas e admiráveis e por mostrar a magnitude da sua obra aos Anjos, aos Espíritos e aos homens, para que todos louvem a sua inteira Criação, ao verem a força do seu poder, possam, assim, proclamar grande obra das suas mãos glorificar o Senhor por toda eternidade.

Segunda parte - As Alegorias

1 Segunda visão que ele teve, visão da sabedoria, presenciada por Enoque, filho de Jared e neto de Mahalaleel, filho de Cainan e neto de Enos, filho de Seth e neto de Adão.
2 Este é o início das palavras de sabedoria que eu desejo transmitir em alta voz aos habitantes da terra: Escutai, vós Patriarcas, e vós, descendentes, as palavras santas que eu vos direi, na presença do Rei dos Espíritos!
3 Melhor seria fossem elas transmitidas unicamente aos Patriarcas; contudo, desejamos que não fique oculto aos descendentes o início da sabedoria. Até agora, jamais tal saber foi transmitido pelo Senhor dos Espíritos, da forma como eu o recebi, através da minha visão e pelo beneplácito do Rei dos Espíritos, por quem me foi manifestada a explicação da Vida Eterna.
4 Três visões alegóricas foram-me concedidas, e assim levantei a minha voz para narrá-las aos habitantes da terra.
Primeira Alegoria
Capítulo 38
O futuro Reino de Deus
1 A primeira alegoria. Quando a comunidade dos justos se tomar visível, e quando os pecadores forem castigados pelos seus pecados e expulsos da terra, quando o Justo aparecer diante dos olhos dos justos, cujas obras estão guardadas junto ao Senhor dos Espíritos, e quando a luz dos justos e dos escolhidos brilhar sobre a terra, onde estará então o lugar dos pecadores e onde o lugar de descanso para aqueles que renegaram o Senhor dos Espíritos? Melhor seria para eles se não tivessem nascido.
2 Quando os segredos dos justos forem desvelados, então o castigo recairá sobre os pecadores e os maus serão banidos da presença dos justos e dos escolhidos. A partir daquele tempo, os senhores da terra deixarão de ser poderosos e grandes; não mais poderão encarar os santos, porque o Senhor dos Espíritos fará brilhar a sua luz na face dos santos, justos e escolhidos.
4 Então, naquele tempo, os reis e os poderosos serão aniquilados e entregues nas mãos dos justos e dos santos. A partir daquele momento, nenhum deles poderá pedir perdão ao Senhor dos Espíritos, pois a sua vida terá chegado ao fim.
Capítulo 39
1 Naqueles dias descerão do alto dos céus Filhos eleitos e santos, e sua família juntar-se-á aos filhos dos homens. E, naqueles dias, Enoque recebeu escritos da ira e escritos do desespero e da perdição. "Não haverá misericórdia para com eles", disse o Senhor dos Espíritos.
2 Naquele tempo, eu fui carregado da terra por um torvelinho de vento e transportado aos confins do céu. Ali eu tive uma outra visão: a morada dos justos e os lugares de repouso dos santos.
3 Ali eu vi com os meus próprios olhos as suas moradas junto aos Anjos justos e seus lugares de repouso junto aos Santos, e estes pediam, intercediam e rezavam pelos filhos dos homens. A justiça fluía diante deles como a água, e a misericórdia como o orvalho sobre a terra; e assim é a sua vida para todo o sempre.
4 Naquele lugar os meus olhos viam o Eleito da Justiça e da Fidelidade; a Justiça reina nos seus dias, e inumeráveis eleitos e justos estarão para sempre diante d'Ele.
5 Eu vi a sua morada sob as asas do Senhor dos Espíritos. Todos os justos e eleitos brilham diante d'Ele como a claridade do fogo; a sua boca é cheia de palavras de bênção; os seus lábios louvam o Nome do Senhor dos Espíritos, e a Justiça nunca mais cessará diante d'Ele (Messias).
6 Ali eu desejei permanecer, e a minha alma suspirou por aquela morada. Ali já foi outrora a minha herança; pois assim fora decidido a meu respeito diante do Senhor dos Espíritos.
7 Naqueles dias, eu glorifiquei e exaltei o Nome do Senhor dos Espíritos com palavras benditas e cânticos de louvor, por ter sido escolhido por Ele para a missão de O exaltar e bendizer, segundo o beneplácito do Senhor dos Espíritos.
8 Os meus olhos contemplaram por longo tempo aquele lugar, e eu O exaltei e glorifiquei com as seguintes palavras: "Bendito e louvado seja Ele desde o princípio e por toda a eternidade". Diante d'Ele tudo persiste. Ele sabe o que é o mundo, desde antes que este fosse criado, e conhece o que vai acontecer de geração em geração.
9 A Ti louvam Aqueles que nunca dormem; eles estão diante de tua Majestade, e Te glorificam, celebram e exaltam com as palavras: "Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Espíritos; Ele preenche a terra de espíritos".
10 E ali os meus olhos viram como todos Aqueles que não dormem prostram-se na sua presença, louvam e dizem: "Glorificado sejas Tu e bendito seja o nome do Senhor por toda a eternidade!"
11 Então voltei o meu rosto, pois eu não conseguia mais olhar.
Capítulo 40
Os quatro Anjos
1 Depois disso eu vi, prostrados diante do Senhor dos Espíritos, mil vezes mil, dez mil vezes dez mil, uma multidão inumerável e incalculável. Eu vi e observei quatro rostos, nos quatro lados do Senhor dos Espíritos; estes eram diferentes d'Aqueles que nunca dormem. Tomei conhecimento dos seus nomes, pois foram-me comunicados pelo Anjo que estava comigo e que me mostrava todas as coisas ocultas.
2 Eu escutei a voz daqueles quatro rostos, ao proferirem cantos de louvor diante do Senhor da Glória.
3 A primeira voz louvava sem cessar o Senhor dos Espíritos.
4 A segunda voz, segundo eu ouvia, louvava o Eleito, bem como os eleitos que se conservavam junto ao Senhor dos Espíritos.
5 A terceira voz, segundo escutei, rezava e pedia pelos habitantes da terra, intercedendo por eles em nome do Senhor dos Espíritos.
6 A quarta voz, segundo eu ouvia, afastava os demônios, não lhes permitindo o acesso diante do Senhor dos Espíritos para acusar os habitantes da terra.
7 Então eu falei ao Anjo da Paz, que ia comigo e me mostrava todas as coisas ocultas, perguntando-lhe: "Quem são esses quatro rostos que eu vi e cujas palavras escutei e anotei?"
8 Ele respondeu-me: "O primeiro é Miguel, o Compassivo e Paciente; o segundo, o que cuida de todas as doenças e feridas dos filhos dos homens, é Raphael; o terceiro, o que preside a todas as Forças, é Gabriel; e o quarto, que preside à penitência e à esperança dos herdeiros da vida eterna, é Phanuel".
9 Estes são os quatro Anjos do Senhor dos Espíritos e as quatro vozes por mim ouvidas naqueles dias.
Capítulo 41
Segredos astronômicos
1 Depois disso, eu vi todos os segredos do céu e como o Reino será dividido, e como as ações dos homens serão pesadas na balança. Lá eu vi as moradas dos eleitos bem como a dos Santos. Meus olhos viram como de lá serão expulsos todos os pecadores que renegaram o Nome do Senhor e como serão arrastados para fora. Lá não poderão ficar, em virtude do castigo que lhes foi imposto pelo Rei dos Espíritos.
2 Lá os meus olhos viram também o segredo dos raios e dos trovões, os segredos dos ventos, e de como eles se distribuem nos seus sopros sobre a terra, bem como os segredos das nuvens e do orvalho. Lá eu vi de que lugares eles procedem e como aplacam a sede da terra. Lá eu vi as câmaras fechadas de onde se origina a distribuição dos ventos, a câmara do granizo e a câmara da neblina, bem como a nuvem que desde os tempos antigos paira sobre a terra.
3 Eu vi as câmaras do sol e da lua, e de onde eles saem e para onde voltam, o seu retorno magnífico, e como um tem precedência sobre a outra, a sua rota admirável, e como não transgridem o seu curso, não o aumentando nem diminuindo, e como guardam entre si a fidelidade e o juramento pelo qual se comprometeram.
4 Primeiramente avança o sol e segue o seu curso obedecendo à ordem do Senhor dos Espíritos; e grande é o seu Nome para sempre. Depois eu vi o caminho oculto e o caminho visível da lua, que naquelas paragens segue o seu curso tanto de dia como de noite. Na presença do Senhor dos Espíritos, eles se colocam um atrás do outro, agradecendo e louvando sem cessar; para eles o seu agradecimento é o descanso.
5 Pois o sol faz muitos giros, ou para a bênção ou para a maldição, e o caminho da lua é luz para os justos, mas trevas para os pecadores, em nome do Senhor, que separou a luz das trevas, dividiu os espíritos dos homens e fortaleceu os espíritos dos justos em nome da sua Justiça.
6 Nem um Anjo nem uma Potestade poderia impedir isso, pois foi Ele quem estabeleceu para eles todos um Juiz, que os julgará na sua presença.
Capítulo 42
A morada da Sabedoria Divina
1 A Sabedoria não encontrou lugar onde pudesse morar; então foi-lhe reservada uma morada no céu. Depois a Sabedoria veio morar entre os filhos dos homens mas não encontrou moradia. Assim, a Sabedoria voltou para o seu lugar e estabeleceu a sua sede entre os Anjos.
2 Então a iniqüidade saiu das suas câmaras. Ela encontrou aqueles que não deviam procurá-la e baixou entre eles, como a chuva no deserto e o orvalho na terra seca.
Capítulo 43
Segredos astronômicos
1 Eu vi também outros relâmpagos e as estrelas do céu; então eu percebi como Ele chamava a todas pelo seu nome e como elas O escutavam. Então eu vi como elas foram pesadas com uma balança justa, segundo a intensidade da sua luz; vi também a profundidade dos seus espaços e o dia do seu aparecimento, e como a sua órbita provocava raios. Eu vi como suas órbitas correspondiam ao número do Anjo e como guardavam fidelidade entre si.
2 Perguntei então ao Anjo que ia comigo e que me mostrava os segredos: "Que significam elas?"
3 Então ele disse-me: "O Senhor dos Espíritos mostrou-te o seu significado simbólico. Elas são os nomes daqueles santos que moram na terra e que crêem constantemente no Nome do Senhor dos Espíritos".
Capítulo 44
Vi também algo mais em relação aos relâmpagos, a forma como nascem das estrelas, convertem-se em raios e não podem afastar-se dessa nova constituição.
Segunda Alegoria
Capítulo 45
O Reino do Messias
1 Esta é a segunda alegoria. Ela trata daqueles que renegam o nome da morada dos Santos e o Nome do Senhor dos Espíritos. "Eles não chegarão ao céu, mas também não permanecerão sobre a terra. Tal será o destino dos pecadores que renegam o Nome do Senhor dos Espíritos; para tanto, eles serão reservados para o Dia da Dor e da Tribulação.
2 "Naquele dia, o meu Eleito sentar-se-á sobre o Trono da Majestade, e, entre os seus atos, procederá a uma seleção, e serão inumeráveis as moradas dos eleitos. O espírito destes crescerá e florescerá quando, juntamente com aqueles que invocaram o meu Santo Nome, olharem para o meu Eleito.
3 "Então eu deixarei que o meu Eleito habite entre eles e transformarei o céu, convertendo-o em bênção e luz eternas. E transformarei a terra, convertendo-a em bênção. Então deixarei o meu Eleito habitar sobre ela; mas aos pecadores e malfeitores não será permitido o acesso a ela.
4 "Pois eu olhei para os meus justos, saciei-os de felicidade e coloquei-os diante de mim; para os pecadores, porém, reservo o Julgamento, para que possa eliminá-los da face da terra."
Capítulo 46
1 Lá eu vi Aquele que possui uma cabeça de ancião, e esta era branca como a lã; e junto dele havia um outro, cujo aspecto era de um homem, o seu rosto era cheio de graça, semelhante ao de um Anjo Santo. Perguntei ao Anjo que me acompanhava, e que me revelava todos os segredos, quem era aquele filho do homem, de onde procedia, e por que estava com Aquele que tem uma cabeça grisalha.
2 Deu-me como resposta: "Este é o Filho do Homem, o detentor da Justiça, que com ela mora e que revela todos os tesouros secretos; pois Ele foi escolhido pelo Senhor dos Espíritos, e o seu destino excede a tudo em retidão diante do Senhor dos Espíritos, por toda a eternidade. Esse filho dos homens, que viste, faz os reis e os poderosos se ergueram de suas camas e aos fortes abala nos seus tronos; dissolve o comando dos fortes e tritura os dentes dos pecadores.
3 "Ele expulsa os reis dos seus tronos e dos seus reinos, porque eles não O exaltam e louvam, nem reconhecem com agradecimento de onde lhes adveio a realeza. Ele derruba a face dos fortes e enche-os de vergonha. A sua moradia se converterá em trevas e sua sepultura estará cheia de vermes; jamais deverão pensar em levantar-se de suas sepulturas, porque não exaltam o Nome do Senhor dos Espíritos.
4 "E são eles que julgam as estrelas do céu e que erguem as suas mãos contra o Altíssimo, que humilham a terra em que habitam e cujas obras revelam em tudo a iniqüidade; o seu poder apóia-se na sua riqueza e a sua fé volta-se para os deuses que eles criaram com suas próprias mãos; mas renegam o Nome do Senhor dos Espíritos. Eles perseguem as casas das reuniões dos crentes que permanecem fiéis ao Nome do Senhor dos Espíritos.
Capítulo 47
1 "Naqueles dias, porém, a oração e o sangue dos justos subirão da terra até a presença do Senhor dos Espíritos. Naqueles dias, os Santos que moram no céu rezam a uma só voz, suplicam, louvam, agradecem e glorificam o Nome do Senhor dos Espíritos, pela oração e pelo sangue derramado dos justos, para que não tenham vivido em vão diante do Senhor dos Espíritos, para que se cumpra neles o Julgamento, mas que este não seja para eles uma sentença eterna."
2 Naqueles dias eu vi como o Ancião assentou-se sobre o trono da sua Majestade, quando diante dele foram abertos os livros dos vivos, e como toda a sua coorte, que está no céu e O cerca, prostrou-se na sua presença.
3 O coração dos Santos exultava de alegria porque foi trazido o número dos justos, porque foi ouvida a sua oração e porque o seu sangue foi vingado diante do Senhor dos Espíritos.
Capítulo 48
1 Naquele lugar, eu vi o poço da Justiça; ele era inesgotável, e ao seu redor havia muitos poços de Sabedoria. Todos os que tinham sede bebiam deles e eram saciados de sabedoria e moravam junto aos Justos, aos Santos e ao Eleito.
2 E, naquela hora, o Filho do Homem era mencionado diante do Senhor dos Espíritos,e o seu Nome era referido diante do Ancião. Antes que fossem criados o sol e os signos, e antes que fossem feitas as estrelas do céu, o seu Nome era pronunciado diante do Senhor dos Espíritos.
3 Ele será um bordão para os justos, para que n'Ele possam apoiar-se e não cair; Ele será a luz dos povos e a esperança dos aflitos. Todos os habitantes da terra prostram-se aos seus pés; e adoram, glorificam, louvam e entoam hinos ao Senhor dos Espíritos.
4 Para esse propósito Ele foi escolhido e mantido oculto junto d'Ele, antes que o mundo fosse criado; e Ele será para todo o sempre. E a Sabedoria do Senhor dos Espíritos revelou-O aos Santos e aos Justos; pois Ele protege o destino dos justos, pois estes odiaram e aborreceram este mundo de depravação, repudiando todas as suas obras e caminhos, em nome do Senhor dos Espíritos. Em seu nome eles serão salvos, e do seu beneplácito depende sua vida.
5 Naqueles dias, os reis da terra e os poderosos que possuem esta terra ficarão com o semblante abatido por causa das obras das suas mãos; no dia da sua angústia e privação não poderão salvar a alma.
6 Eu os entregarei então nas mãos do meu Escolhido; eles arderão como palha ao fogo na presença dos Justos e submergirão como o chumbo na água diante dos Santos, e não se encontrará mais sinal deles.
7 No dia da sua tribulação, estabelecer-se-á a paz sobre a terra; cairão na presença deles e não mais poderão levantar-se. Ninguém então se apresentará para tomá-los pela mão e reerguê-los, porque eles renegaram o Senhor dos Espíritos e o seu Ungido. Louvado seja o Nome do Senhor dos Espíritos!
Capítulo 49
1 Pois a Sabedoria derramou-se como água, e a sua Glória não cessará por toda a eternidade. Pois Ele é poderoso em todos os mistérios da Justiça; e a injustiça desaparecerá como uma sombra e não mais subsistirá. O Eleito está diante do Senhor dos Espíritos, e a sua Glória permanece de eternidade em eternidade e o seu Poder de geração em geração.
2 Nele habita o espírito da Sabedoria, o espírito que dá o entendimento, o espírito da compreensão e da fortaleza; nele se encerra o espírito daqueles que adormeceram na Justiça.
3 Ele porá à luz as coisas ocultas, e diante dele ninguém poderá apresentar uma mentira, pois Ele está diante do Senhor dos Espíritos, escolhido por seu beneplácito.
Capítulo 50
1 Naqueles dias acontecerá uma mudança para os santos e os escolhidos: a luz do dia brilhará perenemente sobre eles, e a honra e a glória voltar-se-ão para os santos.
2 No dia da tribulação, acumular-se-á a desgraça sobre os pecadores, enquanto que os justos triunfarão em nome do Senhor dos Espíritos; e Ele deixará que aqueles presenciem isso, para que façam penitência e renunciem aos atos das suas mãos.
3 Nenhuma honra alcançarão através do Nome do Senhor dos Espíritos, todavia serão salvos pelo seu Nome. E o Senhor dos Espíritos compadecer-se-á deles, pois grande é a sua misericórdia.
4 Ele é justo no seu julgamento, e diante da sua Glória nenhuma iniqüidade subsiste. Aquele, porém, que no seu Julgamento não fizer penitência estará condenado. "Desse momento em diante não mais me compadecerei deles", diz o Senhor dos Espíritos.
Capítulo 51
A ressurreição dos mortos
1 Naqueles dias, a terra devolverá aquilo que não pôde reter, e da mesma forma o mundo inferior dará de volta o que recebeu, e o inferno restituirá a sua culpa. Ele escolherá dentre eles os justos e os santos; pois está próximo o dia da sua libertação.
2 Naqueles dias, o Eleito sentar-se-á sobre o seu trono, e de sua boca emanarão todos os segredos da Sabedoria e do conselho; pois isso lhe é outorgado pelo Senhor dos Espíritos, que também o exalta.
3 Naqueles dias os montes saltarão como cabritos e os outeiros pularão como cordeirinhos saciados de leite, e a face dos Anjos no céu resplenderá de alegria. Pois naqueles dias reinará o Eleito, a terra se alegrará, os justos habitarão sobre ela e os escolhidos sobre ela passearão.
Capítulo 52
1 Depois daqueles dias, do lugar onde me foram dadas todas as visões sobre o que era oculto, fui arrebatado por um torvelinho de vento e transportado para o Ocidente. Lá os meus olhos viram todos os segredos do céu que ainda deverão acontecer; uma montanha de ferro, uma de cobre, uma de prata, uma de ouro, uma de metal doce e uma de chumbo.
2 Perguntei ao Anjo que ia comigo: "Que coisas são essas que eu vi dentro daquilo que ainda está oculto?" Ele me disse: "Tudo o que viste servirá à glória do seu Ungido, para que Ele seja forte e poderoso".
3 E aquele Anjo da paz deu-me em resposta: "Espera um pouco e ser-te-á desvelado todo o segredo que envolve o Senhor dos Espíritos! Aquelas montanhas que os teus olhos viram, a montanha de ferro, a de cobre, a de prata, a de ouro, a de metal doce e a de chumbo, todas elas, diante do Eleito, serão como a cera diante do fogo e como a água que escorre do alto daquelas montanhas; aos seus pés, elas enfraquecerão.
4 "Naqueles dias, ninguém poderá salvar-se, seja pelo ouro, seja pela prata; ninguém poderá escapar. Então não haverá mais ferro para a guerra,nem revestimentos para couraças; o bronze não valerá nada, nem o estanho terá qualquer utilidade ou apreço, e nenhuma procura terá o chumbo.
5 "Todas essas coisas serão aniquiladas e eliminadas da terra, quando aparecer o Eleito do Senhor dos Espíritos."
Capítulo 53
1 Lá os meus olhos viram um vale profundo, com uma garganta aberta, e todos os que habitavam a terra firme, o mar e as ilhas traziam-lhe doações, presentes e sinais de homenagem; todavia, aquele vale não será preenchido por eles. As suas mãos praticam o crime e os pecadores devoram os que foram por eles maldosamente oprimidos. Mas os pecadores serão aniquilados pelo Senhor dos Espíritos e expulsos de sua terra, e estarão perdidos para sempre.
2 Pois eu vi como os Anjos vingadores lá se demoravam, preparando toda sorte de instrumentos de tortura para Satã. Então perguntei ao Anjo da paz que ia comigo: "Para quem preparam eles esses instrumentos?"
3 Ele respondeu-me: "Para os reis e poderosos deste mundo, para que sejam aniquilados. Então o Justo e Eleito fará com que resplandeça de novo a casa da sua comunidade; doravante, ela nunca mais será oprimida, em nome do Senhor dos Espíritos.
4 "Diante da sua Justiça, aquelas montanhas não mais subsistirão como sendo a própria terra; os outeiros, por sua vez, tornar-se-ão como uma fonte de água, e os justos terão então a paz, em face da opressão dos pecadores."
Capítulo 54
1 Eu olhei e voltei-me para outra parte da terra. Lá eu vi um vale profundo, onde havia fogo com labaredas. E eles traziam os reis e os poderosos e arremessavam-nos naquele vale profundo.
2 E os meus olhos viram como eram confeccionadas correntes de ferro imensamente pesadas, como instrumentos de tortura. Então eu perguntei ao Anjo da paz que ia comigo: "Para quem são preparadas essas correntes?"
3 Ele disse-me: "Para as legiões de Azazel, a fim de aprisioná-las e lançá-las no abismo da condenação definitiva. De pedras ásperas serão cobertos os seus queixos, da forma como ordenou o Senhor dos Espíritos.
4 "Miguel, Gabriel, Raphael e Phanuel os agarrarão, naquele grande Dia, e os lançarão na fornalha de fogo ardente, para que o Senhor dos Espíritos promova a sua vingança contra a iniqüidade, por terem eles se submetido a Satã e pervertido os habitantes da terra.
5 "Naqueles dias, instaurar-se-á o castigo do Senhor dos Espíritos, e Ele abrirá todos o reservatórios de água que estão no alto dos céus, e todos os poços que estão debaixo da terra.
6 "Todas as águas misturar-se-ão; a água do alto do céu é a masculina, e a água debaixo da terra é a feminina. E elas aniquilarão todos os habitantes da terra, bem como os que se encontram nos limites do céu.
7 "E estes, após reconhecerem que praticaram a iniqüidade sobre a terra, serão aniquilados por causa dessa mesma iniqüidade."
Capítulo 55
1 Depois disso, o Ancião arrependeu-se e disse: "Em vão eu aniquilarei todos os habitantes da terra".
2 Então ele jurou pelo seu santo Nome: "Doravante nunca mais procederei assim com nenhum dos habitantes da terra; estabelecerei agora um sinal no céu, e este será entre mim e eles uma aliança de fidelidade eterna, pelo tempo em que permanece o céu sobre a terra.
3 "Se eu havia desejado que por aqueles delitos eles fossem postos a ferros pelas mãos dos Anjos, no dia da tribulação e da dor, permanece neste caso a minha ira e o meu castigo em relação a eles", disse Deus, o Senhor dos Espíritos.
4 "O vós, reis poderosos, que habitais a face da terra! Devereis encarar o meu Eleito quando Ele se assentar sobre o trono da glória para julgar Azazel, seus asseclas e todas as suas legiões, em nome do Senhor dos Espíritos."
Capítulo 56
A agressão dos pagãos contra Jerusalém
1 Lá eu vi perambularem as coortes dos Anjos vingadores, que portavam açoites e correntes de ferro e de bronze. Perguntei ao Anjo da paz que ia comigo: "A quem buscam eles com os açoites?"
2 Ele me disse: "Eles buscam seus escolhidos e amados, para atirá-los nas profundezas do vale. Então aquele vale encher-se-á dos seus escolhidos e amados; então os seus dias chegarão ao fim, e daí em diante não estarão mais na conta os dias da sua perversão.
3 "Naqueles dias, os Anjos virão outra vez e voltar-se-ão para o Oriente, para os Medos e Partas; eles provocarão os reis, acometendo-os com um espírito de perturbação e expulsando-Os dos seus tronos, como se fossem leões a sair dos seus covis ou lobos famintos a atacar os rebanhos.
4 "Eles avançarão e pisarão a terra dos seus eleitos, e a terra destes será, na sua presença, como uma eira de trilhar e como uma senda de chão batido. Mas a cidade dos meus justos será um empecilho para os seus cavalos; começarão então os mútuos assassínios e a sua direita levantar-se-á entre eles. Nenhum homem reconhecerá o seu irmão, nem o filho reconhecerá seu pai ou sua mãe, e pelos assassínios serão inumeráveis os seus cadáveres; não será em vão o castigo deles.
5 "Naqueles dias, o mundo inferior abrirá as portas da sua vingança; e eles despencarão por elas, e a sua perdição será definitiva. O mundo inferior engolirá os pecadores na presença dos eleitos."
Capítulo 57
O retorno da Diáspora
1 Após isso vi uma infinidade de carruagens nas quais viajavam homens, e elas moviam-se sobre asas de vento do Oriente e do Ocidente em direção ao sul.
2 Podia-se ouvir o ruído desses carros, e o seu fragor foi percebido pelos Santos do céu, e as pilastras da terra abalaram-se nas suas posições; ouviu-se esse ribombar de um canto do céu ao outro durante todo um dia.
3 Eles todos cairão por terra, e haverão de suplicar ao Senhor dos Espíritos. Este é o fim da segunda alegoria.
Terceira Alegoria
Capítulo 58
Juízo Final do Messias
1 Após isso dei início à terceira alegoria sobre os justos e os escolhidos. Felizes sois vós, ó justos e escolhidos! Pois será gloriosa a vossa sorte.
2 Os justos estarão na luz do sol e os eleitos na luz da vida eterna; os seus dias não terão fim, e sem conta serão os dias dos santos. Eles procuram a luz e encontram a Justiça junto ao Senhor dos Espíritos; os justos terão a paz, em nome do Senhor do mundo.
3 Depois será dito aos santos que procurem no céu os segredos da Justiça e o destino da fé; pois então a terra ficará resplendente como a luz do sol, e as trevas dissipar-se-ão.
4 Haverá uma luz que nunca mais se extinguirá, e os dias não terão fim; primeiro serão eliminadas as trevas, depois o Senhor dos Espíritos estabelecerá a luz; então a luz da retidão brilhará para sempre, na presença do Senhor dos Espíritos.
Capítulo 59
O raio e o trovão
1 Naqueles dias meus olhos viram os segredos dos raios, bem como o segredo das luzes e suas leis; eles relampejam para a bênção ou para a desgraça segundo a vontade do Senhor dos Espíritos.
2 Lá eu vi os segredos do trovão, e como o seu ribombar é ouvido embaixo, depois de ter estalado lá em cima no céu; foi-me permitido também ver os julgamentos que serão realizados sobre a terra, e como eles estão a serviço ou da graça ou da condenação, segundo as ordens do Senhor dos Espíritos.
3 Foram-me depois revelados todos os segredos das luzes e dos raios e a forma como relampejam para abençoar e saciar a terra.
Capítulo 60
O dilúvio
1 Ano quinhentos, no décimo quarto dia do sétimo mês da vida de Enoque. Naquela visão eu vi como o céu ficou fortemente abalado e como as legiões do Altíssimo, os Anjos, mil vezes mil e dez mil vezes dez mil, entraram em grande excitação.
2 E o Ancião assentava-se sobre o trono da sua Glória, tendo ao seu redor os Anjos e os Justos. Então fui acometido de um forte tremor e o medo assaltou-me; meus quadris abateram-se e afrouxaram-se as minhas articulações; e eu caí sobre a minha face.
3 Então Miguel enviou um outro Anjo dentre os Santos e este ergueu-me do chão. Ao ser erguido, voltou-me o alento; eu tinha estado sem condições de suportar a visão daquelas legiões, daquele abalo e tremor dos céus.
4 Então Miguel dirigiu-se a mim: "Qual a visão que tanto te aterroriza? Até hoje perdurou o dia da sua misericórdia, e Ele foi clemente e magnânimo para com os habitantes da terra.
5 "Mas quando se aproximar o dia da força, do Julgamento e do castigo, o Dia preparado pelo Senhor dos Espíritos para aqueles que não reconhecem a Justiça da Lei, mas antes a renegam e abusam do seu santo Nome, então estará preparado esse Dia; e esse Dia será uma dádiva para os escolhidos mas uma desgraça para os pecadores.
6 "Naquele dia serão escolhidos dois monstros: um, feminino, de nome Leviatã, para ser colocado sobre as vertentes de água das profundezas do mar. O monstro masculino, porém,chamado Behemoth, cobrirá com o seu peito um deserto imenso de nome Duidain, ao Oriente do Jardim, onde moram os Eleitos e os Justos e onde foi recebido o teu avô, o sétimo a partir de Adão, o primeiro homem criado pelo Senhor dos Espíritos."
7 Eu roguei àquele outro Anjo que me mostrasse o poder daqueles monstros, como um dia foram separados, sendo um lançado nas profundezas do mar e o outro, nas terras áridas do deserto.
8 Ele falou-me: "O filho do homem! Queres agora saber algo que é secreto".
9 Falou-me então o outro Anjo, aquele que ia comigo e me mostrava as coisas ocultas, as primeiras e as últimas, no alto dos céus e nas profundezas abaixo da terra e nos confins do céu em que se assentam os seus fundamentos, nas câmaras dos ventos, e como esses ventos são distribuídos, como são pesados, como os portões dos ventos são guarnecidos, cada um segundo a força do vento, e sobre o poder da luz da lua e sua exatíssima regularidade, e ainda a divisão das estrelas, segundo os seus nomes, e como eram classificadas todas as subdivisões, e também os estalos dos trovões, segundo os seus lugares, e onde caem igualmente todas as divisões dos raios e seus relampejos e os grupamentos a que obedecem.
10 Pois o trovão tem regras fixas para o tempo estabelecido para o seu ribombar. O trovão e o raio são inseparáveis, e embora não sejam uma coisa só, nem aderentes, ambos caminham juntos através do espírito e não se apartam.
11 Pois quando brilha a luz do raio o trovão emite a sua voz, mas o espírito cobra uma pausa até o ribombar, e assim os divide. O reservatório dos seus golpes é como a areia, e cada um deles ao estalar é contido por um freio, retardado pela força do espírito e em seguida arremessado em frente, em direção às diferentes partes da terra.
12 O espírito do mar é másculo e forte, e pelo poder da sua força segura-o por um freio; depois igualmente é impelido para a frente, espalhando-se por todos os litorais da terra.
13 O espírito da geada é um Anjo especial, e o espírito do granizo é um Anjo bom. O espírito da neve, em virtude da sua força, abandona a sua câmara; por isso há nela um espírito próprio, e o que dela se levanta é como uma vaporação e chama-se frio.
14 O espírito da neblina não está encerrado nas suas câmaras, mas possui uma câmara especial; pois o seu vagar é magnífico, na luz e nas sombras, no inverno e no verão, e na sua câmara existe um Anjo.
15 O espírito do orvalho tem a sua morada nos confins do céu, e esta associa-se às câmaras da chuva. Aparece no inverno e no verão, e suas nuvens juntam-se às nuvens da neblina, uma fortalece a outra.
16 Quando o espírito da chuva quer sair da sua câmara aparecem os Anjos, abrem a câmara e deixam-na sair; e quando ela se derrama sobre toda a terra une-se com as águas terrestres.
17 Pois as águas existem para os habitantes da terra; o Altíssimo no céu destinou-as para os alimentos na terra. Por isso existe uma medida para as chuvas, e ela está sob a guarda dos Anjos. E essas coisas eu havia visto junto ao Jardim dos Justos.
18 E o Anjo da paz que estava comigo falou-me: "Aqueles dois monstros, criados pela grandeza de Deus, deverão ser devorados para que não seja em vão o Julgamento de Deus; e os filhos serão exterminados, juntamente com os seus pais, mães e crianças.
19 Quando o Julgamento do Senhor dos Espíritos recair sobre eles, será executada a sentença para que não ocorra inutilmente o Juízo do Senhor dos Espíritos. Só depois disso acontecerá o Julgamento segundo a sua misericórdia e paciência."
Capítulo 61
1 Naqueles dias, eu vi como foram entregues aos Anjos longas fitas; então eles tomaram asas e voaram na direção do norte. Perguntei ao Anjo: "Por que eles tomaram aquelas fitas e partiram?" Falou-me: "Eles foram realizar medições".
2 E disse-me ainda o Anjo que ia comigo: "Eles levam as medidas dos justos e da honestidade, que permitem a estes conservarem-se permanentemente firmes no Nome do Senhor dos Espíritos.
3 "O Escolhido começará a habitar entre os eleitos, e essa é uma demonstração da dimensão da fé, confirmando a retidão. Essas medidas revelarão tudo o que está oculto no meio da terra, e trarão à luz também aqueles que pereceram no deserto e os que foram devorados pelos peixes do mar e pelos animais selvagens, para que reapareçam e estejam firmes e a postos no dia do Escolhido; pois diante do Senhor dos Espíritos ninguém perece e ninguém pode ser perdido."
4 E todos os habitantes do céu receberam uma só ordem, uma força, uma voz e uma luz que se compara ao fogo. E eles glorificavam-no a uma só voz, louvavam-no e enalteciam-no com sabedoria, mostrando-se sábios na palavra e no espírito da vida.
5 O Senhor dos Espíritos assentou então o Eleito sobre o trono da sua Glória. Ele julgará todas as obras dos Santos no alto do céu, e elas serão pesadas na balança.
6 Quando Ele erguer a sua face para colocar em ordem os seus caminhos ocultos, segundo a força do Nome do Senhor dos Espíritos, e os seus passos segundo a medida do julgamento justo do Senhor dos Espíritos, então todos, a uma só voz, glorificarão, exaltarão e louvarão o Nome do Senhor dos Espíritos.
7 Então Ele chamará toda a coorte celestial, todos os Santos nas alturas e as legiões de Deus, os Querubins, os Serafins e os Orphanins, todos os Anjos da Potestade, todos os Anjos da Dominação, o Eleito e as demais forças existentes sobre a terra e sobre o mar.
8 E, naquele Dia, eles se levantarão a uma só voz, para glorificar, magníficar, bendizer e louvar no espírito da fé, da sabedoria, da paciência, da misericórdia, do direito, da paz e do bem, dizendo todos em uníssono: "Glória a Ele! Seja louvado o Nome do Senhor dos Espíritos por toda a eternidade!"
9 Todos os que no alto dos céus não dormem louva-lo-ão; todos os Santos do céu O glorificam, e assim também fazem todos os escolhidos, que habitam no Jardim da Vida, e todo espírito de luz capaz de glorificar, exaltar, louvar e santificar o teu santo Nome; e toda carne glorificará o teu Nome por causa das tuas medidas, e louva-lo-á eternamente. Pois grande é a misericórdia do Senhor dos Espíritos, e Ele é indulgente. Ele revelou todas as suas obras e todas as suas criações aos justos e aos escolhidos, em nome do Senhor dos Espíritos.
Capítulo 62
1 E assim ordenou o Senhor dos reis, dos poderosos e dos grandes, bem como dos habitantes da terra: "Abri os vossos olhos e levantai vossa cabeça, quando chegardes a reconhecer o Eleito!"
2 O Senhor dos Espíritos assentou-O sobre o trono da sua Glória. E sobre Ele foi derramado o espírito da Justiça; a palavra da sua boca exterminou todos os pecadores, e todos os ímpios foram aniquilados por Ele.
3 Naquele dia erguer-se-ão todos os reis, os poderosos, os grandes e os demais possuidores da terra; verão e reconhecerão que Ele se assenta sobre o trono da sua Glória, que julgará com Justiça e que nenhuma palavra de mentira será pronunciada diante d'Ele.
4 Então sobrevir-lhes-á sofrimento igual ao de uma mulher em dores de difícil parto, quando o filho passa pela abertura matriz, e ela sofre ao dar à luz. Uma parte deles então encarará a outra; assustar-se-ão, baixarão os seus olhos, e serão acometidos de dores quando virem o Filho do Homem assentar-se sobre o trono da sua Glória.
5 Então os reis, os poderosos e os demais senhores da terra haverão de glorificar, louvar e enaltecer Aquele que reina sobre todas as coisas, e que estava oculto. Pois, no princípio, o Filho do Homem estava oculto, e o Altíssimo conservava-O na presença do seu poder; e revelou-O aos escolhidos.
6 Florescerá então a comunidade dos escolhidos e dos santos, e todos os escolhidos, naquele dia, estarão na sua presença. Todos os reis, os poderosos, os grandes e demais senhores da terra cairão sobre a sua face, na sua presença, e suplicarão: irão colocar a sua esperança naquele Filho do Homem, invoca-lo-ão e implorarão sua misericórdia.
7 Todavia, aquele Senhor dos Espíritos os obrigará a se afastarem o mais rapidamente possível da sua presença; o rosto deles cobrir-se-á de vergonha, e sobre eles recairá a escuridão. E Ele os entregará aos Anjos vingadores, porque maltrataram seus filhos e seus escolhidos.
8 Eles proporcionarão um espetáculo para os justos e escolhidos: estes rejubilarão, porque a ira do Senhor dos Espíritos abater-se-á sobre eles, e Sua espada embeber-se-á no seu sangue. Naquele dia, os justos e os escolhidos serão salvos, e não verão nunca mais a face dos pecadores e dos ímpios.
9 O Senhor dos Espíritos habitará então entre eles, e estes comerão com o Filho do Homem, deitar-se-ão e levantar-se-ão por toda a eternidade. Os justos e os escolhidos exaltar-se-ão sobre a terra, e nunca mais haverão de baixar os seus olhos.
10 Serão recobertos com as vestes da glória, que são as vestes da Vida do Senhor dos Espíritos. Vossas vestes não envelhecerão e vossa glória não passará na presença do Senhor dos Espíritos.
Capítulo 63
1 Naqueles dias, os poderosos e os reis, e aqueles que possuem a terra, haverão de suplicar-lhe que lhes seja concedida uma trégua em face dos Anjos vingadores, que foram incumbidos de castigá-los, e implorarão a possibilidade de reconhecerem os seus pecados, na presença do Senhor dos Espíritos.
2 Eles então glorificarão e louvarão o Senhor dos Espíritos, dizendo: "Louvado seja o Senhor dos Espíritos, o Senhor dos reis, o Senhor dos poderosos, o Senhor dos senhores, o Senhor da Glória, o Senhor da Sabedoria, para quem todo o segredo é manifestado. Teu poder permanece de geração em geração e tua glória de eternidade em eternidade. Inumeráveis e profundos são todos os teus segredos, e a tua Justiça é incomensurável.
3 "Vemos agora que é nossa obrigação louvar e bendizer o Senhor dos reis, o Soberano de todos os príncipes." E dirão também: "Quem nos concede um pouco de sossego, para que possamos glorificar, agradecer e louvar, bem como reconhecer a nossa fé diante da sua Majestade?
4 "Agora suspiramos por um pouco de paz e não a encontramos; nós a procuramos com todas as forças e não a alcançamos. A luz desapareceu para nós, e as trevas são a nossa morada perene. Pois nós não confirmamos a nossa fé diante d'Ele, nem glorificamos o Nome do Senhor dos Espíritos, nem louvamos o Senhor nosso. Nossa esperança repousava sobre o nosso cetro real e sobre a nossa celebridade.
5 "No dia da nossa necessidade e tribulação, Ele não nos salva; nenhuma prorrogação nos é concedida, para que possamos reconhecer que o nosso Senhor é verdadeiro em todas as suas obras, ordenações e Justiça, e que seus julgamentos nunca fazem acepção de pessoas. Somos eliminados da sua Face por causa das nossas obras, e todos os nossos pecados estão contados com exatidão."
6 Eles dirão agora entre si: "Nossa alma está farta da Mamona injusta; mas isso já não tem mais nenhum proveito, pois haveremos de descer ao tormento do fogo do inferno!"
7 Depois do que, sua face cobrir-se-á de sombras e de vergonha diante do Filho do Homem; eles serão expulsos da sua presença, e a espada agirá entre eles com fúria, sob seus olhos.
8 Assim falou o Senhor dos Espíritos: "Este é o Julgamento que foi determinado pelo Senhor dos Espíritos sobre os poderosos, sobre os reis, os grandes e os demais senhores da terra".
Capítulo 64
1 Eu vi ainda outras formas que se escondiam naquele lugar. Eu ouvi os Anjos dizerem: "Estes são os Anjos que desceram do céu sobre a terra, que desvelaram coisas secretas aos filhos dos homens, e que os desencaminharam para a prática do pecado".
Capítulo 65
Noé
1 Naqueles dias, Noé viu como a terra afundava e como se aproximava a sua destruição. Então ele partiu daquele lugar e foi até os confins da terra, e chamou pelo seu avô Enoque. Por três vezes ele gritou com voz aflita: "Escuta-me! Escuta-me! Escuta-me!"
2 E assim eu falei a ele: "Explica-me o que está acontecendo com a terra, pois que está tão atingida e abalada! Tenho receio de perecer junto com ela!" Neste momento aconteceu um grande tremor na terra, e uma voz do céu fez-se ouvir, eu caí sobre a minha face.
3 Então apareceu o meu avô Enoque, aproximou-se de mim e falou-me: "Por que clamaste a mim com voz tão amarga e em lágrimas? De junto do Senhor foi emitida uma ordem relativa aos habitantes da terra, e ela significará o seu fim, porque aprenderam dos Anjos todos os segredos e todos os atos violadores dos Satãs, bem como todas as energias ocultas e as forças da magia, e além disso o poder dos esconjuros e as faculdades dos que fundem imagens para toda a terra, e, finalmente, porque aprenderam como se obtém a prata da areia nobre, e como se forma o metal doce sobre a terra.
4 "Pois o chumbo e o estanho não se obtêm da terra, como aquela; eles são produzidos por uma fonte, e dentro da fonte existe um Anjo, que os esfria."
5 Em seguida, o meu avô Enoque tomou-me pela mão, ergueu-me e disse-me: "Vai! Pois eu perguntei ao Senhor dos Espíritos sobre esse tremor da terra. E Ele respondeu-me: `Por causa da sua iniqüidade, foi determinada uma sentença definitiva sobre eles, e esta sentença já não pode mais ser sustada pela minha intermediação. Por causa de todas as feitiçarias que eles desenvolveram e aprofundaram, a terra será aniquilada juntamente com todos os seus habitantes'.
6 "E para estes não haverá mais tempo para o arrependimento;
pois foi-lhes desvelado o que era um segredo, e por isso serão condenados. Mas com respeito a ti, Noé, o Senhor dos Espíritos sabe que és puro e isento de culpas em relação àqueles segredos.
7 "Ele incluiu o teu nome entre os Santos, e haverá de preservar-te dentre os habitantes da terra; predestinou a tua descendência pia para a realeza e para grandes dignidades, e da tua geração nascerá uma vertente de justos e piedosos, para sempre."
Capítulo 66
1 Depois disso, ele mostrou-me os Anjos vingadores que estavam preparados para vir e liberar todas as forças da água subterrânea e espalhá-la sobre todos os habitantes da terra para seu castigo e destruição. O Senhor dos Espíritos deu então a ordem aos Anjos que partiam para que não deixassem escorrer as águas, mas sim retê-las; pois esses Anjos eram os que presidiam às águas. Nessa hora, eu me afastei de Enoque.
Capítulo 67
O castigo dos Anjos
1 Naqueles dias, revelou-se em mim a palavra de Deus, e Ele falou-me: "Noé! Tua sorte chegou à minha presença; será um destino sem mancha, um destino de amor e de retidão. Os Anjos farão agora uma construção de madeira, e quando tiverem aprontado sua obra colocarei minha mão sobre ela e a tomarei sob a minha proteção. Dela sairá uma semente de vida, e a terra se transformará de modo a não ficar vazia de homens.
2 "Eu darei aos teus descendentes uma subsistência perpétua diante de mim e ampliarei o número dos que habitam contigo; não serão infecundos sobre a terra, mas, ao contrário, abençoados, e multiplicar-se-ão sobre ela, em nome do Senhor."
3 E os Anjos que ensinaram a depravação serão por Ele circunscritos naquele vale de fogo, que meu avô me mostrara anteriormente, ao oeste, junto às montanhas de ouro, prata, ferro, metal brando e estanho.
4 Eu vi aquele vale, onde estava crescendo o volume de água e causando inundação. Ao mesmo tempo, o metal derretido e os abalos daquele lugar exalaram um cheiro de enxofre que se aliou àquelas águas, fazendo com que o vale dos Anjos corruptores continuasse a arder debaixo da terra.
5 Por seus desfiladeiros escorrem torrentes de fogo, no mesmo lugar onde serão sentenciados aqueles Anjos que desencaminharam os habitantes da terra. Mas aquelas águas servirão, naqueles dias, aos reis, aos poderosos, aos grandes e aos demais potentados da terra, para curar seus corpos; mas servirão também para o castigo do espírito. Por ser o seu espírito carregado de luxúria, eles são castigados no seu corpo. Pois renegaram o Senhor dos Espíritos; todos os dias viam a sua Justiça, mas não acreditaram no seu Nome.
6 Na mesma proporção em que recrudescerá a queima do seu corpo, ocorrerá uma alteração no seu espírito para sempre; pois a ninguém é permitido pronunciar uma palavra leviana diante do Senhor dos Espíritos. Sobre eles recairá a sentença, porque se deleitaram na volúpia da sua carne e renegaram o Espírito do Senhor.
7 As mesmas águas experimentarão naqueles dias uma alteração. Pois ao serem aqueles Anjos atormentados naquelas águas, a temperatura destas se modificará; e quando os Anjos delas saírem as fontes da água transformar-se-ão e esfriarão.
8 Eu ouvi como Miguel tomou a palavra e disse: "Este julgamento, pelo qual os Anjos são castigados, é um exemplo para os reis, os poderosos e outros senhores da terra. Estas águas da Justiça servem à saúde dos reis e ao prazer dos seus corpos; eles, porém, não querem reconhecer e acreditar que as mesmas águas se transformam e poderão converter-se num fogo eternamente ardente".
Capítulo 68
1 Depois disso, o meu avô Enoque transmitiu-me os ensinamentos de todos os segredos contidos no livro e nas alegorias que lhe foram dados, e ele juntou-os todos para mim nas palavras do livro das alegorias. Naquele dia, Miguel comunicou-se com Raphael nestes termos: "A excitação do espírito me arrebata e faz-me tremer por causa da severidade do Julgamento, dos segredos e do castigo dos Anjos. Quem poderá suportar a gravidade da sentença que será cumprida, sem abalar-se profundamente?"
2 E Miguel continuou dizendo a Raphael: "Qual o coração que não se comove e quais os rins que não estremecem em face da sentença de condenação que sobre eles recaiu, por causa dos que foram por eles pervertidos?" Na presença do Senhor dos Espíritos, Miguel disse ainda a Raphael: "Não posso interceder por eles diante dos olhos do Senhor, pois o Senhor dos Espíritos está irado com eles, porque se comportaram como se fossem o próprio Senhor".
3 Por isso, todo o Oculto se abaterá sobre eles eternamente, embora dele não participem inteiramente nem os Anjos nem os homens; mas eles sozinhos suportarão a sua sentença para sempre.
Capítulo 69
A queda dos Anjos
1 Em conseqüência desse Julgamento, eles serão submetidos à angústia e ao estremecimento por terem desvelado aquelas coisas aos habitantes da terra.
2 Os nomes daqueles Anjos são os seguintes: o primeiro deles é Semjaza, o segundo, Artakifa, o terceiro, Armen, o quarto, Kokabel, o quinto, Turael, o sexto, Rumjal, o sétimo, Danjal, o oitavo, Nekael, o nono, Barakel, o décimo, Azazael, o undécimo, Arrnaros, o duodécimo, Batarjal, o décimo terceiro, Busasejal, o décimo quarto, Hananel, o décimo quinto, Turel, o décimo sexto, Simapesiel, o décimo sétimo, Jetrel, o décimo oitavo, Tumael, o décimo nono, Turel, o vigésimo, Rumael, e o vigésimo primeiro, Azazel.
3 E estes são os chefes dos seus Anjos, e estes os nomes dos prepostos sobre cem, cinqüenta e dez. O nome do primeiro é Jekon; é aquele que seduziu todos os filhos dos Anjos, trazendo-os para a terra e desencaminhando-os por intermédio das filhas dos homens.
4 O segundo chamava-se Asbeel; este deu um mau conselho aos filhos dos Anjos, fazendo com que corrompessem os seus corpos com as filhas dos homens. O terceiro chamava-se Gadreel; este ensinou aos filhos dos homens todos os golpes mortais. Também foi o que seduziu Eva, e que também ensinou aos filhos dos homens os instrumentos para matar, a couraça, o escudo, o montante e, acima de tudo, todas as armas assassinas.
5 Foi por suas mãos que estas passaram a ser usadas pelos habitantes da terra, desde então e por todos os tempos. O quarto chamava-se Penemue; ele ensinou aos filhos dos homens o doce e o amargo, bem como todos os segredos da sua sabedoria.
6 Ele também instruiu os homens na escrita com tinta e sobre papel, e com isso muitos se corromperam, desde os tempos antigos por todas as épocas, até os dias de hoje. Pois os homens não foram criados para fortalecer sua honestidade dessa maneira, por meio de pena e tinta.
7 Os homens foram criados à semelhança dos Anjos; deveriam permanecer honestos e puros, e assim não seriam afetados pela morte que tudo destrói; todavia, por esse conhecimento eles se arruinaram, e pelo poder desse conhecimento destruíram-se mutuamente.
8 O quinto chamava-se Kasdeja; este ensinou aos filhos dos homens toda espécie de sortilégios dos espíritos e dos demônios, bem como os malefícios contra o fruto do ventre materno, para sua expulsão, e os contra a alma, feitiços contra a picada de cobra, contra a insolação e contra o filho da serpente, chamado Tabaet.
9 E esta foi a tarefa de Kasbeel, que desvelara aos Santos o Juramento supremo, quando habitava no alto da Glória e se chamava Bika. Este pedira a Miguel para transmitir-lhe o Nome secreto, a fim de que pudesse ser conhecido e empregado nos juramentos, conquanto aqueles que ensinaram as coisas ocultas aos filhos dos homens tremessem em face desse Nome e desse Juramento.
10 Grande é a força desse Juramento; é forte e poderoso. Ele confiou esse Juramento Atkae às mãos de Miguel. Tais são os segredos daquele Jura-mento: ao ser pronunciado, o céu firmou-se e foi suspenso no seu lugar, antes que fosse criada a terra, por toda a eternidade.
11 Por ele foi assentada a terra sobre as águas, e maravilhosas fontes de água brotaram dos lugares ocultos das montanhas, desde a criação e por toda a eternidade. Por aquele Juramento foi criado o mar, e para seu complemento Ele concedeu-lhe as areias para os períodos da sua fúria; e não tem a permissão de ultrapassá-las, desde a criação do mundo e por toda a eternidade.
12 Por aquele Juramento foram estabelecidos os abismos, e eles permanecem imutáveis no seu lugar, de eternidade em eternidade. Por aquele Juramento o sol e a lua cumprem o seu curso e não se afastam da sua órbita, de eternidade em eternidade. Por aquele Juramento as estrelas obedecem ao seu curso. Ele as chama por seus nomes e elas correspondem-lhe, de eternidade em eternidade, o mesmo acontecendo com os espíritos das águas, dos ventos e dos ares, com os cursos em todas as suas direções.
13 Aqui incluem-se as vozes dos trovões e a luz dos raios, e aqui conservam-se também as câmaras do granizo, da geada, da neblina, da chuva e do orvalho. Todas essas coisas confessam a sua fé e agradecem ao Senhor dos Espíritos; glorificam-na com todo o seu potencial. O seu alimento é o puro reconhecimento; elas agradecem, louvam e exaltam o Nome do Senhor dos Espíritos, de eternidade em eternidade.
14 Esse Juramento é poderoso sobre elas; por ele são conservados os seus caminhos, e o seu curso não é perturbado. Grande alegria reinava entre elas, e bendiziam, louvavam, glorificavam e rejubilavam-se, porque o Nome daquele Filho do Homem lhes foi desvelado.
15 Ele assentou-se sobre o trono da sua Glória; e então foi confiada a Ele, o Filho do Homem, a condução do Julgamento, e fez com que desaparecessem da terra os pecadores e os perversos do mundo. Eles serão postos em grilhões e encerrados no lugar comum da sua destruição; todas as suas obras desaparecerão da terra.
16 De agora em diante, o corruptível deixará de existir, pois aquele Filho do Homem apareceu e assentou-se sobre o trono da sua Glória, e diante da sua face todo o mal se dissipa e desaparece. E a voz daquele Filho do Homem se fará ouvir e será poderosa diante do Senhor dos Espíritos. Esta foi a terceira alegoria de Enoque.
Capítulo 70
Enoque no Paraíso
1 Depois disso, o seu nome, no decurso da sua vida, será elevado àquele Filho do Homem e ao Senhor dos Espíritos e subtraído aos habitantes da terra. Ele foi transportado pelas sendas do Espírito, e o seu nome desapareceu do meio deles.
2 A partir daquele dia não fui mais contado entre eles, e ele depositou-me entre duas regiões celestes, entre o Norte e o Ocidente, onde os Anjos pegaram as suas fitas e mediram para mim o lugar dos eleitos e dos justos. Lá eu vi os Patriarcas e os Justos, que desde os tempos antigos ali habitavam.
Capítulo 71
Enoque com o Filho do Homem
1 Depois o meu espírito foi arrebatado, e subi ao céu. Eu vi os filhos dos santos Anjos caminhando sobre chamas de fogo; suas roupas e vestimentas eram brancas e suas faces cintilavam como a neve. Eu vi duas torrentes ígneas, e a luz do fogo brilhava como um jacinto. Então caí sobre a minha face, diante do Senhor dos Espíritos.
2 Então o Anjo Miguel, um dos Arcanjos, tomou-me pela mão direita, ergueu-me e introduziu-me em todas as coisas ocultas e mostrou-me todos os verdadeiros segredos. Ele mostrou-me todos os segredos dos confins do céu, das estrelas e das câmaras das luminárias, de onde procedem para chegarem na presença do Santo.
3 E ele transportou o meu espírito ao céu dos céus, e lá eu vi um edifício de cristal, e entre os cristais havia línguas de fogo vivo. O meu espírito viu o cinturão que circundava a casa de fogo, e nos seus quatro lados existiam torrentes de fogo vivo, e elas fluíam ao redor daquela casa.
4 Ao redor havia Serafins, Querubins e Orphanins; estes são os que nunca dormem, e que guardam o trono da Sua Glória. Eu vi como inumeráveis Anjos postavam-se ao redor daquela casa, e eles eram mil vezes mil e dez mil vezes dez mil. Miguel, Gabriel, Raphael e Phanuel, bem como os santos Anjos, que estão no alto dos céus, entravam e saíam daquela casa.
5 Nesse momento, saíam daquela casa Miguel, Gabriel, Raphael e Phanuel, acompanhados de número incalculável de santos Anjos. Entre eles vinha o Ancião, e sua cabeça era branca e imaculada como a lã, e suas vestes eram indescritíveis.
6 Então eu caí sobre a minha face; todo o meu corpo estava derreado, e o meu espírito entrou em delírio. Eu gritei em alta voz, com a força do espírito, bendizendo, glorificando e louvando. Esses louvores que procediam da minha boca agradaram ao Ancião.
7 Então o Ancião veio, com Miguel, Gabriel, Phanuel e mil vezes mil e dez mil vezes dez mil Anjos, em número incontável. Ele aproximou-se de mim, saudou-me com a sua voz, e falou-me: "Este é o Filho do Homem, que haverá de nascer para a Justiça. A Justiça habita n'Ele, e a Justiça do Ancião não o abandona".
8 Então Ele falou-me: "Ele saúda-te em nome do mundo que há de vir, pois d'Ele procede a paz desde a criação do universo, e assim será contigo até à eternidade.
9 "Todos os que andam nos seus caminhos — pois a Justiça nunca mais os abandonará terão n'Ele a sua morada e sua herança, e d'Ele nunca mais se afastarão por toda a eternidade. E, assim, encontrar-se-á vida perene junto ao Filho do Homem, e os justos então gozarão paz e caminharão pelas veredas retas, para todo o sempre."


Terceira Parte

O Livro Astronômico: Capítulo 72

O Sol


1 Livro do curso das luminárias celestes, dos relacionamentos de cada uma segundo as suas classificações, do seu domínio e dos seus tempos, segundo o seu nome, lugar de origem e meses, que me foram mostrados pelo seu dirigente e meu acompanhante, o santo Anjo Uriel. Ele mostrou-me também como se comportam em regime constante as suas leis e períodos anuais, até que seja criada a nova ordem que haverá de durar eternamente.
2 A primeira lei das luminárias é a seguinte: a luz do sol levanta-se nas portas do céu do Oriente e desce nas portas do céu do Ocidente. Eu vi seis portões por onde o sol se levanta, e seis por onde se põe; também a luz sobe e desce por aqueles portões, e da mesma forma fazem as estrelas-líderes e as suas lideradas; seis ao Leste e seis ao Oeste, e todas seguem em perfeita ordem umas em relação às outras. A direita e à esquerda daqueles portões há muitas janelas.
3 Primeiro se apresenta a grande luminária, o sol; a sua forma esférica assemelha-se à do céu; ela está preenchida de fogo brilhante e calorífico. Os carros que o levam são conduzidos pelo vento. Ao descer, o sol desaparece do céu e volta ao Oriente pelo Norte, sendo conduzido de tal sorte a chegar àquele portão determinado, para então voltar a brilhar no céu.
4 Dessa forma, no primeiro mês ele sai pelo portão grande; é o quarto dos seis portões do Oriente. Naquele quarto portão, por onde o sol se levanta no primeiro mês, encontram-se doze aberturas de janelas, por onde sai uma chama de fogo, quando a seu tempo forem abertas.
5 Ao levantar-se o sol no céu, ele sai pelo quarto portão durante o período de trinta manhãs e dirige-se diretamente ao quarto portão celeste ocidental, para nele desaparecer. Naqueles dias as jornadas são mais longas e as noites mais curtas, até à trigésima manhã.
6 Nesse dia, a jornada é duas partes mais longa do que a noite, contendo o dia exatamente dez partes, e a noite, oito. O sol, portanto, sobe por aquele quarto portão, e pelo quarto desce; depois disso, ele passa para o quinto portão oriental, pelo período de trinta manhãs; por esse portão se levanta e pelo quinto portão desce.
7 Então o dia fica duas partes mais longo, comportando onze partes; a noite, porém, fica mais curta, comportando sete partes. Após isso, no seu retorno ao Oriente, o sol chega ao sexto portão; por esse sexto portão se levanta e se põe, pelo período de trinta e um dias, por causa do seu sinal (solstício do verão).
8 Naquele dia, a jornada será mais longa do que a noite, e o dia comporta o dobro da noite; ele compõe-se então de doze partes, e a noite fica mais curta, compondo-se de seis partes.
9 O sol então prossegue, fazendo com que o dia seja mais curto e a noite mais longa; quando volta ao Oriente, ele entra no sexto portão, e por ele sobe e desce, pelo período de trinta manhãs. Passadas as trinta manhãs, o dia perde exatamente uma das suas partes, comportando então onze partes, e a noite, sete.
10 Após isso, o sol sai daquele sexto portão do Ocidente, volta ao Oriente e entra pelo quinto portão, pelo período de trinta manhãs, e pelo quinto portão desce no Ocidente. Naquele dia, a jornada perde duas de suas partes; o dia então abrange dez partes e a noite, oito.
11 Assim, o sol sai pelo quinto portão e entra pelo quinto portão ocidental; depois disso ele sai pelo quarto portão pelo período de trinta e um dias, por causa do sinal, e desce no Ocidente. Naquele dia, a jornada é igual à noite; tem a mesma duração, comportando a noite nove partes, e o dia, outro tanto.
12 Assim o sol se levanta daquele portão e desce no Ocidente; depois ele volta ao Oriente, para sair do terceiro portão pelo período de trinta manhãs, descendo no terceiro portão ocidental.
13 Naquele dia, a noite será mais longa do que o dia, sendo mais longa do que as noites usuais, e a jornada mais curta do que as jornadas habituais; e isso até à trigésima manhã, comportando então a noite exatamente dez partes, e o dia, oito.
14 Dessa forma, o sol se levanta do terceiro portão, desce no terceiro ocidental e toma ao Oriente; depois disso, ele passa a aparecer pelo segundo portão oriental, durante trinta manhãs, e desce igualmente no segundo portão celeste ocidental. Nesse dia, a noite terá onze partes, e o dia, sete.
15 Nesse dia, o sol se levanta pelo segundo portão, e no segundo ocidental se põe; depois toma ao Oriente, voltando ao primeiro portão pelo espaço de trinta e um dias, e descendo no primeiro portão ocidental. Nesse dia, a noite será mais longa e comporta o dobro do dia; ela envolve exatamente doze partes, e o dia, seis.
16 O sol terá então completado o seu período principal, e nesse momento inicia o retomo sobre o mesmo período; pelo espaço de trinta manhãs ele aparece por aquele portão e desce igualmente no Ocidente, no que lhe está defronte. Nesse dia, a duração da noite será uma parte mais curta, comportando onze partes, e o dia, sete.
17 O sol, então, no seu retomo, chega ao segundo portão oriental, fazendo o caminho de volta do seu período; por esse portão sobe e desce durante trinta dias. Nesse dia, a noite terá duração mais curta; comportará dez partes, e o dia, oito.
18 Nesse dia o sol aparecerá pelo segundo portão e descerá pelo portão ocidental correspondente. Então volta ao Oriente, para aparecer pelo terceiro portão, pelo espaço de trinta e um dias, descendo no céu ocidental correspondente.
19 Nesse dia, a noite estará diminuída, comportando nove partes; e o dia e a noite terão igual duração. Dessa forma, o ano comporta exatamente 364 dias.
20 O comprimento do dia e da noite, bem como a brevidade do dia e da noite são determinados na sua diferenciação pelo percurso do sol. Por isso, o seu curso diário fica a cada noite mais curto.
21 E esta a lei, e este é o percurso do sol e o seu retomo. Por sessenta vezes ele volta, para de novo aparecer; e ele é o grande luminar, por todos os tempos.
22 Esse que assim surge é o grande luminar, e assim se chama por causa da sua aparência, por determinação do Senhor. Assim como se levanta, assim também desce; ele não diminui nem descansa, mas caminha dia e noite, e a sua luz é sete vezes mais brilhante do que a da lua. Em tamanho, porém, ambos são iguais.
Capítulo 73
A Lua
1 Depois dessa lei, eu vi outra, referente ao luminar pequeno, que é a lua. O alcance do seu giro é equivalente ao do céu; o carro sobre o qual ela anda é conduzido pelo vento e a luz lhe é proporcionada segundo medidas.
2 A cada mês alteram-se seu nascimento e seu ocaso; seus dias são semelhantes ao dias solares, e quando sua lua é uniforme, comporta uma sétima parte da luz do sol.
3 E assim que ela se apresenta: sua primeira fase aparece no Oriente na trigésima manhã; nesse dia ela fica visível, e assim começa para vós a primeira fase da lua, no trigésimo dia, aparecendo juntamente com o sol, pelo mesmo portão.
4 Ela mostra então uma sétima parte de uma das suas metades, e todo o restante do seu disco é vazio e sem luz, à exceção de um sétimo e um quarto de sétimo da metade da sua luz.
5 Quando ela recebe um sétimo da metade da sua luz. então a sua luminosidade comporta um sétimo e a metade de um sétimo. Ela se põe junta-mente com o sol; e quando o sol se levanta, levanta-se também a luz, e recebe a metade de uma das partes da luz. E naquela noite, no início da sua manhã no princípio do seu período, ela põe-se juntamente com o sol, e na mesma noite ela fica invisível nas quatorze partes e metade de uma.
6 Naqueles dias, ela brilha com um sétimo do seu todo, levanta, principia a afastar-se do sol e nos dias restantes deixa brilharem as outras treze partes.
Capítulo 74
1 Então eu vi também um outro movimento e sua lei, pelo qual ela cumpre o seu ciclo mensal. O santo Anjo Uriel, que preside a todas as luminárias, mostrou-me tudo, e eu anotei as suas posições da forma como ele me explicava; anotei também os seus meses, da forma como eram, e as manifestações da sua luz, no decurso de quinze dias.
2 A cada dia dos sete primeiros ela cresce, até tornar-se plena a sua luz; e a cada dia dos sete seguintes ela míngua, até tornar-se completamente invisível no Ocidente. Em determinados meses, ela altera o seu ocaso, e em determinados meses percorre o seu curso próprio.
3 Em dois meses a lua desce com o sol nos dois portões do meio, o terceiro e o quarto. Durante sete dias ela se levanta, para retomar àquele portão em que nasce o sol; a sua luz então estará cheia. Vagarosamente ela retrocede em relação ao sol, e chega no oitavo dia ao sexto portão, por onde se levanta o sol.
4 Quando o sol está nascendo no quarto portão, a lua se levanta por sete dias, até chegar a sair pelo quinto portão; depois, em sete dias, volta ao quarto portão, faz a sua luz cheia, e então ela volta e no decurso de oito dias estará no primeiro portão.
5 Em sete dias estará mais uma vez de volta ao quarto portão, por onde sai o sol. Assim, observei suas posições e a forma como nesses dias a lua nasce e o sol se põe. Juntando-se cinco anos, o sol terá, em virtude daqueles ciclos, uma vantagem de trinta dias. Os dias todos, contados os que se acrescentam aos dias plenos, perfazem 364 dias.
6 A vantagem do sol e das estrelas é de seis dias; em cinco anos, com seis dias cada um, serão trinta dias; em relação ao sol e às estrelas, a lua se atrasa trinta dias.
7 O sol e as estrelas são todos os anos a tal ponto exatos que em nenhum dia se adiantam ou se atrasam nas suas posições; ao contrário, todos eles perfazem o ciclo anual em precisamente 364 dias. Em três anos, serão 1.092 dias; em cinco anos, 1.820 dias e em oito anos, 2.912 dias.
8 Quanto à lua, três anos perfazem 1.062 dias e em cinco anos leva um atraso de cinqüenta dias, isto é, à soma de 1.770 devem ser acrescentados 1.000 mais 62 dias. Pois em oito anos ela se atrasa oitenta dias; são oitenta os dias todos do seu atraso em oito anos.
9 O ano completa-se corretamente segundo as estações do mundo e segundo as estações do sol, as quais têm sua origem nos portões por onde o sol nasce e se põe pelo espaço de trinta dias.
Capítulo 75
Dias bissextos, as estrelas e a lua
1 Os comandantes dos Quiliarcos, que foram estabelecidos sobre toda a criação e sobre todas as estrelas, têm igualmente a ver com os quatro dias bissextos; pela sua função, eles estão intimamente ligados à contagem do ano. Eles exercem a sua influência nos quatro dias que devem ser acrescidos no cômputo do ano.
2 E por causa deles que os homens erram nos cálculos. Eles cumprem a sua função exata nas estações do ano, um no primeiro portão, outro no terceiro, outro no quarto e outro no sexto, e a precisão do ano realiza-se por meio das 364 estações do mundo.
3 Pois o Anjo Uriel mostrou-me os sinais e os tempos, os anos e os dias. Isso foi estabelecido pelo Senhor da Glória, para sempre, sobre todas as luminárias celestes, tanto no céu como no mundo, para que dominem no céu e sejam vistas na terra, e para que presidam o dia e a noite, o sol, a lua e as estrelas, bem como todos os outros corpos subalternos, que em todos os possíveis carros celestes realizam o seu circuito.
4 Uriel mostrou-me igualmente doze aberturas de portas, circundando o carro celeste do sol, e por onde saem os raios solares; delas procede ao calor sobre a terra, quando abertas no seu tempo preestabelecido. Mostrou-me também os ventos e o espírito do orvalho, quando são soltos e se espalham nos confins do céu.
5 No alto do céu, nos extremos do mundo, eu vi doze portões, por onde saem o sol, a lua, as estrelas e todos os outros corpos celestes, tanto no Oriente como no Ocidente. A direita e à esquerda dessas portas há muitas aberturas de janelas; e uma janela produz calor no seu devido tempo, de acordo com as portas por onde saem as estrelas, da forma como Ele ordenou, e por onde, conforme seu número, desaparecem.
6 Eu vi no céu carros que se movimentam por sobre aqueles portões, transportando aquelas estrelas que não desaparecem jamais. E uma delas é maior do que todas as outras, abrangendo o mundo todo.
Capítulo 76
A Rosa dos Ventos
1 Nos confins do mundo, eu vi doze portas que se abriam em todas as direções; delas procedem os ventos que sopram sobre a terra. Três delas abrem-se pelo lado da frente do céu, três para o Ocidente, três para a direita do céu e três para a sua esquerda.
2 As três primeiras voltam-se para o Oriente, três para o Norte, três à esquerda para o Sul e três para o Ocidente. De quatro delas procedem ventos de bênção e de prosperidade e das oito restantes, ventos perniciosos; quando estes são mandados, provocam devastações sobre toda a terra, sobre suas águas e todos os seus habitantes, sobre todas as coisas que se encontram na água e em terra firme.
3 O primeiro vento dessas portas chama-se vento leste e procede da primeira porta oriental que se inclina para o Sul; dele provêm a devastação, a seca, o calor e a destruição. Da segunda porta do meio procede um vento favorável; ele traz a chuva e a fertilidade, o bem-estar e o orvalho. Da terceira porta norte procedem o frio e a secura.
4 Depois, através de três portas, vêm os ventos do Sul; em primeiro lugar, pela primeira porta voltada para o Leste, sopra um vento quente. Através da vizinha porta do meio procedem os bons aromas, o orvalho, a chuva, o bem-estar e a saúde. Da terceira porta, voltada para o Oeste, procedem o orvalho, a chuva, os gafanhotos e a destruição.
5 Depois vêm os ventos do Norte; da sétima porta, voltada para o Leste, chegam o orvalho, a chuva, os gafanhotos e a destruição. Da porta situada exatamente no meio procedem a chuva, o orvalho, a saúde e o bem-estar. Pela terceira porta, voltada para o Oeste, vêm a neblina, a geada, a neve, o orvalho e os gafanhotos.
7 Em seguida vêm os ventos do Oeste; pela primeira porta, voltada para o Norte, chegam o orvalho, a chuva, a geada, o frio, a neve e as friagens. Da porta do meio procedem o orvalho, a chuva, a prosperidade e a bênção; da última porta, voltada para o Sul, vêm a seca, a devastação, os incêndios e a destruição.
8 Estas são as doze portas dos quatro quadrantes celestes; mostrei-te, meu filho Matusalém, todas as suas leis, pragas e benefícios.
Capítulo 77
Os quatro quadrantes celestes
1 A primeira região celeste chama-se Oriente, por ser a da parte frontal. A segunda é o Sul, porque lá descerá o Altíssimo; lá, especialmente, é que se apresenta o eternamente Louvado. O Ocidente designa-se como subtração, pois lá todas as luminárias do céu diminuem e desaparecem.
2 A quarta região chama-se Norte e divide-se em três partes. A primeira serve aos homens como lugar de sua habitação; a segunda.. compreende os mares de água, os vales, as matas, os rios, as sombras e a neblina; a terceira constitui o Jardim da Justiça.
3 Eu vi sete montanhas altas, maiores do que todas as demais da terra; delas procede a geada, e por elas diminuem os dias, os períodos e os anos. Eu vi sete rios, que eram maiores do que os outros da terra; um deles, a partir do Ocidente, derramava as suas águas no grande mar.
4 Dois deles procedem do Norte, em direção ao mar, e derramam suas águas no mar da Eritréia, ao Leste. Os quatro restantes procedem do lado Norte e fluem para o seu mar próprio; dois no mar da Eritréia e dois no grande mar; diz-se também: no Deserto. Eu vi sete ilhas grandes, no mar e na terra firme; duas em terra e cinco no grande mar.
Capítulo 78
As fases da lua
1 Os nomes do sol são os seguintes: o primeiro é Orjares e o segundo, Tomás. A lua tem quatro nomes: o primeiro é Asonja, o segundo Ebla, o terceiro, Benase e o quarto, Erae. Esses são os dois grandes luminares; a sua abrangência equivale à do céu, e o tamanho de ambos é o mesmo.
2 No globo solar existem sete partes de luz; elas superam a luz da lua, que, segundo medida exata, comporta apenas uma sétima parte da luz do sol. Ao descerem, o sol e a lua chegam aos portões do Ocidente, fazem o caminho de volta pelo Norte, para de novo nascerem nos céus pelos portões do Oriente.
3 Quando a lua aparece, apresenta-se no céu com a décima quarta parte da sua luz; mas em quatorze dias será lua cheia. Atribuem-se-lhe também quinze partes, de sorte que a sua luz é plena também no décimo quinto dia, por causa do sinal do ano. Assim, ela assume quinze partes, quando então se toma lua cheia, com um décimo quarto de acréscimo.
4 Ao diminuir, ela perde no primeiro dia a décima quarta parte da sua luz, no segundo, a décima terceira, no terceiro, a duodécima, no quarto, a undécima, no quinto, a décima, no sexto, a nona, no sétimo, a oitava, no oitavo, a sétima, no nono, a sexta, no décimo, a quinta, no undécimo, a quarta, no duodécimo, a terceira, no décimo terceiro, a segunda, no décimo quarto, um décimo de quarto de toda a sua luz, e no décimo quinto desaparece toda a sua luz restante. Em certos meses, a lua tem 29 dias, e uma vez 28 dias.
5 Então Uriel mostrou-me uma lei relativa, referente à lua quando banhada pela luz, e de que parte lhe vem a luz solar. Durante todo o tempo em que a lua cresce em sua luz, ela aumenta, estando por quatorze dias de frente para o sol, até tomar-se plena a sua luminosidade no céu. No primeiro dia ela se chama lua nova, pois nesse dia a luz começa a projetar-se nela.
6 Toma-se lua cheia exatamente no dia em que o sol desce no Ocidente; quando já escuro, ela nasce e brilha durante toda a noite, até que o sol se levante, de frente para ela, e ela é vista de frente para o sol. Pelo lado em que a luz da lua avança, pelo mesmo lado também começa a diminuir, até desaparecer toda a sua luz, ao final de todos os dias do mês, e seu disco se tomar vazio e desprovido de luz.
7 Em três dos seus meses, a lua tem trinta dias e, em época determinada, há três meses de vinte e nove dias, nos quais efetua a sua diminuição no primeiro período, exatamente no primeiro portão, comportando isso 177 dias. No período do seu decréscimo, em três meses brilha trinta dias, e em três meses, 29 dias. De noite, ela aparece por uns vinte dias como um homem; de dia, ela se assemelha ao céu, pois nela não há nada além da sua luz.
Capítulo 79
1 E assim, meu filho Matusalém, eu te mostrei tudo, e a descrição das leis dos corpos celestes chegou ao fim. Ele revelou-me todas as suas leis relativas a cada dia, a cada período de dominação, a cada ano com o seu término, bem como a ordem preestabelecida para cada mês e para cada semana; e a par disso o minguar da lua, que ocorre no sexto portão, pois nesse portão a sua luz é cheia, começando em seguida o seu decréscimo.
2 O declínio, que a seu tempo começa no primeiro portão, tem a duração de 177 dias, calculados em 25 semanas e dois dias. Ela se atrasa em relação ao sol e à ordem das estrelas exatamente cinco dias a cada período, quando bem medido esse espaço, como vês. Essa é a imagem e o retrato de cada um dos corpos luminosos como foi-me mostrado pelo seu dirigente, o Arcanjo Uriel.
Capítulo 80
A influência sobre a natureza
1 Naqueles dias, falou-me o Anjo: "Eu te mostrei tudo, Enoque, e tudo te revelei para que pudesses contemplar esse sol e essa lua, bem como as constelações dirigentes das estrelas do céu, e todas as que as fazem girar, suas funções, seus tempos e seus ocasos.
2 "Nos dias do pecado, os anos ficarão mais curtos; as sementeiras atrasar-se-ão nas terras e nos campos; todas as coisas alterar-se-ão sobre a terra, e não acontecerão mais no seu devido tempo; a chuva desaparecerá e o céu se fechará.
3 "Naqueles dias tardarão os frutos da terra, não se desenvolvendo a seu tempo; igualmente as frutas das árvores sofrerão atraso no seu tempo. A luz alterará a sua ordem, deixando de aparecer com sua regularidade. Naqueles dias, ver-se-á o sol da tarde andando no último grande carro em direção ao Ocidente e brilhando mais forte do que normalmente.
4 "Muitas estrelas-líderes transgredirão a ordem, alterarão os seus cursos e funções, não mais aparecendo no seu tempo predeterminado. Toda a ordem das estrelas será obstruída pelos pecadores, e os pensamentos dos habitantes da terra incorrerão em erro por causa deles; desertarão de todos os seus caminhos; ficarão totalmente perdidos e considerarão os pecadores como deuses.
5 "Recrudescerá a sua desgraça e sobrevirão pragas que a todos haverão de destruir."
Capítulo 81
Fim das viagens de Enoque
1 Ele falou-me: "Observa, Enoque, estas tabelas celestes! Lê o que nelas está escrito e atenta para cada detalhe!" Então eu contemplei as tabelas celestes, observando tudo o que nelas continha; e li o livro sobre as ações dos homens e de todos os filhos da carne que estarão sobre a terra até a última geração.
2 A seguir, louvei o grande Senhor, o Rei Eterno da Glória, por ter Ele criado todas as maravilhas do mundo. Dei glórias também ao Senhor por sua magnanimidade e por causa dos filhos dos homens. Então eu disse: "Feliz o homem que morre na retidão e no bem, e sobre o qual não foi escrito nenhum livro de injustiça, e contra o qual não foi marcado um dia de julgamento".
3 Então aqueles sete Santos tomaram-me e colocaram-me sobre a terra, diante das portas da minha casa, dizendo as seguintes palavras: "Anuncia tudo ao teu filho Matusalém e mostra a todos os teus filhos que diante do Senhor nenhuma carne tem merecimento, pois é Ele o seu Criador!
4 "Deixar-te-emos ficar ainda um ano junto dos teus filhos, até que tenhas transmitido as tuas últimas instruções; deverás ensiná-las aos teus filhos, escrevê-las para eles, para a todos confirmar. No segundo ano serás retirado do seu meio. Que seja forte o teu coração! Pois os bons anunciarão a Justiça aos bons; o justo alegrar-se-á com o justo, e mutuamente felicitar-se-ão.
5 "Os pecadores, porém, ficarão com os pecadores, e os desertores perder-se-ão com os desertores. Aqueles que praticam a Justiça morrerão por causa das obras dos homens e serão levados por causa dos atos dos ímpios. Naqueles dias eles encerrarão suas palavras comigo, e eu chegarei junto do meu povo e louvarei o Senhor do mundo."
Capítulo 82
Fim do Livro Astronômico
1 Portanto, meu filho Matusalém, relatei-te tudo isso e tudo escrevi para teu uso; revelei tudo e passei às tuas mãos os livros contendo todas essas coisas. Meu filho Matusalém! Guarda os livros recebidos do teu pai e transmite-os às gerações do mundo! Eu transmiti a sabedoria a ti e ao teu filho, bem como aos teus demais descendentes, para que eles a transmitam aos seus filhos por todos os tempos; e essa sabedoria supera os seus pensamentos.
2 Mas aqueles que a entendem não dormirão e terão ouvidos atentos para compreender tal sabedoria, e ela será, para os que a desfrutarem, mais deliciosa que todas as iguarias.
3 Felizes são todos os justos; abençoados todos aqueles que andam nas sendas da Justiça e não pecam, como fazem os pecadores em todos os dias da sua vida, enquanto o sol caminha no céu, nasce e se põe nos portões durante trinta dias, com os quiliarcos da ordem estelar, incluídos os quatro dias que se intercalam e que dividem os quatro períodos do ano; esses dias comandam os períodos e integram-nos pelo tempo de quatro dias.
4 E por causa deles que os homens erram ao não incluí-los no cômputo total do ano; sim, os homens enganam-se por causa deles, por não os conhecerem com exatidão. Eles pertencem à contagem do ano e estão fielmente consignados para sempre, um no primeiro portão, outro no terceiro, outro no quarto, e o último, no sexto; assim o ano se completa em 364 dias.
5 O relato acima é fiel, e a conta apresentada é exata, pois Uriel mostrou-me e revelou-me o curso dos astros, os meses, os períodos dominantes, os anos e os dias, pois, segundo me foi dado saber, o Senhor de toda a criação concedeu-lhe o poder sobre as legiões celestes. Ele exerce o comando sobre a noite e sobre o dia, nos céus, para que o sol, a lua e as estrelas, e todas as potências celestes que giram ao seu redor, derramem a sua luz sobre os homens.
6 Essa é a ordenação dos astros que, nos seus devidos lugares, tempos, predomínios e meses descem no Ocidente. Vêm a seguir os nomes dos seus líderes, que velam por eles para que a seu tempo cumpram os seus regulamentos, tempos, meses, períodos de apogeu e estações.
7 Primeiro entram os quatro dirigentes que dividem as quatro estações do ano; em seguida vêm os doze dirigentes que repartem os meses, sendo os quiliarcos responsáveis pela divisão de 360 dias. Os dirigentes das quatro estações são os responsáveis pelos quatro dias bissextos.
8 Os quiliarcos inserem-se entre um dirigente e outro, cada um atrás de uma estação; mas são os seus dirigentes que realizam a divisão. Estes são os nomes dos dirigentes que repartem o ano em quatro períodos: Milkiel, Helemmelek, Melejal e Narel. Os nomes dos que são por eles comandados são: Adnarel, Ijasusael e Elomeel; esses três seguem os taxiarcos, e estes os toparcos, que dividem as quatro estações do ano.
9 No princípio do ano apresenta-se antes de todos Melkejal, e é ele quem assume o comando; ele se chama também Tamaani e Sol; os dias em que ele predomina, e dirige, são ao todo 91. E são os seguintes os sinais do dia que se mostram durante seu predomínio sobre a terra: suor, calor e ânsia. Todas as plantas carregam seus frutos e todas as árvores estão cobertas de folhas; é o tempo da colheita do trigo e do florir das rosas. Todas as flores desabrocham no campo; mas as plantas de inverno fenecem.
10 Os nomes dos seus subordinados são os seguintes: Berkael, Zelebseel e um outro que foi acrescentado aos quiliarcos e se chama Hilujaseph. E assim se encerram os dias de predomínio desses dirigentes. O próximo dirigente, após eles, é Helemmelek, que também se denomina Sol Brilhante e cujo período de esplendor perfaz ao todo 91 dias.
11 Os seus sinais sobre a terra são os seguinte: calor intenso e secura. As plantas amadurecem os seus frutos e deixam-nos cair rapidamente; as ovelhas cruzam e ficam prenhes; todos os frutos da terra são recolhidos, assim como tudo o que cresce nos campos; e também o vinho é guardado. E isso o que acontece nos dias do seu predomínio.
12 Os nomes e a ordem dos dirigentes dos quiliarcos: Gidaijal, Keel e Heel, e o nome do quiliarco que a eles se junta é Asphael. E com isso encerram-se os dias do seu predomínio.


Quarte Parte

O Livro Histórico: capítulo 83

A primeira visão


1 Meu filho Matusalém! Desejo agora revelar-te todas as visões que tive; descrevo-as na tua presença. Duas visões tive antes de tomar esposa, sendo uma diferente da outra. A primeira vez foi quando eu aprendia a escrever; a segunda, antes de casar-me com tua mãe. As imagens que eu vi foram espantosas. Por causa delas, levei minhas súplicas ao Senhor.
2 Havia-me deitado na casa do meu avô Mahalaleel. Então vi em visão que o céu entrava em colapso, desabava e caía sobre a terra. E quando se abateu sobre a terra vi que ela foi engolida por um grande abismo, no qual montanhas caíam sobre montanhas, colinas sobre colinas e árvores altas eram arrancadas e, rodopiando, desabavam nas profundezas.
3 Então minha boca proferiu estas palavras em alta voz: "A terra está destruída!" Nesse momento fui despertado por meu avô, em cuja casa eu estava, e que assim me falou: "Meu filho! Por que gritaste?" Contei-lhe então a visão que havia tido, e ele disse-me: "Meu filho! Tu viste algo espantoso, e o teu sonho é muito importante com relação aos segredos de todos os pecados sobre a terra; esta deverá ser arremessada no abismo e sofrer uma grande ruína.
4 "E agora, meu filho, levanta-te! Suplica ao Senhor da Glória — pois tu és crente — que salve uma parte do que está na terra e não a aniquile por completo! Meu filho! Tudo isso vem do céu e cai sobre a terra, e sobre esta então acontecerá uma grande desgraça."
5 Então eu me ergui, orei e implorei, e dei por escrito a minha oração para as gerações da terra. Agora, meu filho Matusalém, eu desejo revelar-te tudo. Saí ao ar livre. Vi o céu, o nascer do sol no Oriente e o descer da lua no Ocidente, algumas estrelas e a terra toda, e tudo quanto Ele, desde o princípio, havia firmado. Então louvei o Senhor da Justiça e exaltei-o por haver permitido que o sol nasça pela janela do Nascente, se levante pela parte exterior do céu, suba e desça, para depois de novo percorrer o seu caminho preestabelecido.
Capítulo 84
1 Então eu ergui as minhas mãos em justiça e louvei o Santo e Poderoso; eu falava com o sopro da minha boca e com a minha língua carnal, que Deus fez para os filhos da carne humana, a fim de que pudessem falar. Sim, Ele concedeu-lhes o alento, a língua e a boca para que pudessem pronunciar palavras.
2 Louvado sejas Tu, Rei, Senhor, em tua imensa grandeza e poder, soberano de toda a criação celeste, o Rei dos reis, Deus do mundo inteiro! Teu poder permanece por toda a eternidade; e permanecem tua realeza, tua magnificência e teu império por todas as gerações. Todos os céus são para sempre o teu trono; e toda a terra é perpetuamente o escabelo dos teus pés.
3 Tudo foi por Ti criado e tudo governas; nada para Ti é impossível. A Sabedoria jamais se afasta do teu trono, nem se aparta da tua presença. Tudo sabes, tudo vês, tudo ouves. Nada para Ti é oculto, mas tudo é manifestado aos teus olhos.
4 Mas agora os Anjos do teu céu são culpados de um pecado, e a tua ira se estende a toda a carne humana, até o dia do grande Julgamento. Entretanto, Deus, Senhor, grande Rei, eu rogo e suplico, atende ao meu pedido. Permite que descendentes meus ainda permaneçam sobre a terra! Não aniquiles toda a carne humana! Não deixes a terra vazia de homens, numa destruição completa e eterna!
5 "Ouve, meu Senhor! Elimina da terra tão-somente aquela carne que provocou a tua ira! E confirma a carne da Justiça e da retidão, como o germe de uma semente duradoura! Não escondas a tua face, Senhor, diante da súplica do teu servo!
Capítulo 85
Segunda visão: de Adão até o Messias
1 Depois eu tive um outro sonho. Meu filho! Desejo explicar-te completamente esse sonho. Então Enoque principiou e disse ao seu filho Matusalém: Meu filho! Dirijo-te a palavra e digo: Escuta a minha voz e inclina os teus ouvidos para o relato da visão do teu pai!
2 Antes que eu tomasse a tua mãe Edna por esposa, estando deitado no meu leito, eu tive um sonho. Saiu um touro da terra, e ele era branco. Depois dele, saiu uma novilha, e com ela vieram dois touros, um preto e o outro vermelho. O touro preto atacou o vermelho, perseguindo-o pela terra, e por isso não pude mais vê-lo.
3 Aquele touro preto cresceu; então chegou junto dele uma novilha, e eu vi como muitos bezerros procederam dele, pareciam-se com ele e o seguiam. Aquela primeira vaca agora se afastou do primeiro touro, para procurar o touro vermelho; como não o encontrasse, emitia mugidos de dor e continuava a procurá-lo.
4 Eu olhei e vi quando aquele primeiro touro se aproximou dela e acalmou-a; a partir daquele momento ela deixou de mugir. Depois ela pariu um outro touro, branco; e depois dele produziu ainda muitos touros e vacas.
5 E eu vi no meu sonho como aquele touro branco também cresceu, tomando-se grande. Dele procederam muitos touros brancos, parecidos com ele. Eles começaram a produzir muitos touros brancos, semelhantes a eles, um após outro.
Capítulo 86
1 E mais coisas ainda eu vi durante o sono. Caiu do céu uma estrela; depois ela ergueu-se e começou a comer e a pastar entre aqueles novilhos. Depois disso, eu vi como os novilhos grandes e pretos segregaram-se com suas vacas, os seus cercados e pastagens, e começaram a viver entre si.
2 Em seguida, vi ainda outra coisa. Olhei para o céu e vi muitas outras estrelas que caíam junto daquela primeira, e transformavam-se em touros entre aquelas vacas, e com elas pastavam. Enquanto eu observava, vi como todos eles mostravam os seus membros íntimos, como os cavalos, e começavam a cobrir as fêmeas daqueles novilhos, e estas ficaram prenhes e pariram elefantes, camelos e jumentos.
3 E todos os novilhos tinham medo deles e diante deles se aterrorizavam; pois eles começaram a mordê-los, a estraçalhá-los e a agredi-los com as suas presas. Depois começaram a devorar aqueles novilhos. Então todos os filhos da terra passaram a apavorar-se, a tremer e a fugir.
Capítulo 87
1 Vi depois como eles começaram a agredir-se e a destruir-se mutuamente. Então a terra levantou um grande clamor. Depois ergui mais uma vez os olhos para o céu, e na visão observei que de lá desciam seres que eram semelhantes a homens brancos. Um deles vinha na frente e três o seguiam.
2 Esses três que vinham atrás tomaram-me pela mão e arrancaram-me do convívio das gerações humanas, levando-me a um ponto muito elevado, onde me mostraram uma torre que se elevava da terra e diante da qual todas as elevações eram inferiores. Disseram-me: "Fica aqui, para que possas ver tudo o que acontecerá com os elefantes, camelos, asnos, estrelas, novilhos e tudo o mais!"
Capítulo 88
1 Então eu vi como um daqueles quatro que chegaram amarrou as mãos e os pés da primeira estrela que caiu do céu e arremessou-a num abismo; e aquele abismo era estreito e profundo, assustador e tenebroso.
2 Um deles desembainhou sua espada e entregou-a àqueles elefantes, camelos e jumentos; estes então começaram a ferir-se uns aos outros. E por causa deles toda a terra tremia.
Capítulo 89
1 Um daqueles quatro aproximou-se do touro branco e transmitiu-lhe um segredo que fez com que o touro começasse a tremer. Havia nascido como touro, mas agora estava transformado em homem, construíra para si um grande barco e passara a morar nele; também outros três touros moravam com ele no barco, e este foi coberto com um telhado.
2 Então levantei mais uma vez os meus olhos para o céu e vi um grande telhado provido de sete calhas; e essas calhas despejavam grande quantidade de água num pátio. Observei ainda e vi como começaram a brotar vertentes naquele grande pátio, e a água principiou a subir, cobrindo a superfície; vi depois como todo o pátio ficou alagado pela água.
3 As águas, a escuridão e a névoa intensificaram-se. Observando a altura daquela inundação, vi que a água já se elevava por sobre aquele pátio, fazendo-o submergir, e estendia-se sobre a terra. E todos os animais estavam comprimidos naquele pátio, e eu vi como eles foram submersos e engolidos, perecendo naquela água.
4 Mas o barco flutuava sobre as águas, enquanto que os novilhos, os elefantes, os camelos e os jumentos, juntamente com todos os outros animais, foram ao fundo, de sorte que não mais pude vê-los. Não puderam escapar, pois afundaram e desapareceram nas profundezas.
5 Olhando de novo para a visão, vi que aquelas bicas se estancavam; os vales da terra estavam nivelados, mas outros abismos se abriam. As águas então começaram a fluir para aqueles abismos, até que a terra de novo apareceu. Mas o barco estava assentado sobre a terra; e então a escuridão começou a dissipar-se, e voltou a luz.
6 Então o touro branco, que se transformara em homem, saiu do barco, e com ele os três touros que o acompanhavam. Um deles era branco, como o primeiro, outro era vermelho como o sangue e o último era preto; e o primeiro touro branco afastou-se deles.
7 Então estes começaram a produzir animais selvagens e pássaros, e assim muitas espécies apareceram: leões, tigres, cachorros, lobos, hienas, javalis, raposas, coelhos, porcos, gaviões, milhafres, águias, corvos e abutres; entre eles veio ao mundo um touro branco. Começaram então a morder-se entre si. Mas aqueles touro branco, que dentre eles nasceu, gerou um asno selvagem e também um touro branco; e o asno selvagem multiplicou-se.
8 Mas aquele touro branco por ele gerado produziu um porco selvagem preto e um carneiro branco; o porco selvagem gerou muitos porcos, mas o carneiro produziu doze cordeiros. Quando esses cordeiros cresceram, entregaram um deles aos asnos, e esses asnos o entregaram aos lobos; e assim ele cresceu entre os lobos.
9 Então o Senhor permitiu que os doze cordeiros fossem morar junto dele, e que juntamente com ele pastassem no meio dos lobos. E eles cresceram e converteram-se em numerosos rebanhos de ovelhas. Então os lobos começaram a ter medo deles e passaram a oprimi-los, chegando finalmente a matar os seus recém-nascidos. E jogavam os seus filhotes num rio caudaloso. Então aquelas ovelhas principiaram a clamar por causa dos seus filhotes, lamentando-se junto ao seu Senhor.
10 Então um dos cordeiros, que havia sido salvo dos lobos, escapou e refugiou-se entre os asnos selvagens. E eu vi como as ovelhas se lamentavam, ela lamentava e suplicavam ao seu Senhor com todas as suas forças, até que aquele Senhor das ovelhas desceu do alto da sua morada, por causa do seu clamor, e se pôs no meio delas e as apascentou.
11 Então Ele se dirigiu àquele cordeiro que havia escapado dos lobos e falou-lhe a respeito deles, incumbindo-o de exortá-los a que não molestassem as ovelhas. Então o cordeiro, por ordem do Senhor, encaminhou-se para junto dos lobos; e outro cordeiro o acompanhava. Ambos se apresentaram na assembléia daqueles lobos, falaram com eles, exortando-os a que dali em diante não mais molestassem as ovelhas.
12 Eu vi depois que os lobos passaram a oprimir ainda mais as ovelhas, e com toda a violência, e elas gritavam. Aí o Senhor das ovelhas chegou e pos-se a castigar aqueles lobos. Estes então passaram a lamentar-se, enquanto que as ovelhas se acalmavam e cessavam imediatamente seus clamores.
13 Depois eu vi as ovelhas se afastarem de junto dos lobos; estes, porém, tinham os olhos obcecados e moveram-se com toda a rapidez na perseguição das ovelhas. E o Senhor das ovelhas as acompanhava, como seu condutor, e todas elas o seguiam. Sua face era brilhante, merática, mas de aspecto terrível.
14 E os lobos perseguiram as ovelhas até encontrá-las junto a um mar. Então o mar dividiu-se ao meio e as águas ergueram-se de um lado e de outro, diante dos seus olhos. Então o Senhor que conduzia as ovelhas colocou-as entre elas e os lobos.
15 No momento em que os lobos não viram mais as ovelhas, entraram mar a dentro em sua perseguição, correndo no seu encalço. Porém quando viram o Senhor das ovelhas, deram meia-volta, fugindo da sua face. Então o mar fechou-se, voltando à sua forma natural; as águas cresceram e subiram, até cobrirem aqueles lobos.
16 Observei e vi como todos os lobos que perseguiam as ovelhas foram tragados e afundaram. As ovelhas, porém, escaparam das águas e chegaram a um deserto onde não havia nem água nem pastagem. Então começaram a abrir os seus olhos e a ver; e eu percebi como o Senhor das ovelhas as apascentava, provendo para elas água e capim, e como aquele cordeiro ia à frente e as conduzia.
17 Então o cordeiro subiu ao cume do alto monte, e depois o Senhor das ovelhas mandou que voltasse para junto delas. Depois disso, eu vi o Senhor das ovelhas apresentar-se diante delas, e a sua aparência era terrível e majestática; toda as ovelhas o viram e amedrontaram-se diante da sua face.
18 Todas tiveram medo e tremiam diante d'Ele. Então exclamaram junto ao cordeiro que as conduzia: "Não conseguimos resistir à presença do nosso Senhor, nem encará-lo". Então o cordeiro, seu condutor, subiu mais uma vez ao topo do rochedo. As ovelhas, porém, começaram a cegar-se e a afastar-se do caminho que ele lhes mostrara; e o cordeiro não sabia de nada.
19 Então o Senhor das ovelhas irou-se profundamente com elas. Quando o cordeiro percebeu isso desceu do cume do rochedo, chegou junto delas e encontrou-as na sua maioria cegas e renegadas. Diante do seu semblante elas tiveram medo e tremeram, e quiseram voltar aos seus ovis.
20 Então o cordeiro levou consigo outros cordeiros, aproximou-se das ovelhas desertoras e começou a matá-las. Então as ovelhas se amedrontaram e o cordeiro conseguiu trazer de volta as desertoras aos seus apriscos. Observei aquela visão e vi o cordeiro transformar-se em homem e construir uma casa para o Senhor das ovelhas e nela introduzi-las todas.
21 Vi também quando aquele cordeiro que acompanhava o cordeiro líder adormeceu; também vi que todas as ovelhas grandes sucumbiram, e que em seu lugar se levantaram as menores. Chegaram depois a uma pastagem e aproximaram-se de uma torrente de água. A seguir, o cordeiro condutor, que se transformara em homem, separou-se delas e adormeceu. Então todas o procuraram e levantaram um grande clamor.
22 Então eu vi que elas cessaram os seus queixumes por causa do cordeiro e transpuseram a corrente de água. Depois, seguidamente, novos cordeiros líderes passavam a ocupar o lugar dos que haviam adormecido e a conduzi-las. Vi quando as ovelhas entraram numa região boa, numa terra excelente e amável, e como elas pastavam à saciedade, e como nessa terra boa aquela casa permanecia no meio deles.
23 Por vezes os seus olhos mantinham-se vigilantes, outras vezes cegavam-se, até que se levantou um outro cordeiro para dirigi-las e reconduzi-las ao aprisco; então permaneciam abertos os seus olhos. Mas os cachorros, as raposas e os porcos do mato começaram a devorar aquelas ovelhas, até que o Senhor delas chamou do seu meio um outro carneiro, na realidade um bode, para conduzi-las.
24 Esse bode começou a atacar de ambos os lados aqueles cachorros, raposas e porcos, até matar a muitos. Mas então abriram-se os olhos do outro cordeiro, que viu como o bode renegava a sua dignidade entre as ovelhas e começava a agredi-las e a pisá-las, comportando-se desonrosamente.
25 Então o Senhor das ovelhas enviou o cordeiro e estabeleceu-o como carneiro e líder das ovelhas, no lugar daquele bode, porque este se esquecera da sua dignidade. O cordeiro foi procurá-lo e falou com ele a sós; então este erigiu-o em carneiro e constituiu-o líder e condutor das ovelhas; entretanto, os cachorros continuavam a atacar as ovelhas.
26 O bode, porém, perseguia o cordeiro, e este partiu e pos-se a salvo dele; e eu vi como aqueles cachorros levaram o bode à ruína. Então levantou-se o segundo carneiro e conduziu as ovelhas pequenas. E as ovelhas cresceram e se multiplicaram; e todos os cachorros, raposas e porcos selvagens tinham medo e fugiam. Aquele carneiro, porém, atacava e matava todos os animais predadores, e estes não tinham mais poder sobre as ovelhas e não lhes tomavam mais nada.
24 E aquele carneiro criou muitas ovelhas; depois adormeceu. Um pequeno cordeiro passou a ser carneiro em seu lugar, para liderar e conduzir aquelas ovelhas. E a casa era vasta, e foi construída para essas ovelhas; e na casa havia uma torre grande e alta, que foi construída para o Senhor das ovelhas. A casa era baixa, mas a torre alcançava grande altura, e o Senhor das ovelhas pairava sobre ela, e preparava-se para Ele uma mesa farta.
25 Vi depois como aquelas ovelhas de novo se desencaminharam, andaram por muitos caminhos e abandonaram aquela casa. Então o Senhor das ovelhas chamou algumas delas e mandou que fossem ter com as desertoras; mas estas começaram a matá-las. Uma delas salvou-se, evadiu-se e vociferou contra as ovelhas. Estas queriam matá-la, mas o Senhor das ovelhas salvou-a da sanha delas, trouxe-a para junto de mim e deixou-a morar aqui.
26 Ainda muitas outras ovelhas Ele mandou para junto delas, para exortá-las e lamentar-se por elas. Depois eu vi que todas elas se perderam e ficaram cegas, após terem abandonado a casa do Senhor das ovelhas e sua torre. Vi como o Senhor das ovelhas permitiu o derramamento de sangue junto delas e seus rebanhos, quando elas efetivamente provocavam esse derramamento e abandonavam o seu lugar.
27 Então Ele entregou-as aos leões, tigres, lobos, hienas, raposas e todos os animais predadores e esses animais selvagens começaram a estraçalhar aquelas ovelhas. Eu vi que Ele abandonou aquela sua casa e aquela sua torre, e a todas ofereceu aos leões e a todos os animais selvagens para que as rasgassem e devorassem.
28 Então eu comecei a exclamar com todas as minhas forças e a invocar o Senhor das ovelhas, alertando-o sobre elas, pois que estavam sendo dizimadas pelos animais selvagens. Ele, porém, não se moveu, embora tudo visse; ao contrário, alegrava-se que elas fossem dilaceradas, devoradas e rapinadas; abandonou-as à voracidade das feras e à pilhagem.
29 Então Ele chamou setenta pastores e entregou-lhes aquelas ovelhas para que as pastoreassem. Falou a eles e aos seus acompanhantes: "Cada um de vós, doravante, deverá apascentar as ovelhas, e fazer tudo o que eu vos mandar! Vo-las entregarei bem contadas e vos direi quais delas devem ser mortas. A estas havereis de matar!" Em seguida confiou-lhes as ovelhas.
30 Então Ele chamou um outro e disse-lhe: "Fica atento e observa tudo o que os pastores fizerem com essas ovelhas! Pois hão de exterminar um número maior do que eu lhes ordenei. Anota toda morte e toda transgressão que forem perpetradas pelos pastores, quantas ovelhas eliminam segundo a minha ordem e quantas por seu próprio arbítrio; escreve tudo quanto cada um deles em particular extermina!
31 "Relata-me depois tudo, segundo a conta de quantos mataram por iniciativa própria e de quantos levaram à morte, para que eu possa ter isso em mãos como testemunho contra eles e possa assim conhecer todas as suas ações. Então poderei avaliar e ver se eles cumpriram as minhas ordens ou não. Mas eles não devem saber de nada, e tu não comunicarás isso a eles, nem os advertirás. Mas escreve as mortes que cada um executa, no seu tempo, e relata-me tudo!"
32 Então eu vi como cada pastor pastoreava no seu tempo. Eles começaram a eliminar e a matar mais do que lhes fora ordenado, e abandonavam as ovelhas aos leões. E os leões e tigres devoraram a maior parte daquelas ovelhas; com eles comiam também os porcos selvagens. Depois, incendiaram a torre e demoliram a casa.
33 Então eu me entristeci profundamente por causa da torre e porque foi destruída a casa das ovelhas. A partir desse momento, não vi mais aquelas ovelhas entrando na casa. Os pastores e os seus companheiros entregaram todas as ovelhas como pasto aos animais predadores. A cada um, no seu tempo estabelecido, foi entregue um determinado número; e pelo outro foi anotado num livro quantos cada um deles deveria eliminar.
34 E todos eliminaram e mataram mais do que estava escrito. Então comecei a chorar e a lamentar-me por causa daquelas ovelhas. Assim eu vi na visão como aquele escriba anotava um por um todos os que eram mortos por aqueles pastores, dia por dia, e como ele levou e mostrou todo o livro ao Senhor das ovelhas, e como ele revelou tudo o que eles fizeram e todas quantas foram por eles dispersadas, principalmente todas quantas foram por eles levadas ao extermínio.
35 E o livro foi lido na presença do Senhor das ovelhas. Então Ele tomou o livro das suas mãos, leu-o, selou-o e o colocou de parte. Depois eu vi os pastores apascentarem por doze horas. Então três daquelas ovelhas voltaram; chegaram, entraram e começaram a recompor os destroços da casa. Mas os porcos selvagens mantinham-nas afastadas, de sorte que nada podiam fazer.
36 Depois começaram de novo a construir, como antes, e ergueram a torre. Então voltaram a preparar de novo uma mesa na torre; todavia, todo o pão posto sobre ela era contaminado e impuro. Mas apesar de tudo isso, os olhos daquelas ovelhas estavam cegos, assim como estavam cegos os olhos dos pastores, de sorte que nada podiam ver; e foram entregues em grande quantidade aos seus pastores, para serem eliminadas, e estes as pisotearam e aniquilaram.
37 O Senhor das ovelhas permanecia calado até que todas as ovelhas foram espalhadas pelo campo e misturadas aos outros animais; e aqueles pastores não as salvaram da violência dos animais predadores. O escriba do livro transportou-o então para o alto, mostrou-o e leu-o para o Senhor das ovelhas e depois intercedeu por elas, suplicando, ao mesmo tempo em que revelava todos os atos dos pastores e testemunhava contra todos eles diante d'Ele. Então Ele tomou o livro, colocou-o de lado e afastou-se.
Capítulo 90
1 Eu vi como dessa forma pastorearam trinta e cinco pastores, e cada um cumpriu o seu tempo, como seus antecessores; depois outros acolheram, para pastoreá-las a seu tempo, cada pastor no seu período. Então na visão eu vi chegarem todas as aves do céu, águias, gaviões, milhafres e abutres; as águias, que comandavam todos os demais pássaros, começaram a comer ovelhas, arrancando seus olhos e devorando suas carnes.
2 Então as ovelhas gritaram ao verem suas carnes dilaceradas pelos pássaros. Quando eu vi isso, maldisse no meu sonho o pastor que cuidava das ovelhas. Depois eu vi como aquelas ovelhas foram devoradas pelos cachorros, pelas águias e pelos gaviões, que não deixavam nem carne, nem pele, nem tendões, até sobrar apenas o esqueleto; depois caiu ao chão também este, e assim o número de ovelhas se reduzia a cada dia.
3 Em seguida eu vi vinte e três pastores assumirem o pastoreio, cumprindo vinte e três períodos. Depois, daquelas ovelhas brancas nasceram cordeiros, que começaram a abrir os olhos, a ver e a exortar as ovelhas. Mas, apesar de exortadas, as ovelhas não escutaram o que eles lhes diziam, pois estavam surdas além de toda medida e seus olhos estavam absolutamente apagados.
4 Depois observei na visão que corvos sobrevoavam aqueles cordeiros, agarravam-nos, despedaçavam-nos e os engoliam. Vi crescerem chifres nos cordeiros, mas os abutres os abateram. Vi depois um grande chifre crescer em uma daquelas ovelhas; então abriram-se-lhes os olhos.
5 Aquela ovelha olhava pelas demais e exortava-as; quando os carneiros viram isso, acudiram ao seu redor. Não obstante, as águias, os gaviões, os abutres e os milhafres continuavam a dilacerar as ovelhas, voavam livremente sobre elas e as devoravam. As ovelhas no entanto permaneciam inertes; somente os carneiros davam o alarme e clamavam.
6 Então aqueles abutres começaram a agredir aquela ovelha e a lutar com ela, procurando abater seu chifre; mas não o conseguiram. Então eu vi que chegavam os pastores, as águias, os gaviões e os milhafres, e gritavam aos abutres para quebrarem o chifre daquele Carneiro. Então atacaram-no e lutaram com ele; e ele pediu ajuda.
7 Eu vi quando chegou aquele homem que anotara o nome dos pastores para o Senhor das ovelhas; e ele prestou ajuda ao carneiro e mostrou-lhe tudo. Ele havia descido para auxiliá-lo. Então eu vi como o Senhor das ovelhas irou-se com eles; todos os que o viam escapavam, e diante da sua face todos ficavam impotentes.
8 Águias, gaviões, milhafres e abutres juntaram-se, trouxeram consigo todas as ovelhas do campo e tentaram quebrar o chifre do Carneiro. E eu vi como aquele homem que escreveu o livro por ordem do Senhor abriu o livro sobre o extermínio que aqueles últimos doze pastores perpetraram e mostrou ao Senhor das ovelhas que eles haviam matado muito mais do que os seus antecessores.
9 Vi como o Senhor das ovelhas chegou até eles, empunhou o bastão da sua ira e golpeou a terra, e esta fendeu-se. Então todos os animais e os pássaros do céu largaram aquelas ovelhas e desapareceram na terra, que se fechou sobre eles. E vi como foi entregue uma grande espada às ovelhas, que então partiram para atacar todos os animais do campo e matá-los. Aí fugiram delas todos os animais e os pássaros do céu.
10 Eu vi que foi erigido um trono naquela terra adorável, e o Senhor das ovelhas assentou-se sobre ele; e aquele outro homem tomou os livros selados e abriu-os na presença do Senhor das ovelhas. Então o Senhor chamou aqueles sete primeiros de branco e ordenou que trouxessem na sua presença todas aquelas estrelas, cujos membros íntimos pareciam-se com os dos cavalos, a começar pela primeira das estrelas que se afastou do caminho. Todas elas então foram trazidas à sua presença.
11 Então Ele falou com aquele homem que na sua presença escrevia, e que era um dos sete de branco, e disse-lhe: "Agarra esses setenta pastores aos quais entreguei as ovelhas! Eles de fato se encarregaram delas, mas mataram um número muito maior do que eu havia estabelecido". Em verdade, eu vi todos eles sendo acorrentados na sua presença.
12 A visão então concentrou-se antes de tudo sobre as estrelas. Elas foram julgadas e sentenciadas, e por fim encaminhadas ao lugar da condenação: Foram então lançadas num abismo cheio de fogo, labaredas e colunas ardentes. Aqueles setenta pastores foram também julgados, sentenciados e arremessados naquele tremedal de fogo.
13 Eu vi naquele dia abrir-se no meio da terra um outro abismo semelhante ao primeiro, e também cheio de fogo. Foram trazidas então aquelas ovelhas cegas; todas foram julgadas e sentenciadas e lançadas naquele tremedal, e arderam. Esse abismo encontrava-se à direita daquela Casa. Vi queimarem-se aquelas ovelhas até os seus ossos.
14 Então ergui-me para ver a antiga Casa sendo desmontada. Foram recolhidas todas as colunas, juntamente com as vigas e os ornamentos; depois tudo isso foi levado embora e colocado em um lugar ao Sul. Vi em seguida como o Senhor das ovelhas trouxe uma nova Casa, mais ampla e mais alta do que a anterior, colocando-a no lugar daquela primeira que havia sido desmontada. Todas as suas colunas eram novas, e todos os seus ornamentos também eram novos e maiores do que os da primeira velha Casa, que fora recolhida. E todas as ovelhas moraram dentro dela.
15 Depois eu vi como ficaram derreados os animais da terra e os pássaros do céu, que passaram a honrar aquelas ovelhas ainda dispersas, e a elas rogavam e ficavam atentos às suas palavras. Depois disso, aqueles três que estavam vestidos de branco e que anteriormente haviam-me transportado para o alto, tomaram-me pela mão; também o Carneiro pousou a sua mão sobre mim. Assim levaram-me para junto daquelas ovelhas e fizeram-me sentar entre elas, antes do início do Julgamento.
16 Eram brancas todas aquelas ovelhas, e sua lã, abundante e pura. Então chegaram àquela Casa todos os que foram mortos e todos os que estavam dispersos, bem como todos os animais da terra e todos os pássaros do céu, e o Senhor das ovelhas alegrou-se em verdade, porque todos estavam bem e voltavam para sua Casa.
17 Então eu vi como eles depuseram aquela espada que fora entregue às ovelhas, trouxeram-na até sua Casa e lacraram-na na presença do Senhor. As ovelhas todas foram convidadas a entrar naquela Casa, mas esta não comportava todas elas. Todas agora tinham os olhos abertos, de sorte que enxergavam o bem, e entre elas não havia nenhuma que não visse corretamente. Eu vi que aquela casa era grande, espaçosa e bem cheia.
18 Depois disso, eu vi que chegou ao mundo um touro branco. Todos os animais do campo e todos os pássaros do céu temiam-no e a ele dirigiam súplicas o tempo todo. Eu vi que todas as suas gerações se transformaram e se converteram em touros brancos. O primeiro deles foi um novilho, que se tornou um grande touro, ornando-se a sua cabeça de chifres poderosos e pretos. Então alegrou-se o Senhor das ovelhas, alegrando-se também com todos os novilhos.
19 Eu adormeci no meio deles; ao acordar, vi tudo. Foi esta a visão que eu tive durante o sono. Ao despertar, louvei o Senhor da Justiça e entoei-lhe um hino de gratidão.
20 Então rompi num choro alto, e minhas lágrimas não se estancaram até sentir-me exausto. Voltando a considerar a visão, elas tornavam a rolar por causa daquilo que eu vi. Pois tudo isso acontecerá e se cumprirá. Toda a série das ações humanas foram-me reveladas. Naquela noite lembrei-me do meu primeiro sonho. Também por ele chorei e senti-me abalado, tendo sido espectador de tal visão.






Quinta Parte

O Livro Ascético: Capítulo 91

Exortações para a retidão e o apocalipse das dez semanas


1 Agora, meu filho Matusalém, convoca todos os teus irmãos e traze para junto de mim todos os filhos de tua mãe! Pois a Palavra me chama e o Espírito desceu em mim, a fim de que eu possa revelar-vos tudo quanto vos acontecerá por todos os tempos. Com isso, Matusalém afastou-se, chamou todos os seus irmãos e reuniu toda a sua parentela.
2 Então Enoque falou a todos os filhos da justiça: Escutai, ó vós, filhos de Enoque, todas as palavras do vosso pai, e prestai ouvidos à voz da minha boca! Meus bem-amados, eu vos digo e exorto: Amai a retidão e trilhai nos seus caminhos! Não vos acerqueis da honestidade com um coração dividido e não trateis as pessoas com dupla intenção, mas andai na retidão e na Justiça, meus filhos! Ela vos conduzirá por caminhos bons, e será o vosso guia.
3 Pois eu sei que aumenta sobre a terra a violência, e que um grande Julgamento acontecerá sobre ela; que toda injustiça terá um fim, sendo cortada pela raiz, e que todo o seu edifício será abatido. Depois, uma vez mais repetir-se-á a injustiça sobre a terra, e todas as obras da impiedade, da violência e da arrogância chegarão a predominar em dobro.
4 Mas quando em todos os atos aumentarem o pecado, a injustiça, a blasfêmia e a violência, e quando crescerem a apostasia, a prepotência e a contaminação, então sobrevirá na terra um grande castigo do céu, e o Senhor aparecerá com ira e indignação, para realizar o Julgamento da terra. Naqueles dias, a prepotência será extirpada, e serão cortadas as raízes da injustiça e da fraude, sendo então eliminadas da face da terra.
5 Todos os ídolos pagãos serão abandonados e seus templos incendiados; ficarão banidos de toda a terra. Os pagãos serão lançados ao castigo de fogo e estarão para sempre perdidos em virtude da ira e da terrível condenação. Os justos, porém, despertarão do seu sono, e prevalecerá a Sabedoria que lhes será outorgada.
6 De outra parte, serão cortadas as raízes da injustiça, e os pecadores perecerão pela espada. Os blasfemos serão extirpados naquele lugar, e aqueles que concebem a violência e que proferem ofensas morrerão pelo gládio. Depois disso, sobrevirá uma outra semana, a oitava, a semana da Justiça; e ser-lhe-á entregue uma espada para que se cumpra uma sentença justa em relação aos que foram oprimidos, e sejam os pecadores entregues às mãos dos justos.
7 Com o fim deles, os justos herdarão moradas, graças à sua retidão, e será erigida uma grande casa para o Rei excelso na sua Glória, para sempre. Depois, na nona semana, será conhecido o Julgamento justo, e todas as obras dos ímpios desaparecerão da terra; o mundo dos maus será atirado à ruína, e os homens todos haverão de buscar o caminho da retidão.
8 Depois, na décima semana, na parte sétima, realizar-se-á o grande e eterno Julgamento, em que Ele executará o castigo dos Anjos. O céu anterior acabará e se desvanecerá. Então haverá de aparecer um novo céu, e todas as suas potências brilharão ao sétuplo, para sempre. Seguir-se-ão muitas e inumeráveis semanas de bem e de retidão, por toda a eternidade; e o pecado a partir de então nunca mais será mencionado, para todo o sempre.
Capítulo 92
Exortações e advertências
1 Este é o livro escrito por Enoque. Enoque escreveu real-mente esse ensinamento completo da Sabedoria, Sabedoria que é digna do louvor de todos os homens e juíza de toda a terra, para todos os seus filhos que hão de morar neste mundo e para as gerações futuras, obedientes à Justiça e à paz.
2 Não se perturbe vosso espírito por causa dos tempos maus! Pois Aquele que é grande e santo estabeleceu para todas as coisas o seu tempo. O justo levantar-se-á do seu sono; sim, ele ressuscitará e andará nas sendas da Justiça, e todos os seus passos tomarão o caminho do bem e da graça sempiternos.
3 Ele será magnânimo para com o justo, concedendo-lhe honra e poder; viverá o justo no bem e na retidão, e seus passos serão iluminados pela luz eterna. O pecado ficará para sempre sepultado na escuridão, e a partir daquele dia nunca mais aparecerá, por toda a eternidade.
Capítulo 93
1 Depois disso, Enoque começou a falar sobre o que estava contido nos livros. Ele disse: Desejo falar-vos dos filhos da Justiça, dos eleitos do mundo e da planta da retidão e da Verdade; sim, eu, Enoque, anuncio-vos, meus filhos, tudo o que me foi desvelado na visão celeste, tudo o que eu sei por intermédio da palavra do santo Anjo, e tudo o que aprendi das tábuas divinas. Assim Enoque começou a falar dos livros, e disse: Eu fui o sétimo a nascer na primeira semana, quando ainda tardava o Julgamento justo.
    2 Depois de mim, na segunda semana, surgirá grande maldade e grassará a mentira; nessa semana acontecerá o primeiro dos fins, e nele um homem será salvo. Passado esse fim, recrudescerá a injustiça e será escrita uma lei para os pecadores.
3 Depois, no fim da terceira semana, um homem será apontado como a planta do Julgamento justo e a sua descendência constituirá a árvore eterna da Justiça. Depois disso, ao término da quarta semana, serão vistas as faces dos santos e dos justos, e firmar-se-á uma lei para todas as gerações futuras e edificada uma corte para elas.
4 A seguir, no fim da quinta semana, será construída em definitivo a Casa da Glória e da Realeza. Subseqüentemente, na sexta semana, todos os que nela viverem tornar-se-ão cegos, e o coração de todos abandonará impiamente a Sabedoria; mas um homem de entre eles subirá às alturas. No final daquela semana, a Casa da Glória será incendiada e toda a geração da raiz dos eleitos será dispersada.
5 Depois, na sétima semana, levantar-se-á uma raça rebelde. Inúmeros serão os seus atos, mas todos eles atos de apostasia. No fim daquela semana, serão selecionados os justos, extraídos da planta eterna da Justiça para receberem um esclarecimento sétuplo sobre toda a sua criação.
6 Quem dentre todos os filhos dos homens poderia ouvir a voz do Santo sem abalar-se? Quem poderia escrutar os seus pensamentos? Quem teria a capacidade de encarar todas as obras do céu? Como poderia alguém olhar de frente para o céu, ou quem poderia dominar todas as coisas que ele contém, ver uma Alma ou um Espírito e sobre eles dar notícia, ou subir ao alto e contemplar todos os confins, compreendê-los e repeti-los?
7 Quem dentre todos os homens poderia saber a largura e o comprimento da terra e a quem foi revelada a medida de todas essas coisas? Ou ainda, existe alguém que chegou a conhecer a extensão do céu, o quanto alcança a sua altura, sobre o que se apóia, qual o número das estrelas e onde repousam todas as luminárias?
Capítulo 94
1 Agora digo-vos, meus filhos: Amai a Justiça e trilhai seus caminhos! Pois as sendas da Justiça conferem segurança, enquanto que as vias da injustiça são passageiras e desaparecem num instante. Para determinados homens de uma geração serão mostrados os caminhos da violência e da morte; mas eles se manterão afastados deles e não os seguirão.
2 E digo-vos, ó justos: Não andeis pelas sendas do mal nem pelos caminhos da morte! Não vos aproximeis deles, para não perecerdes; buscai e escolhei para vós muito mais a Justiça e uma vida piedosa, e tomai os caminhos da paz, para poderdes lucrar a vida e serdes felizes!
3 Guardai as minhas palavras no fundo do vosso coração e não permitais que dele sejam arrancadas! Pois eu sei que os pecadores tentarão desencaminhar os homens para corromperem a Sabedoria e bani-la do meio deles; e não cessarão as tentações de toda sorte. Ai daqueles que promovem a injustiça e a arrogância, e que colocam a fraude como sua pedra angular! Pois eles serão derrubados num instante e não terão mais paz.
4 Ai daqueles que constroem as suas casas sobre pecados! Pois serão arrancados dos seus fundamentos e perecerão pela espada; e aqueles que se apóiam no ouro e na prata serão instantaneamente reduzidos ao nada no Julgamento. Ai de vós, ricos! Pois confiastes na vossa riqueza e agora deveis separar-vos dos vossos tesouros. Nos dias da vossa abundância não pensastes no Altíssimo.
5 Blasfemastes contra Deus, praticastes a injustiça, e com isso lucrastes o dia do derramamento de sangue, o dia das trevas, o dia do grande castigo. Uma coisa eu vos digo e vos anuncio: Vosso Criador deseja aniquilar-vos. Não haverá nenhum perdão pela vossa queda; ao contrário, o Criador alegra-se com a vossa ruína. Então, naqueles dias, os justos dentre vós farão os peca-dores e ímpios cobrirem-se de vergonha.
Capítulo 95
1 Pudessem ser os meus olhos uma nuvem cheia de água para poder chorar por vós; pudessem ser as minhas lágrimas como uma nuvem carregada a despejar suas águas, para assim serenar a tristeza do meu coração! Quem vos permitiu a prática do ódio e da maldade?
Que vos atinja pois o castigo, ó pecadores!
2 O justos, não vos intimideis diante dos pecadores! Pois o Senhor os entregará uma vez mais nas vossas mãos para que possais castigá-los livremente. Ai de vós que prorrompestes em maldições irrecorríveis! Permaneça longe de vós a Salvação, por obra dos vossos pecados!
3 Ai de vós que praticastes o mal contra o vosso próximo. Ser-vos-á dada a paga segundo vossas obras. Ai de vós, línguas mentirosas, e ai daqueles que se atreveram a praticar a injustiça! Pois num instante chega a desgraça.
4 Ai de vós pecadores! Pois perseguistes os justos. Sereis entregues nas mãos deles e perseguidos por causa das vossa injustiças, e será pesado o seu jugo sobre vós.
Capítulo 96
1 Tende plena confiança, ó justos! Pois os pecadores cairão de repente diante de vós e tereis o total domínio sobre eles. No dia da tribulação dos pecadores, vossos filhos se erguerão e se elevarão como as águias, e vosso ninho será mais alto do que o dos gaviões. Subireis às alturas, descereis aos abismos da terra e penetrareis nas fendas das rochas como coelhos, para todo o sempre, diante dos ímpios; eles então, ao ver-vos, haverão de suspirar e chorar como as sereias.
2 Por isso, não tenhais receio, ó vós todos que padeceis sofrimentos! Pois sereis salvos.
Uma luz clara vos iluminará e escutareis a voz da paz que vem do céu. Ai de vós, pecadores! Vossa riqueza permite-vos a aparência de justos, mas vosso coração vos dá a certeza de que sois pecadores; e isso será uma prova contra vós, ao serem desveladas todas as falsidades.
3 Ai de vós que mastigais a medula do trigo e bebeis vinho em grandes taças, mas que com o vosso poder pisais os humildes. Ai de vós, que podeis beber água de todas as fontes! Num instante sereis aniquilados e desaparecereis, porque desprezastes a Fonte da Vida.
4 Ai de vós, que praticastes a injustiça, a falsidade e a blasfêmia! Haverá uma memória das vossas maldades. Ai de vós, poderosos, que oprimistes os justos com prepotência! Pois não tarda o dia da vossa ruína. Naquele tempo, quando fordes julgados, os justos cobrarão muitos dias felizes.
Capítulo 97
1 Tende confiança, ó justos, que os pecadores serão humilhados e aniquilados no dia da Justiça! Estejais avisados que o Altíssimo pensa na sua ruína, e que os Anjos do céu alegram-se com a sua desgraça!
2 Que quereis fazer, pecadores? Para onde desejais fugir naquele dia do Juízo, quando ouvirdes em voz alta as orações dos justos? Na verdade, acontecer-vos-á como àqueles a quem se aplica esta palavra como testemunho: "Vós fostes cúmplices dos pecadores".
3 Naqueles dias, a oração dos justos chegará ao Senhor, e os dias do vosso julgamento vos colherão de surpresa. Todas as vossas palavras ofensivas serão apresentadas diante do Grande e Santo; então vossa face enrubescerá de vergonha, e Ele condenará todos os atos que se fundaram sobre a injustiça.
4 Ai de vós, pecadores, no meio do mar e em terra firme! Vossa lembrança é repugnante. Ai de vós que acumulastes ouro e prata dizendo: "Ficamos muito ricos e possuímos tudo o que desejamos.
5 "Queremos agora desfrutar o que ambicionávamos, pois amealhamos dinheiro, enchemos nossas tulhas de grãos como água e numerosa é a criadagem das nossas casas."
6 Sim, e como água diluir-se-ão as vossas mentiras; pois não ficareis com a vossa riqueza, mas repentinamente ela vos será subtraída. Porque lucrastes tudo com injustiça, e assim sereis entregues à grande condenação.
Capítulo 98
1 Agora eu juro, ó vós, sábios, ó vós, tolos, que muito ainda havereis de experimentar sobre a terra. Ainda que vós, homens, vos enfeiteis mais do que uma mulher, e mesmo que vos vistais com roupas mais coloridas do que uma donzela, tudo isso será deitado fora como água, apesar da dignidade real, da grandeza e do poder, apesar do ouro, da prata, da púrpura, das honras e das iguarias.
2 Por faltar-lhes o conhecimento e a Sabedoria perecerão com todos os seus tesouros, magnificência e honras, pelo assassinato e no opróbrio, e serão lançados na maior miséria em fornalha ardente. Juro-vos, pecadores: Assim como nenhuma montanha foi ou será um escravo, e assim como nenhuma colina se converterá em escrava de uma mulher, da mesma forma o pecado não foi enviado a esta terra, mas sim foi obra dos homens por si mesmos; e grande condenação atraem sobre si os que o cometem.
3 A esterilidade não foi dada à mulher; mas é por obra das suas mãos que morre sem filhos. Eu vos juro, pecadores, junto ao Grande e Santo, que todas as vossas obras más são conhecidas no céu, e que nenhum dos vossos atos de prepotência fica encoberto ou oculto.
4 Não penseis em vossa mente nem digais em vosso coração que não sabeis nem vedes que cada pecado é anotado diariamente no céu, na presença do Altíssimo. Sabei desde agora que todos os atos de violência por vós praticados serão diariamente escritos, até o dia do vosso julgamento.
5 Ai de vós, tolos! Pois perecereis pela vossa insensatez. Não escutastes os sábios, e assim tereis péssima recompensa. Sabei que sois reservados para o dia da ruína! Não vos iludais, pecadores, de permanecer com vida! Mas havereis de passar e morrer. Não haverá resgate para vós; fostes guardados para o grande dia do Juízo, o dia da tribulação e do grande opróbrio do vosso espírito.
6 Ai de vós, duros de coração, que praticais o mal e sugais o sangue! De onde tendes as boas coisas da comida, bebida e saciedade? Unicamente de todas as coisas boas de que nosso Senhor, o Altíssimo, dotou ricamente a terra. Por isso, não tereis paz.
7 Ai de vós, amantes das obras da injustiça! Pensais que algo de bom vos possa acontecer? Sabei que sereis entregues nas mãos dos justos! Eles cortarão o vosso pescoço e matar-vos-ão sem piedade. Ai de vós que vos divertis com as aflições dos justos! Pois não podereis ter esperança na vida. Ai de vós que escreveis palavras de arrogância e mentira. Eles anotam as vossas mentiras, para que todos saibam que elas tratam impiamente o próximo.
9 Por isso, não tereis paz e morrereis repentinamente.
Capítulo 99
1 Ai daqueles que praticam obras da impiedade, que exaltam e têm em alta conta as palavras da mentira! Serão arrasados e não terão vida boa. Ai daqueles que falsificam as palavras da Verdade, que transgridem a Lei eterna, passando a ser o que não eram antes, isto é, pecadores! Eles deverão ser calcados aos pés sobre a terra.
2 Naqueles dias estejais preparados, ó justos, para trazer à lembrança vossas orações e apresentá-las como testemunho diante dos Anjos, para que estes também lembrem ao Altíssimo os delitos dos pecadores. Naqueles dias de desgraça, os povos entrarão em tumulto e insurgir-se-ão as gerações.
3 Naqueles dias, os necessitados chegarão ao ponto de carregar os seus filhos para abandoná-los em seguida, de sorte que eles morrerão por sua causa. Sim, abandonarão os seus lactentes e não voltarão mais para eles, não tendo mais nenhuma piedade para com os seus queridos.
4 Uma vez mais vos juro, pecadores, que o pecado fica reservado para um dia de interminável derramamento de sangue. Uns venerarão as pedras, outros, imagens feitas de ouro, prata, madeira e argila; outros, ainda, por insensatez, recorrerão a espíritos impuros, demônios e toda sorte de imagens de ídolos. Mas deles não receberão nenhuma ajuda.
5 Tornar-se-ão ímpios pela tolice do seu coração, e seus olhos serão cegados pelas vacilações do seu íntimo e pelas suas alucinações. Por praticarem todas as suas obras no mundo da mentira e invocarem as pedras, tornar-se-ão ímpios e acovardados.
6 Mas naqueles dias serão felizes todos os que conhecem e aceitam as palavras da Sabedoria, que respeitam os caminhos do Altíssimo, que andam nas sendas da sua Justiça e que não pecam junto com os ímpios; pois eles serão salvos.
7 Ai de vós que utilizastes medidas mentirosas e falsas, e ai daqueles que provocam a sanha sobre a terra! Pois todos serão completamente destruídos. Ai de vós que construís as vossas casas com o suor dos outros, e cujos materiais, telhas e pedras são os do pecado! Digo-vos: Não tereis paz.
8 Ai daqueles que desprezaram o equilíbrio e a herança eterna dos seus pais, e cujas almas aderiram aos deuses falsos! Eles não terão paz. Ai daqueles que praticam a injustiça, que praticam a violência e que matam o seu próximo até o dia do grande Julgamento!
9 Pois Ele derrubará a vossa grandeza ao chão, trará a preocupação aos vossos corações, despertará o espírito da sua ira e a vós todos aniquilará com a espada. E todos os justos e santos lembrarão nesse momento os vossos pecados.
Capítulo 100
1 Naqueles dias, os pais serão mortos juntamente com seus filhos num lugar, e os irmãos levar-se-ão mutuamente ao extermínio, até correrem rios do seu sangue. Pois ninguém segurará compassivamente a mão que golpeou seu filho ou seu neto, e nenhum pecador se deterá no assassínio do seu honrado irmão. Um trucidará o outro, da manhã à noite.
2 Então o cavalo atravessará os rios com o sangue do pecado até o peito, e o carro afundará nele até o topo. Naqueles dias descerão os Anjos que se esconderam e reunir-se-ão num lugar todos aqueles que do alto trouxeram o pecado, e o Altíssimo erguer-se-á naquele dia do Juízo para realizar o grande Julgamento dos pecadores.
3 Então, dentre os Anjos santos, Ele estabelecerá guardas sobre todos os justos e santos, para que os protejam como à pupila dos olhos, até que tenha eliminado toda maldade e todo pecado. Mesmo que os justos durmam um longo sono, nada precisam temer. Então os filhos da terra olharão para o sábio e se convencerão; e entenderão todas as palavras deste livro. Reconhecerão que a sua riqueza não poderá salvá-los na hora da sua perdição pelos pecados cometidos.
4 Ai de vós pecadores no dia da grande angústia, vós que castigais e queimais os justos! Sereis castigados pelas vossas obras. Ai de vós, duros de coração, por estardes sempre atentos em conceber o mal! Por isso sereis acometidos de pavor e ninguém vos prestará ajuda.
5 Ai de vós, pecadores! Pois havereis de arder no fogo crepitante, por causa das palavras da vossa boca e por causa das obras das vossas mãos, praticadas na impiedade. Tende certeza de que Ele escrutará os vossos pecados por intermédio dos Anjos do céu, do sol, da lua e das estrelas, porque fizestes acontecer o Julgamento dos justos sobre a terra!
6 Ele então convocará as nuvens, o orvalho e a chuva para testemunharem contra vós. Todos eles serão retidos, para não descerem sobre vós, e assim vos lembrem vossos pecados. Dai então presentes à chuva, para que ela não se retenha e continue a cair sobre vós; presenteai o orvalho, para verdes se ele se esparze após receber de vós ouro e prata!
7 Quando, naqueles dias, vos atacarem a geada e a neve com o seu frio, e as tempestades de neve com suas calamidades, não tereis como resistir-lhes.
Capítulo 101
1 Filhos de Deus! Observai o céu e cada uma das obras do Altíssimo! Temei-O e não façais nenhum mal em sua presença! Se Ele fechar as janelas do céu e suspender o orvalho e a chuva, para que deixem de derramar-se sobre a terra por causa de vossos pecados, que havereis de fazer?
2 Se Ele mandar sua ira sobre vós, por causa das vossas obras, de nada adiantarão as súplicas. Pois proferistes palavras de orgulho e arrogância contra a sua Justiça e por isso não tereis paz. Não vedes como os marujos entram em pânico quando suas embarcações são batidas pelas ondas e sacudidas pelos ventos?
3 Apavoram-se porque levam consigo seus melhores pertences e assim ficam abalados no seu coração, pois o mar poderá tragar seus bens e fazê-los perecer junto com eles.
4 Por acaso o mar inteiro, com todas as suas águas e todos os seus movimentos, não é uma obra do Altíssimo? Não foi Ele quem estabeleceu os limites de todas as suas atividades e que o cercou de areia por todos os lados? A uma ameaça d'Ele, o mar estremece e seca, e morrem todos os seus peixes e tudo o mais que está no seu seio. Mas vós, pecadores da terra, não O temeis.
5 Não foi Ele quem criou o céu, a terra e tudo o que esta contém? Quem foi que deu o entendimento e a Sabedoria a todos aqueles que se movem na terra e no mar? Por acaso os marujos não temem o mar? Os pecadores, no entanto, não temem o Altíssimo.
Capítulo 102
1 Para onde quereis fugir naqueles dias, e como vos salvareis quando Ele lançar sobre vós um fogo devorador? Não havereis de temer e tremer quando Ele trovejar sobre vós a sua Palavra? Todas as luminárias serão sacudidas pelo tremor, e a terra inteira se assustará, estremecerá e será possuída pelo pavor.
2 Todos os Anjos então cumprirão as suas ordens, procurando desviar-se do semblante da grande Majestade. Os filhos da terra tremerão e se apavorarão; vós, porém, pecadores, sereis malditos para sempre e não tereis paz. Mas vós, almas dos justos, não temais! Tende esperança, vós todos que morrestes na Justiça!
3 Não vos lamenteis por ter a vossa alma descido na tristeza ao mundo inferior e por não ter o vosso corpo, em vida, recebido o correspondente da vossa virtude! Aguardai tão-somente o dia do Julgamento dos pecadores, o Dia da condenação e do castigo! Os pecadores assim dizem de vós, quando morreis: "Da mesma forma que morremos, morrem também os justos. De que valem as suas obras?
4 "Na verdade, assim como nós, também eles morrem na tristeza e na escuridão. Qual a vantagem deles sobre nós? Nesse aspecto somos iguais a eles. Que receberão eles e o que verão na eternidade? Na realidade, eles morreram, e a partir desse momento, e para toda a eternidade, não vêem mais luz alguma."
5 Digo-vos, pecadores: Vós vos regozijais ao comer e beber, ao roubar e pecar, ao deixar os homens nus, ao herdar riquezas e ao desfrutar dias esplêndidos. Vistes como foi o fim dos justos, e como nenhum delito foi encontrado neles até o dia da sua morte?
   6 Eles pereceram, e passam a ser como se nunca tivessem existido, e seus espíritos, na tristeza, desceram ao mundo inferior.
Capítulo 103
1 Agora, ó justos, eu vos juro diante da Majestade d' Aquele que é o Grande e Excelso, e poderoso na sua Realeza; juro-vos diante da sua Magnificência: Eu conheço um segredo. Eu li as tábuas divinas e os livros santos; neles eu vi escrito e assinalado;
2 todo o bem, toda a alegria e honra estão preparados e consignados para os espíritos daqueles que morreram na Justiça. Toda sorte de bem vos será concedida em recompensa pelo vosso esforço, e o vosso destino será melhor do que o dos vivos. O espírito daqueles que dentre vós morrerem na Justiça, viverá, alegrar-se-á e será bem-aventurado; as almas não perecerão nem se apagará a sua lembrança da face do Excelso, por todas as gerações do mundo. Por isso, deixai de vos preocupar com as humilhações sofridas!
3 Ai de vós, pecadores, ao morrerdes na plenitude dos vossos pecados, enquanto os vossos cúmplices dizem: "Felizes são os pecadores; viveram bem todos os dias da sua vida. Morreram na felicidade e na riqueza; não conheceram na sua vida nem aflição nem derramamento de sangue; morreram honrados, e nenhum julgamento aconteceu contra eles ao longo da sua vida".
4 Então não sabeis que as suas almas foram mandadas ao mundo inferior para, então, serem presas de grande aflição? O vosso espírito será entregue às trevas, aos grilhões e às chamas do fogo, no dia em que se verificar o grande Julgamento. Ai de vós! Não conhecereis a paz.
5 Não deixeis que os justos e bons, que passaram desta vida, digam as seguintes palavras: "Nos dias da nossa vida esfalfamo-nos e suportamos muitas fadigas; fomos acometidos de muitos males, extenuamo-nos, reduzimo-nos a poucos e enfraqueceu-se o nosso espírito. Fomos desprezados e não encontramos ninguém que nos apoiasse ao menos com uma palavra. Fomos perseguidos e aniquilados, e já não desejávamos mais ver a vida no decorrer dos dias.
6 "Esperávamos ser a cabeça, mas na realidade passamos a ser a cauda; exaurimo-nos de tanto esforço mas não recebemos a paga da nossa fadiga. Passamos a ser comida dos pecadores e ímpios, e estes colocaram sobre nós o seu jugo pesado. Os que nos odiavam e nos fustigavam assumiram o domínio sobre nós; curávamos nossa cabeça, mas eles não tinham nenhuma compaixão para conosco.
7 "Procurávamos deles fugir, para pôr-nos em segurança e obter um pouco de paz. Mas não encontrávamos sequer um lugar onde pudéssemos nos refugiar e, assim, livrarmo-nos deles. Em nossa aflição, queixávamo-nos junto às pessoas e reclamávamos daqueles que nos supliciavam; eles, porém, não davam atenção aos nossos clamores e nem ao menos queriam escutar a nossa voz.
8 "Em vez disso, davam apoio àqueles que nos roubavam, engoliam e menosprezavam; dissimulavam sua prepotência e não nos retiravam o jugo imposto por aqueles que nos sugavam, dispersavam e matavam. Acobertavam seus atos de homicídio e não hesitavam ao levantar suas mãos contra nós."
Capítulo 104
1 Juro-vos, ó justos, que no céu os Anjos da divina Majestade lembram-se de vós com benevolência. Vossos nomes estão inscritos junto à Glória do Altíssimo. Tende confiança! Anteriormente fostes abandonados ao opróbrio, à desgraça e às privações; mas agora havereis de luzir como as luminárias do céu. Brilhareis e sereis vistos, e as portas do céu estarão abertas para vós.
2 Pedi simplesmente o Julgamento, e este virá; pois as vossas tribulações serão convertidas no castigo dos chefes e de todos os ajudantes dos vossos rapinadores. Aguardai e não desisti da vossa esperança! Pois sereis contemplados com uma grande alegria, como os Anjos do céu.
3 Que deveis fazer? Não necessitareis esconder-vos no grande dia do Juízo, pois não vos crerão pecadores; o Julgamento eterno ficará longe de vós por todas as gerações do mundo. Não vos descorçoeis, ó justos, se virdes fortalecerem-se os pecadores na alegria dos seus procedimentos! Guardai-vos de ser seus pares e mantende-vos afastados das suas atitudes arrogantes! Devereis muito mais ser companheiros das coortes celestes.
4 Pecadores, embora digais que nenhum dos vossos pecados será conhecido e anotado, na realidade Eles escrevem todos os vossos delitos, diariamente. Digo-vos agora que a luz e as trevas, o dia e a noite vêem os vossos pecados.
5 Abandonai a impiedade do vosso coração! Não mintais! Não deturpeis as palavras da Verdade, não desvirtueis com mentiras as palavras do Santo e Altíssimo! Afastai-vos da adoração dos vossos ídolos! Pois todas as vossas falsidades e apostasias não conduzem de forma alguma à retidão, mas sim a um grande pecado. Conheço também o segredo de que muitos pecadores modificam e distorcem de várias formas as palavras da Verdade, intercalam dizeres corruptos e mentirosos, introduzem grandes falácias e escrevem livros sobre os seus próprios pensamentos.
6 Porém, se nas suas línguas traduzirem corretamente todas as minhas palavras, se nada alterarem e nada omitirem nos meus dizeres, e se tudo transcreverem conforme é justo, isto é, tudo quanto anteriormente sobre eles testemunhei, então posso revelar-vos outra coisa que é do meu conhecimento: os livros serão entregues aos justos e aos sábios, aos quais proporcionarão muito contentamento, por causa da honestidade e da sabedoria.
7 Quando lhes forem transmitidos os livros, acreditarão neles e alegrar-se-ão com eles; e todos os justos que neles descobrirem os muitos caminhos da retidão terão a sua recompensa.
Capítulo 105
1 "Naqueles dias," diz o Senhor, "devereis convocar os filhos da terra e testemunhar-lhes a sua sabedoria. Mostrai-lhe! Pois sereis para eles como os seus guias e como um galardão para toda a terra.
2 Pois eu e meu filho estaremos para sempre junto deles, ao longo da sua vida, nos caminhos da Verdade. Vós tereis a paz. Alegrai-vos, ó filhos da Verdade! Amém!


Final do Livro

Prodígio do nascimento de Noé

Capítulo 108
1 Depois de alguns dias, meu filho Matusalém escolheu uma mulher para seu filho Lamech; ela engravidou e deu à luz um menino. O seu corpo era branco como a neve e vermelho como uma rosa, os cabelos da sua cabeça eram como a lã e os seus olhos como os raios do sol. Quando abriu os olhos encheu a casa de luz como o sol, e toda ela ficou muito iluminada.
2 Nesse momento, ainda nas mãos da parteira, ele ergueu-se, abriu a boca e falou com o Senhor da Justiça. Então seu pai, Lamech, teve medo e fugiu. Foi para junto do seu pai, Matusalém.
3 E falou-lhe: "Tenho um filho prodigioso; não se parece com uma pessoa humana mas sim com os filhos do Deus do céu, pois a sua natureza é diferente. Ele não é como nós; seus olhos assemelham-se aos raios do sol e seu semblante revela majestade.
4 "Tenho a impressão de que ele não descende de mim e pressinto que nos seus dias." acontecerá um fenômeno sobre a terra. Meu pai, estou agora aqui para rogar-te encarecidamente que procures o nosso pai Enoque, para saber dele toda a verdade, pois ele habita junto com os Anjos."
5 Depois que Matusalém escutou as palavras do seu filho, veio ter comigo nos confins do mundo, pois tinha conhecimento de que me encontrava aqui. Ele me chamou em alta voz e eu ouvi a sua voz. Cheguei então junto dele e falei-lhe: "Meu filho, aqui estou. Por que vieste a mim?"
6 Ele respondeu: "Eu te procurei por causa de algo que me perturba; um fenômeno inquietador. Escuta, pois, meu pai! Nasceu um filho ao meu filho Lamech, mas a sua forma e a sua natureza não se parecem com as de um homem. A cor do seu corpo é mais branca do que a neve e mais corada do que a rosa, os cabelos da sua cabeça são mais alvos do que a lã branca e seus olhos são como os raios do sol. Quando abre os olhos eles iluminam toda a casa.
7 "Ele ergueu-se entre as mãos da sua parteira, abriu a boca e louvou o Senhor do céu. Mas seu pai, Lamech, teve medo e fugiu para junto de mim; não acreditava que fosse seu filho, mas sim uma reprodução dos Anjos do céu. Assim, eu vim ter contigo para saber de ti a verdade."
8 Então eu, Enoque, respondi e falei-lhe: O Senhor deseja criar algo de novo sobre a terra. Eu já tinha visto isso numa visão, e sobre ela já te falei, a saber, que no tempo do meu pai Jared alguns dos Anjos do céu transgrediram o Mandamento do Senhor. Sim, eles cometeram um pecado e desobedeceram à Lei. Misturaram-se com mulheres e pecaram com elas; casaram-se com algumas delas e geraram filhos.
9 Virá agora uma grande destruição sobre toda a terra; acontecerá um dilúvio e imensa ruína por todo um ano. Esse filho que vos nasceu será resguardado sobre a terra, e com ele salvar-se-ão os seus três filhos. Enquanto todos os demais homens morrerão, ele e seus filhos serão postos a salvo. Aqueles haviam gerado gigantes sobre a terra, não segundo o espírito, mas sim segundo a carne. Assim, um grande castigo recairá sobre a terra, e esta será então expurgada de toda a imundície.
10 Dize, porém, ao teu filho Lamech que o recém-nascido é realmente seu filho! E ele lhe dê o nome de Noé! Pois ele restará, e com os seus filhos se salvará da destruição que acontecerá sobre a terra inteira, por causa de todos os pecados e de toda a impiedade praticada nos seus dias na terra.
11 Em tempos posteriores, a apostasia será ainda maior do que aquela primeira que foi cometida sobre a terra. Pois eu conheço os segredos dos Santos. O Senhor revelou-os para mim; eu os li nas tábuas divinas.
Capítulo 107
1 Nelas eu vi escrito que gerações após gerações haveriam de pecar, até o aparecimento de uma geração de Justiça, quando então serão supressos os delitos, desaparecerão os pecados, e ela será alvo de todo o bem.
2 Agora, meu filho, anuncia ao teu filho Lamech que esse recém nascido é na verdade seu filho, e que isso não é mentira!
3 Depois que Matusalém escutou as palavras do seu pai — este revelara-lhe todos os segredos — voltou e transmitiu tudo a Lamech. Este deu ao filho o nome de Noé, "pois ele haverá de ser o consolo da terra, depois de toda a destruição".
Capítulo 108
Últimas palavras de Enoque
1 Outro livro foi escrito por Enoque para seu filho Matusalém, bem como para os que virão depois dele, e que nos tempos últimos permanecerão fiéis seguidores da Lei. Vós que praticastes o bem deveis esperar por aqueles dias, quando serão aniquilados os malfeitores e quando o império da ofensa terá o seu fim.
2 Aguardai tão-somente; virá o tempo do completo desaparecimento do pecado! Os nomes dos pecadores serão apagados do Livro da Vida e dos livros santos, ficando seus descendentes para sempre eliminados. Seus espíritos serão derribados por terra. Gritarão e imprecarão num lugar imenso e deserto, ardendo no fogo; e isso não terá fim.
3 Lá eu vi algo parecido com uma nuvem imensa. Por causa do seu volume não pude abrangê-la com os olhos. Vi também um fogo de labaredas claras e algo que se assemelhava a montanhas ardentes, que se moviam de cá para lá, em círculo. Então eu perguntei a um dos santos Anjos que estavam comigo: "Que é essa coisa que arde? Não é um dos fogos do céu, mas apenas uma chama que brilha, e nela se descobrem gritos, choros, lamentações lancinantes e grandes sofrimentos".
4 Então ele disse-me: "Neste lugar que estás vendo serão trazidos os espíritos dos pecadores, bem como os dos blasfemos e dos que falsificam tudo o que o Senhor, pela boca dos profetas, anunciou sobre o futuro.
5 "Pois cada coisa que eles fazem está escrita e assinalada no alto do céu, para que os Anjos as leiam, e saibam o destino dos pecadores; conheçam o destino dos humildes, isto é, dos que mortificaram o seu corpo e que por isso foram gratificados por Deus, dos que foram injuriados pelos homens maus, dos que amaram a Deus e desprezaram o ouro, a prata e qualquer bem terrestre, mas que entregaram o corpo ao massacre; dos que, durante a vida, nunca tiveram desejos de iguarias mundanas, mas consideraram todas as coisas como um sopro passageiro, e segundo isso viveram. O Senhor provou-os de muitas maneiras, mas seus espíritos foram achados puros, de tal sorte que seus nomes puderam ser enaltecidos.
6 "Eu descrevi nos livros todas as recompensas que foram reservadas para eles. Ele determinou-lhes um prêmio por terem sido considerados como homens que amavam mais o céu do que a sua vida sobre a terra, e que o louvavam enquanto eram pisoteados pelos homens maus, suportavam ofensas, humilhações e insultos.
7 "Mas agora eu chamo a mim os espíritos dos bons, dos que pertencem à geração da luz; transfiguro os que nasceram nas sombras, os que na sua carne não receberam a recompensa de acordo com a sua fidelidade.
8 "Eu desejo introduzir na plenitude da luz aqueles que amaram o meu santo Nome, e colocarei cada um no seu trono de honra. Eles haverão de resplandecer por tempos intermináveis, pois a retidão é conforme à Justiça divina. Ele recompensa os que permaneceram fiéis nos caminhos da honestidade.
9 "Eles haverão de constatar que aqueles que nasceram nas trevas, nas trevas serão lançados, enquanto que os justos hão de resplandecer. Os peca-dores levantarão altos gritos ao verem aqueles no esplendor, enquanto eles mesmos devem partir para os dias e os tempos que lhes foram reservados."

2 comentários:

  1. esse nãoeomesmo livro de Enoque que tem o audio noyoutube?

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  2. Eu resolvi ler esse livro devido a discursao de Gênesis 6
    Sobre os filhos de Deus e as filhas dos homens, e Judas irmão de Jesus no V.6 da sua carta sita Henoque, livro considerado apócrifo, tirado da Bíblia considerada pelos evangélicos,sendo Henrique um homem que andou com Deus ao ponto de ser levado com ele, me interessei no assunto e gostei do livro.

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